sábado, 29 de outubro de 2016

Angeli, o matador: o diretor Cesar Cabral, homenageado do 24º Anima Mundi, fala sobre sua nova série de animação baseada na vida e obra do criador da Rê Bordosa


A lista de crimes de Angeli é extensa. Ele criou ícones do quadrinho nacional, para depois matar todos, sem remorso. A primeira vítima foi a junkie Rê Bordosa, torturada e jogada de uma ponte pelo autor. Na edição especial da revista Chiclete com Banana, publicada em 1987, a porra louca sobreviveu à queda para, literalmente, explodir de tédio depois de casar e largar a boemia.  Outras mortes seguiram impunes, como a do revolucionário de boteco Meia Oito atropelado por um caminhão da Coca-Cola. Nem Bob Cuspe, um dos seus favoritos, foi poupado: na história que se passa em um futuro pós-apocalíptico, o punk esverdeado foi devorado por uma horda de Elton Jhons mutante.

Na animação Angeli The Killer, o cartunista vai ser assombrado pelas suas criações. Dirigida por César Cabral, o programa de 13 episódios de 11 minutos de duração cada está previsto para estrear em 2017, no Canal Brasil. Inspirada na vida e trabalho de Angeli, a série utiliza a técnica de stop motion, na qual bonequinhos são manipulados e fotografados quadro a quadro.

“O trabalho tem um quê de documental, ele parte de entrevistas reais com Angeli discutindo temas recorrentes do seu universo como fetiche, ócio, política, botecos, por aí vai. O próprio Angeli será animado e vai interagir com seus personagens mais famosos como Skrotinhos, Mara Tara, Ralah Ricota, Wood & Stock, Bibelô, Rê Bordosa e Bob Cuspe. Por exemplo, tem uma cena que ele vai parar no inferno com a Rê Bordosa, que ilustra bem o que ele passa na vida real. Até hoje é um carma na vida dele, as pessoas são inconformadas com a morte da personagem”, conta o animador, que ganha homenagem na 24ª edição do Festival Anima Mundi.

As carreiras de Cesar Cabral e de Angeli se cruzam pela primeira vez com o curta Dossiê Rê Bordosa, de 2008. A animação, que mescla reportagem e humor, investiga a morte da personagem e conta com entrevistas com personalidades como o editor da Chiclete com Banana Toninho Mendes, a cartunista Laerte e personagens de ficção como Bibelô. O curta em stop motion ganhou 70 prêmios, dentre eles melhor roteiro e montagem no 36º Festival Internacional de Gramado e como melhor filme e animação brasileira no 16º Anima Mundi.
“A Chiclete com Banana marcou a minha geração. Nos anos 80, ainda na ressaca da censura, ela surgiu como uma publicação jovem, contestadora. E a Rê Bordosa é uma personagem lembrada até hoje porque ela é uma mulher de personalidade forte, que faz o que quer, dá pra quem quer. É um retrato dos excessos e ideais dos 80. Mas o universo do Angeli é acima de tudo um tratado de comportamento humano. Do nosso pior lado, diga-se de passagem. E isso não fica datado”, define o diretor.

Angeli, hoje com 60 anos, ainda continua na ativa como chargista apesar de estar afastado da extenuante tarefa de produzir tirinhas diárias para o caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo – trabalhou que exerceu desde os anos 1970 e só decidiu parar no começo do ano, por orientação médica. Mas independente da vontade do autor, a sua obra já ganhou vida própria nas mãos de Cesar Cabral. O diretor prepara seu primeiro longa em animação, baseado no Bob Cuspe.
“O longa está em pré-produção e vai se basear na fase atual do trabalho do Angeli, tanto que os bonecos são mais realistas, acompanhando o traço dele hoje. O anti-herói da história é o Bob Cuspe, que está preso em um deserto pós-apocalíptico, mas que na verdade tudo se passa na cabeça do Angeli que estará sofrendo um bloqueio criativo. É o Angeli eternamente em crise, como ele mesmo faz piada. Se tornou um pleonasmo, se mudar a gente estranha”, define Cesar Cabral.

De quarta (02.11) a domingo (06.11), São Paulo recebe o 24º Anima Mundi, o maior festival de animação da América Latina. O evento faz uma homenagem a Cesar Cabral, diretor de Dossiê Rê Bordosa, que participa de um Papo Animado, nesta quarta (2), no qual fala sobre sua carreira e a construção de bonecos para animação.

Mais informações no site.

Serviço
Quando: dia 4/11, às 20h.
Onde: Sala Cinemateca, Lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, tel. 3512-6111.
Entrada franca

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