quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Garota no Trem

agarotanotrem

Desconstrução incorreta de um filme que nada e morre na praia.

Rachel, dentro de um trem, olha a paisagem ao seu redor, ela é uma mulher dependente do álcool e sofre de “apagões”, não se lembrando do que aconteceu depois de ter bebido drinques a mais. É uma mulher divorciada, triste e melancólica. Todo o dia passa na frente da casa do seu ex-marido, Tom, agora com nova esposa, Anna e bebê. Rachel está se afundando cada vez mais, perdeu o emprego e mora com uma amiga. Começa a se impressionar com a felicidade de um casal, vizinho de Tom. No trem, ao longe, vê o casal se beijando na varanda, sendo carinhoso um com o outro. De um jeito voyeurístico, não consegue tirar os olhos daquela felicidade que poderia ser dela. Um dia vê que esta mulher, Megan, está com outro homem e não consegue entender o porquê. Rachel projeta aquela traição que viveu tempos atrás. Depois de ter ingerido algumas doses de álcool, chega em casa, suja e com machucados na cabeça. Com o sumiço inesperado de Megan, Rachel é alvo das investigações.

Quando um filme começa e sua história precisa do artifício da narração, bate o desespero. Prevejo problemas na condução daquilo que é contado, pois na maioria das vezes a narração se faz redundante e não ajuda em nada no caminhar dos fatos. Que bom que ele não manteve esse nível de didática, aliás, isso foi o menor dos defeitos. Logo depois me senti em um daqueles jogos com dado, em que o jogador pode avançar ou voltar casas, ficar uma rodada sem jogar e até permanecer parado, vendo os outros se divertirem. E aqui a diversão foi pouca, bem pouca, quase nada. Depois de ter se livrado da mequetrefe narração, eis que chegam as viagens de temporalidade. De cinco em cinco minutos caracteres nos avisam que veremos cena de meses atrás, horas antes, tempos depois… blá, blá, blá. Quem em sã consciência suporta isso? Tudo tem um prazo definido, mas aqui o prazo está vencido. Não convence ninguém.

agarota2


A Garota no Trem é baseado no best-seller de Paula Hawkins e acredito que todo o fiasco visto na tela tem a ver com seu livro, se bem que a direção de Tate Taylor, que já esteve envolvido em outro filme do mundo feminino, Histórias Cruzadas,  não ajuda na proposta requerida, sendo a mais expositiva no desenhar dos personagens, tal qual Histórias Cruzadas. O roteiro é todo construído com fatos que se cruzam em algum momento e caminham com as coincidências, sem nenhuma sutileza, de seus atos. A premissa da história já soa um tanto sem fundamento – mulher dentro de um trem vê a vida dos outros, melhor que a sua, ficando arrasada com suposta traição de quem nunca viu na vida. Rachel é uma desocupada e bêbada que está de olho na vida alheia – menos, por favor. A desconstrução das personagens principais, mulheres e homens, é a mais descabida de todas. Artimanhas que mudam a linha das personagens dignas de filmes “pobres feitos para tv”. Tcharam! Não é nada disso que você está pensando. É apenas para dar um final feliz. Tudo soa canhestro e inverossímil.

Tom (JUSTIN THEROUX) and Rachel (EMILY BLUNT) in DreamWorks Pictures’ "The Girl on the Train," from director Tate Taylor and producer Marc Platt. In the thriller, Rachel, who is devastated by her recent divorce, spends her daily commute fantasizing about the seemingly perfect couple who live in a house that her train passes every day, until one morning she sees something shocking happen there and becomes entangled in the mystery that unfolds.

Do elenco, a protagonista Emily Blunt (A Chegada, Sicario; Terra de Ninguém) é a que sai melhor. Desde o filme O Diabo Veste Prada, Emily é o diferencial em qualquer obra cinematográfica. A sua Rachel consegue ser sincera em todos os momentos, até nas cenas iniciais em que parece uma psicopata a lá Atração Fatal, emulando uma meia Glenn Close. E, o melhor, consegue fugir da caricatura de mulher sofrível. Se tivesse com bom roteiro e melhor direção, faria “misérias” com o papel, mas daí seria outro filme. É uma atriz que ilumina a tela com seu desempenho. Lisa Kudrow (A Mentira), a eterna Phoebe da série Friends, aparece em duas cenas que qualquer atriz poderia fazer. Alguns coadjuvantes não ajudam em nada na história, aparecendo quando “precisam ou querem”, como o homem que fica de olho em Rachel no trem e do terapeuta apático, vivido por Édgar Ramirez (Fúria de Titãs 2), que some sem deixar vestígios. A policial vivida por Allison Janney (O Lar das Crianças Peculiares, O Verão da Minha Vida) mostra em poucas cenas a atriz versátil que é. Convence até dialogando no banheiro. Já a sueca Rebecca Ferguson (Missão Impossível: Nação Secreta), inexpressiva e quase sem vida, é uma das pontas fracas do filme. Nem parece que é a mesma atriz que foi uma das melhores coisas de Missão Impossível: Nação Secreta. Os outros atores Haley BennettJustin Theroux e Luke Evans não ajudam na “veracidade” da trama.

A Garota no Trem é um melodrama que tenta criar suspense onde não tem, quer ser Garota Exemplar, com toques de A Mão Que Balança o Berço, junto com Atração Fatal, não conseguindo ser nada no final das contas. É aquele filme que vemos cochilando no sábado à noite, em Supercine, e que não faz diferença alguma quando acaba. Alguém duvida do final? Tudo muito barato, tudo muito esquecível.

Nota do CD:
2 out of 5 stars

Sinopse: Rachel, dentro de um trem, todo os dias passa na frente da casa do seu ex-marido, Tom, agora com nova esposa. Se impressiona com a felicidade de um casal, vizinhos de Tom. Um dia vê que esta mulher, Megan, está com outro homem e não consegue entender o porquê daquilo. Rachel projeta aquela traição que viveu tempos atrás. Depois de ter ingerido algumas doses de álcool, chega em casa, suja e com machucados na cabeça. Com o sumiço inesperado de Megan, Rachel é alvo das investigações.

Ficha Técnica:
Gênero: Suspense
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Erin Cressida Wilson, Paula Hawkins
Elenco: Allison Janney, Athena Stuebe, Danielle M. Williamson, Darren Goldstein, Édgar Ramírez, Emily Blunt, Frank Anello, Haley Bennett, Justin Theroux, Lana Young, Laura Prepon, Lisa Kudrow, Luke Evans, Marko Caka, Nicole Bonifacio, Rebecca Ferguson, Ross Gibby, Tod Rainey
Produção: Marc Platt
Fotografia: Charlotte Bruus Christensen
Montador: Michael McCusker
Trilha Sonora: Danny Elfman
Duração: 116 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 27/10/2016 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures Brasil
Estúdio: Amblin Entertainment / DreamWorks SKG / Marc Platt Productions / Reliance Entertainment
Classificação: 14 anos

Nenhum comentário: