sábado, 27 de fevereiro de 2016

Corrida de “O menino e o mundo” rumo ao Oscar cria clima de final de Copa do Mundo entre animadores e críticos de cinema.



O Oscar 2016 está próximo e nesta reta final o longa brasileiro O Menino e o Mundo segue acumulando prêmios. No início de fevereiro a produção venceu a categoria de Melhor Animação Independente no Annie Awards, competição considerada termômetro para o Oscar na categoria. O longa Divertida Mente, um dos concorrentes mais fortes da animação brasileira, foi premiado como Melhor Animação em Longa-Metragem, categoria principal do Annie.

É a segunda vez que uma animação brasileira chega à lista de finalistas, a primeira foi em 2003, com o curta Gone Nutty, de Carlos Saldanha, que disputou o prêmio de Melhor Curta-Metragem de Animação.  As animações que concorrem com O Menino e o Mundo são: Anomalisa (de Charlie Kaufman e Duke Johnson – EUA); Divertida Mente (de Pete Docter e Ronaldo Del Carmen - EUA), Shaun, o Carneiro (de Mark Burton e Richard Starzak – Reino Unido) e As Memórias de Marni (de Hiromasa Yonebayashi – Japão).

A pergunta que muita gente agora se faz é: mas o Brasil tem chances reais de vencer? O animador Marcelo Marão aposta que sim. Ele conta que sempre teve a sensação de que o primeiro filme brasileiro a ganhar o Oscar seria uma animação. E quando assistiu ao filme pela primeira vez, em uma pré-estréia, teve certeza: “Vai ser esse“. A aposta vai muito além de corujice e otimismo; Marão se lembra de Annecy (o mais importante festival de animação do mundo), em 2015, na exibição e premiação d’O Menino e o Mundo. “É notável como internacionalmente os animadores brasileiros são cada vez mais respeitados. Foi com muito orgulho e alegria que gritamos ‘BRASIL!‘ na sala lotada de franceses quando foi anunciado o filme do Alê como vencedor das duas mais importantes categorias [Prêmio Cristal de Melhor Longa e o Prêmio do Público]”.

LINGUAGEM UNIVERSAL
A jornalista e crítica de cinema Flávia Guerra foi uma das primeiras a apostar publicamente na animação para o Oscar 2016. Fã do diretor e do gênero de animação, Guerra considera que a qualidade técnica, a inovação e a criatividade do diretor fazem do filme um concorrente forte. “O Brasil tem chances reais, sim. Já vimos muitas zebras, o próprio Di Caprio, quantas vezes ele já bateu na trave? Se bem que dessa vez ele leva”, palpita, entre risos. “’O menino’ é um filme que me toca profundamente, é lúdico, sofisticado e simples, é ousado. É uma obra de mensagem universal, todo mundo entende. Alê mexe com nossos arquétipos de civilização, de pai, de mãe, de trabalho, de exploração, de liberdade, de alegria”.

Marão segue a mesma linha de raciocínio, apostando na experimentação de linguagem estética e sonora desenvolvida por Alê e sua equipe. “Essa experimentação (e seu reconhecimento pelo público e pela crítica) é o que nos deixa mais felizes – nós, os animadores de todo o mundo, – porque nos abre portões para novas investidas junto a públicos diferentes, com técnicas além do 3D ou do 2D vetorial, roteiros que fogem do verbal convencional e trilhas diferentes daquelas que já ouvimos mil vezes. É o triunfo da honestidade e da autoralidade”, elogia.

De olho no Oscar, a equipe do filme criou uma campanha de financiamento coletivo para divulgá-lo nos Estados Unidos. A iniciativa foi promovida por meio do site brasileiro Catarse, para “fazer o filme ser visto pela Academia, pois muitos não chegam a assistir todos os filmes indicados e temos fé de que se virem o nosso Menino irão escolhê-lo”, diz o texto de apresentação da campanha.

ARTE E INDÚSTRIA
Em reportagem ao jornal Folha de S. Paulo, o diretor do longa, Alê Abreu, comentou que a diferença entre o Annecy e Oscar é que um é arte e o outro, indústria. É o ponto decisivo da corrida d’O Menino em busca da estatueta. Flávia pontua que a premiação é indústria justamente pelo fato de exigir dos realizadores uma postura de mercado mesmo.  “Você tem que saber se mexer nesse ambiente. E a GKids [distribuidora americana do filme] entende de mercado, sabe o valor do produto cultural que tem na mão”, diz. “Tem que fazer o filme ser distribuído, ser visto, estimular desejo em torno da produção. Fazer a promoção do filme custa caro e o crowdfunding ajuda muito nesse sentido”.

UM CAMINHO PROMISSOR
Muito vem sendo falado sobre o ótimo momento da animação brasileira, uma fase que começou a ganhar força com a premiação do longa Uma história de amor e fúria, de Luiz Bolognesi, no Annecy 2013, e com a pré-indicação do longa ao Oscar 2014. Depois desse prêmio, o Brasil já comemora três troféus consecutivos no Annecy, sendo o longa O Menino e o Mundo o vencedor de 2014 e o curta Guida, de Rosana Urbes, o vencedor de 2015. De acordo com Marão, o primeiro filme de animação brasileiro é de 1917. Já o primeiro longa de animação nacional data de 1951. “Em quase cem anos foram produzidos menos de 40 longas animados nacionais. Porém, este ano – 2016 – há 25 longas de animação sendo realizados no Brasil. Praticamente um terço de toda a história está sendo feito neste momento”, apontou, otimista.

A 88ª cerimônia de entrega dos Academy Awards será realizada em 28 de fevereiro e terá o comediante Chris Rock como anfitrião. Aqui no Brasil a festa será televisionada pelo canal por assinatura TNT. Na tevê aberta quem tem os direitos de transmissão é a Globo, que esse ano apresentará um compacto com os melhores momentos no dia 3 de março. Para o dia da premiação, Marão já deu a ideia: “Temos todos que assistir à premiação no telão de um bar, como uma final de Copa do mundo. Todos juntos”.

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