terça-feira, 21 de outubro de 2014

Os primeiros “artistas” da Humanidade eram do sexo feminino

Lascaux_painting

Li nessa semana uma notícia bastante interessante divulgada no jornal suíço Tribune de Genève, da cidade de mesmo nome, em português, Genebra. A notícia conta aos leitores que segundo o Dean Snow da University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, três quartos das primeiras pinturas conhecidas feitas por mãos humanas foram na verdade criadas por mulheres. Até então, acreditava-se que grande parte dessas imagens tenham sido criadas por caçadores que representavam suas presas, não somente de maneira narrativa, mas também mágica, para de certa forma, facilitar sua captura.
Pintura no sítio arqueológico de Lascaux
Em seu artigo publicado na American Antiquity, o estudioso apresentou sua conclusão, baseada em dez anos de estudo das impressões de mãos pré-históricas, nos quais analisou o comprimento e o espaçamento entre os dedos, usando um algoritmo criado por ele, que tem 60% de acerto. O pesquisador estudou principalmente as pinturas conservadas nos sítios arqueológicos de Lascaux (França) e Altamira (Espanha), dois dos mais conhecidos desse período.
Pintura no sítio arqueológico de Altamira
Apesar de o percentual de erro de seu algoritmo ser razoavelmente grande e nem todos os seus pares concordarem com sua teoria, é possível que esta tenha um bom fundo de verdade. Ao menos, me parece plausível. Em questão de tempos tão imemoriais quanto à pré-história, as convicções são em grande parte construídas sobre hipóteses e consenso geral de estudiosos do assunto.
A importância dessa notícia seria, em minha opinião, principalmente colocar em questão o lugar da mulher na história da arte. Diga-me, caro leitor, quando você vê uma pintura rupestre, lê ou até mesmo escuta algo na televisão sobre o assunto, você pensa primeiramente em um homem criando essas imagens nas paredes, certo? O mesmo vale para obras de épocas posteriores. Talvez porque se fale, sobretudo, de modo geral, os “homens das cavernas” e “o artista”, então, é claro que a noção de artesão, artista ou pintor, principalmente referindo-se as épocas passadas, faz a maioria das pessoas pensar em criadores do sexo masculino. Entretanto, é importante esclarecer que em diversos períodos da História da Humanidade as mulheres tiveram um papel mais importante do que aquele colocado em evidência pela História e pela História da arte, seja de maneira mais discreta ou de maneira bastante direta e evidenciada, como foi o caso da caravagista italiana Artemisia Gentileschi que desenvolveu uma verdadeira carreira artística em pleno século XVII, retratando heroínas bíblicas e mitológicas.
Judite decapitando Holofernes por Artemisia Gentileschi
Felizmente, em tempos nos quais as mulheres são cada vez mais donas de suas próprias existências, o seu lugar História e o estudo de seus feitos tem se tornado cada vez mais frequentes. Além da descoberta citada no jornal de Genebra, também gostaria de mencionar outros dois exemplos de valorização do trabalho de mulheres na História: as obras de Tamara de Lempicka no Musée d’art moderne de la ville de Paris, junto a outros mestres modernos, tais como Picasso e Delaunay, e a exposição temporária da mesma artista na Pinacoteca de Paris (Tamara de Lempicka, la reine de l’Art déco – Tamara de Lempicka, a rainha da Art déco) em 2013, além daquela da já citada Artemisia Gentilleschi no Musée Maillol, Paris, em 2012.
Garota de verde de Tamara de Lempicka.
 Via - Aline Pascholati é artista plástica, escritora

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