sábado, 1 de outubro de 2016

“A obra começa a responder por si”, afirma diretor de “Pequeno Segredo”


“Por mais incrível que possa parecer, é na ficção que a intimidade da família Schurmann é revelada”, afirma David Schurmann, diretor do longa “Pequenos Segredos”. Os Schurmann nunca foram avessos aos holofotes, mas ao invés das viagens, o novo filme conta a história de Kat, filha adotiva de Heloísa e Vilfredo Schurmann, que nasceu com HIV.

A história se baseia no livro “Pequeno segredo – A lição de vida de Kat para a família Schurmann”, escrito pela matriarca da família de velejadores catarinenses. Filha de um casal formado pelo neozelandês Robert e a amazonense Jeanne, Kat foi acolhida pelos Schurmann aos cinco anos e integrou a expedição Magalhães Global Adventure que navegou por 19 países. Kat faleceu em 2006, aos 13 anos de idade, devido a complicações decorrentes do vírus HIV.

Reunindo no elenco Julia Lemmertz, Maria Flor, Fionnula Flanagan, Erroll Shand e Mariana Goulart, o filme foi escolhido para representar o Brasil no Oscar do ano que vem, uma decisão que rendeu críticas ao Ministério da Cultura. A produção concorreu com outros 15 títulos, entre eles o então favorito “Aquarius” cujo elenco realizou um protesto contra o Governo do presidente Michel Temer durante sua passagem no festival de Cannes, em maio deste ano. “Pequenos Segredos” que só iria estrear oficialmente no dia 10 de novembro, teve lançamento limitado, para atender aos requisitos de prazo do Oscar.

Em entrevista ao TELA BRASIL, o diretor David Schurmann fala da decisão de revelar a intimidade dos pais, da relação com a irmã e da polêmica em torno da indicação. Confira:

Você acha que com “Pequeno Segredo” a família finalmente se revelou para o público?

Temos sim uma tradição de compartilhar com o público brasileiro e internacional nossas aventuras. São tantos lugares, culturas e experiências incríveis, que seria muito egoísmo restringir essas histórias apenas para familiares e amigos. Apesar de ser uma ficção é um filme bem íntimo.  Pude recriar momentos que nenhum documentário conseguiu captar.

Por que você decidiu revelar uma história tão intima? Que tipo de reação você espera da audiência?

Esse era um desejo da minha irmã. Kat planejava revelar sua história aos 14 anos, o que nos deixava muito preocupados. Após seu falecimento, acabei assumindo essa missão de contar sua história. Espero que esse filme de amor emocione e inspire as pessoas. Vivemos tempos de intolerância e cabe a cada um de nós mudar esse cenário. “Pequeno Segredo” fala de amor incondicional. Um amor capaz de superar preconceitos.

Qual foi o grau de envolvimento da sua família na produção? Como eles reagiram ao filme?

Meus pais me deram toda a liberdade para trabalhar. O distanciamento, incluindo o meu, foi fundamental para contar essa história por meio de uma ficção. Se a gente se fizesse presente na produção como família, corríamos o risco de o filme ficar sem intimidade. Meus pais ainda não viram o filme. Eles estão a bordo do veleiro Kat, na costa da África, seguindo o roteiro da Expedição Oriente. Se emocionaram com o trailer e estão com grandes expectativas. Meu pai teve um papel fundamental na captação de recursos e venda do projeto para investidores.

E por que sair da sua zona de conforto e optar por uma ficção ao invés do documentário?

Na ficção, a possibilidade de controlar uma história é muito sedutora para alguém como eu que trabalho com documentário há muitos anos. Fui criado a bordo de barco, enfrentando tempestades, calmarias e sendo desafiado diariamente. Então sair da zona de conforto é normal. Além disso, sempre planejei contar essa história como uma fábula.  Acredito que a ficção foi o melhor caminho para trazer a reflexão e emoção para o espectador.

Você acha que foi injusta a reação da opinião pública em relação à indicação?

Acho que as primeiras reações foram prematuras e temos que esclarecer que boa parte do Brasil apoiou escolha do meu filme. Foi uma pequena parcela que teve uma reação mais injusta. Curiosamente, é um preconceito com um filme que fala sobre preconceitos. Como opinar sobre um filme sem vê-lo? Mas isso já está superado. O filme está sendo visto e analisado de acordo com a experiência vivida nas salas de cinema, onde estamos realizando sessões especiais. O melhor dessa história toda é que as pessoas estão se surpreendendo e reconhecendo as qualidades de “Pequeno Segredo”. A obra começa a responder por si. E é normal que existam reações diferentes, quando algo surpreende. Um filme sem algum tipo de reação, é um filme sem vida.

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