quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Boi Neon

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Selecionado para representar o Brasil no Prêmio Goya, o Oscar espanhol, em 2017 e com quatro prêmios, incluindo melhor filme e melhor roteiro, na edição de 2015 do Festival do Rio, Boi Neon é mais uma bela produção nacional, que só reafirma a quanto estamos evoluindo cinematograficamente e o quanto precisamos nos orgulhar das películas feitas em solo brasileiro. O filme de Gabriel Mascaro impressiona com um roteiro simples, mas ao mesmo tempo interessante, que coloca em jogo os estereótipos e os pré-julgamentos que a cultura social impõe e com personagens vislumbrando sonhos improváveis, faz, no mínimo, com que se pare para pensar.

A trama, de Boi Neon, segue os passos de um grupo de trabalhadores, que viajam pelo interior nordestino, realizando atividades nos bastidores das vaquejadas. Iremar, um vaqueiro do grupo, segue essa rotina, sendo responsável pela aparência dos animais antes de sua entrada na arena, porém, apesar disso, sonha em ser estilista e trabalhar com moda no Pólo de Confecções do Agreste. O grupo ainda conta com Galega, a motorista do caminhão, que cria sua filha Cacá nessa rotina, mas a motiva a estudar e ser alguém diferente, algo que para ela ainda não é prioridade. Galega ainda faz ponta como dançarina em boates e usa as roupas desenhadas por Iremar.

Não posso dizer que Boi Neon é um filme fácil de ser assistido. O roteiro não propõe um momento de tensão e não há a evidência do surgimento de um vilão ou até mesmo de uma situação diferente. O objetivo de Gabriel Mascaro é mostrar esse mundo real, mas repleto de sonhos e, de forma delicada, fazer comparações entre os seres humanos e os animais. Outro foco é o de quebrar os paradigmas, como por exemplo, temos um vaqueiro que sonha em ser estilista e nem por isso é homossexual. Temos outro personagem, que mesmo vivendo entre animais e com eterno cheiro de seus excrementos, é vaidoso ao ponto de investir boa parte de seu salário com os cuidados de seu cabelo. A sensação que nos é transmitida é que temos um grupo de pessoas que vivem por viver, como se fossem “tangidos” pelo seu meio social.

Boi Neon, também, não poupa o espectador de cenas de sexo com nu frontal, com uma cena agoniante e, ao mesmo tempo, cômica de masturbação de um cavalo ou até mesmo relações sexuais com mulheres grávidas, que aqui são tratadas como atraentes e sexys, contrariando mais um paradigma social. Todo esse trabalho ganha muita força com a, premiada, fotografia da obra, que se utiliza de luz natural e ressalta o calor e o clima de sofrimento da região e dos envolvidos, sendo ainda mais impactante com uma trilha sonora quase inexistente, fazendo do silencio uma forma de pensar.

O elenco também merece os parabéns, com destaque para Juliano Cazarré (Serra Pelada, O Lobo Atrás da Porta), que se despe de qualquer vaidade para interpretar Iremar e convence desde o primeiro minuto. Maeve Jinkings (Aquarius, O Som ao Redor) também merece menção por ser responsável por diversas cenas interessantíssimas e a menina Alyne Santana, que entrega os melhores alívios cômicos da obra e foi eleita melhor atriz coadjuvante do Festival do Rio no ano passado. A verdade é que Boi Neon é uma dessas obras inteligentes e que, infelizmente, ainda não atinge o público como deveria. Cinema de qualidade, nós temos aqui!

Nota do CD:
4.5 out of 5 stars


Sinopse: Iremar (Juliano Cazarré) é um vaqueiro de curral, que viaja pelo Nordeste ao lado de Galega (Maeve Jinkings) e da pequena Cacá (Samya de Lavor). Por onde passa Iremar recolhe revistas, panos e restos de manequins, já que seu grande sonho é largar tudo para iniciar uma carreira como estilista no Pólo de Confecções do Agreste.

Ficha Técnica:
Gênero: Drama
Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Gabriel Mascaro
Elenco: Alyne Santana, Carlos Pessoa, Josinaldo Alves, Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Samya De Lavor, Vinícius de Oliveira
Produção: Rachel Ellis
Fotografia: Diego García
Montador: Eduardo Serrano, Fernando Epstein
Trilha Sonora: Carlos Montenegro, Otávio Santos
Duração: 101 min.
Ano: 2015
País: Brasil / Holanda / Uruguai
Cor: Colorido
Estreia: 14/01/2016 (Brasil)
Distribuidora: Memento Films International
Estúdio: Canal Brasil / Desvia Filmes / Malbicho Cine / Viking Film
Classificação: 16 anos

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