terça-feira, 1 de novembro de 2016

A Luz Entre Oceanos

aluz

Michael Fassbender, Alicia Vikander e Rachel Weisz unindo beleza e profissionalismo, num filme quase bom, num filme quase ruim.


Tom Sherbourne, ex-combatente de guerra, trabalha no farol de uma ilha, vive isolado em seu mundo. Um dia conhece a jovem Isabel, que logo se interessa por ele. De início, há o receio de que ele não consiga lhe dar a felicidade almejada. Mas o que o destino planeja não se discute, se cumpre, logo estão casados. Para a felicidade ser completa, Isabel deseja ter filhos. Consegue engravidar, mas aborta duas vezes. A tristeza impera naquele lugar. Lugar que se ouve o canto dos pássaros e o barulho do mar,  que traz um pouco de felicidade ao casal. Um barco à deriva surge perto da praia, com uma criança e um homem morto. O casal, que almeja ser feliz como família, recebe das águas uma criança para completar suas vidas. Tom, de início, pretende entregar o bebê às autoridades, mas por pena de sua esposa, decide ficar com o “presente” que acaba de chegar, e assim o faz. Depois do sofrimento, o milagre acontece, mas muitos não acreditam em milagres, eu sou um deles.

O diretor Derek Cianfrance (Namorados para Sempre (Blue Valentine)) já vivenciou, em dois filmes, a tristeza e as desilusões das relações: Blue Valentine – Namorados Para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina. Derek está se especializando em dramatizar o intrincado amor-família-sofrimento-perdão. São quatro vertentes que ele tenta remodelar com sua câmera, buscando não ser tão óbvia, mas que, por um “descuido técnico”, acaba entrando numa “espiral novelística”, muitas vezes, por causa de um roteiro que não o ajuda. É o caso de A Luz Entre Oceanos. Derek é correto nas ações dos personagens e no tom da narrativa, mas as coincidências da história pecam pela falta de convencimento. É uma “novidade” que aparece quando a personagem mais precisa. Alguns “encontros” típicos de acasos de novela, flashback desnecessários, que não ajudam nos acontecimentos, só ficando mais redundantes. A história é do casal, Tom e Isabel, e quando aparece Hannah, de Rachel Weisz (A Juventude, Oz: Mágico e Poderoso) tenta-se criar um arco para a nova personagem, que acaba sofrendo pela falta de desenvolvimento, ainda que, com cenas singelas, mas sem grande encanto. A trilha sonora de Alexandre Desplat, ao piano, muito bonita por sinal, torna-se intrusa, pois está incessantemente aos ouvidos, tentando guiar as emoções, que por si só já são sofridas e bem vividas, bastando a dramaticidade do som da natureza que está em volta.

O melhor da história é a não existência do vilão. Todos os personagens são vítimas do destino que não designou a felicidade para ninguém. São pessoas que buscam, constantemente, fazer o mais correto, mesmo que as escolhas sejam um tanto conflituosas e eticamente erradas. Um dos melhores momentos do filme são cenas em que os personagens trocam cartas, coisa rápida, mas que são carregadas de emoção e funciona muito bem.

O elenco abraça a história e tenta fazer o melhor. Coisa que o roteiro deixou a desejar. Rachel Weisz, que entra na metade do filme, entrega uma personagem que carece melhor desenvolvimento, mas por causa da atriz, a empatia é instantânea e o seu olhar, ou talvez sua dor, nos ajude nisso. A sua Hannah vive o luto sem sentimentalismo ou pieguice, mas com todo o sentimento intrínseco que vem da tristeza e, Weisz, em seu pequeno e importante papel, está correta, linda e minimalista e isso é muito bom. Michael Fassbender (Frank, X-Men – Dias de um Futuro Esquecido) é a dor em pessoa, cheio de traumas do passado, um solitário. Sua personagem vive em eterna dúvida, ele sabe o que é certo a fazer, mas por amor à esposa vive com dilemas, repassando em momentos seu Macbeth de um dia desses. E viver com escolhas que podem ter sido erradas não é fácil. Fassbender é entrega total para o papel. Alicia Vikander (Jason Bourne, Anna Karenina) tem sido agraciada com ótimos papéis, depois de ter salvado A Garota Dinamarquesa do fiasco, e ajudando um tal Jason Bourne, ela agora vive uma mulher cheia de camadas. Começa uma jovenzinha que sabe muito bem o que quer, mas ainda uma garota. Logo se torna mulher e os seus sentimentos vão mudando com a passagem do tempo. Sua personagem perdeu dois irmãos na guerra e dois filhos em abortos espontâneos. Seu porto seguro está no marido.  Alicia, com olhos de ressaca, como os de Capitu de Dom Casmurro, carrega tudo para dentro de si, mescla segurança e fragilidade com a mesma intensidade. Alicia é a força que nunca seca. Essa Alicia vai longe. Mesmo com o excesso de closes e poucos planos abertos, que poderiam aproveitar a paisagem e não serem tão taxativo nos sentimentos dos personagens, o elenco está perfeito, tentando salvar o que o roteiro ou a direção não conseguiu fazer. A plasticidade do filme é toda “perfeitinha demais”. Atores lindos, música sentimental, drama que não acaba, figurino e direção de arte irretocáveis. Tudo no lugar. Teria faltado um pouco de “sujeira” na história? Sim, pode ser. O muito belo pode cansar os olhos.

Com narrativa “carregada” no dramalhão, sem nenhum alívio ou respiro, A Luz Entre Oceanos ainda sofre da “síndrome do final que não chega”, quando pensamos que é epílogo, ledo engano, ainda não acabou. Parece estranho, mas quase amei e odiei com a mesma intensidade. No final das contas, colocando prós e contras na balança, ele consegue agradar como mera expectativa dramática e ótimo desempenho do seu elenco e não pelo conjunto da obra.

Nota do CD:
3 out of 5 stars

Sinopse:Tom Sherbourne, ex-combatente de guerra, trabalha no farol em uma ilha, vive isolado em seu mundo. Um dia conhece a jovem Isabel, que logo se interessa por ele. Depois de casados, Isabel aborta duas vezes. Um barco à deriva surge perto da praia, com uma criança e um homem morto. O casal fica com a criança.

Ficha Técnica:
Gênero: Drama
Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Cianfrance
Elenco: Alicia Vikander, Anthony Hayes, Benedict Hardie, Bryan Brown, Elizabeth Hawthorne, Emily Barclay, Florence Clery, Garry Macdonald, Gerald Bryan, Jack Thompson, Jane Menelaus, Jonathan Wagstaff, Leon Ford, Michael Fassbander, Michael Wallace, Peter McCauley, Rachel Weisz, Rosella Hart, Stephen Ure, Thomas Unger
Produção: Jeffrey Clifford
Fotografia: Adam Arkapaw
Montador: Jim Helton, Ron Patane
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Duração: 132 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos / Nova Zelândia / Reino Unido
Cor: Colorido
Estreia: 03/11/2016 (Brasil)
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Amblin Entertainment / DreamWorks SKG / Heyday Films / LBO Productions (II) / Participant Media / Reliance Entertainment / Touchstone Pictures

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