sábado, 22 de outubro de 2016

Refletindo o cinema: Mostra de Cinema de São Paulo se volta para a política, mas sem levantar bandeiras


A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo completa 40 anos de atividade em tom de reverência. A programação, que segue até o dia 2 de novembro, irá homenagear cineastas como o polonês Andrzej Wajda, morto no último dia 9, que ganha uma retrospectiva. Outro aniversário importante é o de 50 anos de “Persona”, escrito e dirigido por Ingmar Bergman, tema da exposição “Por Trás da Máscara”, no Itaú Cultural. Sem esquecer da homenagem a Marco Bellocchio, que assina o pôster da 40ª Mostra, e vem ao Brasil apresentar seu mais recente longa, Belos Sonhos.

“É um aniversário importante, é uma data para comemorar. Mas, também, para refletir. Entendo que o chamariz dos festivais são os lançamentos, mas esse olhar para o passado é essencial pra entendermos o caminho que vamos continuar seguindo”, avalia a diretora da mostra, Renata de Almeida.

Mas ela defende que o público da 40ª Mostra também arrisque com os novos talentos “Quando o Quentin Tarantino veio na mostra em 1992, ele era um desconhecido, tinha acabado de lançar o Cães de Aluguel. Você nunca sabe quem vai o cara que vai estourar daqui a pouco”, conta.

Dentre as apostas da 40ª Mostra nomes como o Tom Ford, que chega com seu segundo longa, Animais Noturnos, título premiado com o prêmio do júri em Veneza, e Nate Parker  diretor de O Nascimento de uma Nação, sobre um levante de escravo em 1831 na Virgínia (EUA).

Em entrevista para o TELA BRASIL, Renata Almeida fala sobre os desafios de organizar uma programação em meio a uma enxurrada de informações. Confira:

São 322 filmes selecionados para mostra deste ano. Vocês contaram com 1400 trabalhos inscritos na internet. Como fazer um recorte em meio a tanta opção?
A mostra começou na época da ditadura, vivendo sob a repressão da censura. Ai a gente vê hoje, essa quantidade imensa de informação. E, cada vez mais, a gente se sente paralisado com tantas opções. Por isso a mostra é pensada como um espaço de reflexão. O cinema te convida a desacelerar, sentar, ficar calado e prestar atenção.

A mostra é apartidária, mas não quer dizer que não seja política. Quem levanta as bandeiras são os diretores. Por exemplo, o documentário “Pitanga” dá destaque a uma figura importantíssima que é o ator Antônio Pitanga. Seus 55 anos de carreira se confundem com a história do cinema brasileiro e levanta a questão da representatividade do negro no cinema. A questão dos refugiados também é muito eminente em documentários como “Exodus”, do Hank Levine. O Foco Polônia vai apresentar uma retrospectiva de 17 filmes de Andrzej Wajda. Ele é um diretor que narrou através de seus filmes todas as transformações históricas de seu país, da Segunda Guerra à queda do comunismo.
O grande chamariz de qualquer mostra são os lançamentos e estreias. Ao mesmo tempo que a mostra completa 40 anos nesta edição, com um rico legado. Como conciliar essas duas demandas? Como dar destaque ao novo sem desprezar a história?
A mostra pensa no passado, no presente e no futuro. Nossas pesquisas mostram que o público se renova a cada edição, 10% dos participantes estão indo pela primeira vez a mostra. Os lançamentos de cineastas consagrados são um chamariz, como é o caso do lançamento do “Elle”, de Paul Verhoeven e “Animais Noturnos”, de Tom Ford. Mas estimulamos que o público se arrisque, com a Competição Novos Diretores que exibe títulos de diretores que tenham realizado até dois longas. Quando o Quentin Tarantino veio na mostra em 1992, ele era um desconhecido, tinha acabado de lançar o “Cães de Aluguel”. Você nunca sabe quem vai o cara que vai estourar daqui a pouco.

E as retrospectivas funcionam nesse mesmo sentido, de prestigiar trabalhos importantes e apresentar essa rica história pro publico que visita a mostra pela primeira vez. E em comemoração aos 40 anos da Mostra, voltarão a ser exibidos alguns filmes de destaque das edições anteriores como “Lúcio Flávio, O Passageiro Da Agonia”, de Hector Babenco, que foi o vencedor da primeira edição do evento, e “DAUNBAILÓ”, de Jim Jarmusch, exibido na 11a Mostra.

A homenagem ao centenário do Paulo Emílio remete a questão da preservação, paradoxalmente um desafio em tempos de tecnologia digital. Como o festival vê essa questão?

No ano passado, a mostra homenageou Film Foundation, organização sem fins lucrativos de Martin Scorsese dedicada a preservar e proteger filmes em película. É uma questão crucial, foi uma dificuldade para achar cópias dos filmes do Pitanga para participar da mostra.

Nesta edição, também comemoramos o centenário do Paulo Emílio, fundador da Cinemateca Brasileira. Preparamos uma programação no  Vão-Livre do MASP, onde serão exibido cinco longas que ele gostava e defendia na sua crítica. Queremos com essa homenagem, circular os filmes da Cinemateca e levar para o público a importância dessa instituição.

Veja a programação no site.

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