terça-feira, 21 de junho de 2016

"Relatos Selvagens", de Damián Szifrón


Relatos Selvagens (Relatos Salvajes – 2014)
O diretor argentino Damián Szifrón levou sua experiência de televisão, a linguagem popular e objetiva de uma mídia que se espreme entre intervalos comerciais, para essa rara antologia cinematográfica onde todas as seis histórias funcionam muito bem.

O humor é elegante até mesmo nas situações mais absurdas, como na última trama ambientada na festa de casamento, visualmente rimando com várias cenas do “Titanic” de James Cameron, representando o choque de realidade de uma mulher que acreditava que sua relação com seu marido era “inafundável”, resultando em uma crítica inteligente dos rituais tolos que envolvem uma cerimônia que, em sua essência, elimina toda a espontaneidade do romance em favor de um conjunto de regras antinaturais, onde o casal se torna um espetáculo desgastado da Broadway, dois indivíduos com personalidades fascinantes transformados em um padronizado souvenir para ser apreciado pelos convidados, em grande parte, estranhos bem vestidos, numa festa que simboliza o desejo por aceitação na sociedade, mais do que a celebração do amor. Ao final, despidos de toda a maquiagem social, após um clímax que é coerentemente filmado quase como uma sessão de exorcismo, os dois se reencontram com a espontaneidade que os uniu outrora, eles se surpreendem com a constatação de que o sentimento havia sido suprimido pelos rituais.

O leitmotiv do filme, a selvageria que é despertada nos homo sapiens em situações extremas, encontra nesse conto final a sua melhor definição. Nos anteriores, como o da briga cartunesca dos motoristas na estrada, o da garçonete que se culpa por querer vingança, o do pai que protege sua cria entregando um funcionário para o sacrifício, ou o grandioso revide moral do tipo James Stewart vivido por Ricardo Darín, todos trabalham o conceito da negação da racionalidade em alguém que é levado às últimas consequências, a estupidez tragicômica da obliteração da lucidez. Somente no episódio do casamento temos uma reflexão realmente profunda que evidencia o fato de que somos selvagens domados por rituais diários autoimpostos, com a plena consciência de que são frágeis ilusões, alegoricamente representadas pela festa que oficializa o contrato, animais passionais que buscam instintivamente pelo cabresto, que beijam a mão daquele que os cerceia, que encontram paz na convicção em deuses que seguram firmemente a coleira. 
Octavio Caruso
TOP - Sexta-Feira 13

Foi através de Jason Voorhees que conheci os gialli italianos em minha pré-adolescência, percebi que eles exerceram mais do que uma influência, os diretores norte-americanos dos slashers estavam copiando descaradamente sequências inteiras, os mesmos enquadramentos. Mas essa constatação não diminuiu meu carinho pelas peripécias do jovem filhinho da mamãe de Crystal Lake. Revendo toda a franquia para preparar essa postagem, reafirmei meu desprezo pelos episódios 5, 7, 8 e 9, bobagens que não funcionam como terror, nem como terrir. “Jason X” e “Freddy Vs. Jason” são curiosidades bizarras, com o último ganhando alguns pontos pela oportunidade de ver Robert Englund pela última vez no papel do carismático pedófilo de Elm Street. Eu irei escrever sobre os filmes no especial “Faces do Medo”, então eu não vou fazer análises longas aqui sobre cada obra, apenas despretensiosos comentários abordando a razão da posição na lista, que está, vale ressaltar, em ordem de preferência.


1 - Sexta-Feira 13 – Parte 2 (Friday the 13th - Part 2 - 1981)

O motivo principal que o faz constar na primeira posição da lista não é sua trama, nem a estilosa versão 1.0 do protagonista. O diretor Steve Miner, em seu primeiro filme, consegue criar a atmosfera perfeita de medo, copiando os melhores truques dos gialli italianos. Mais do que o gore, o clima constante de pesadelo é o grande mérito da produção, com destaque para os atordoantes quinze minutos finais. Os personagens, algo raro na franquia, são minimamente interessantes e carismáticos. 


2 – Sexta-Feira 13 – Parte 4 - Capítulo Final (Friday the 13th: The Final Chapter - 1984)

Com a responsabilidade de dar um fim ao personagem, algo que seria desrespeitado de forma pífia na produção seguinte, o fraco diretor Joseph Zito foi além de suas capacidades, compensando o roteiro tolo com o maior número possível de mortes criativas, ajudadas pela técnica do mestre Tom Savini em um de seus melhores momentos. É o filme que simboliza os méritos da franquia, com um Jason plenamente estabelecido e uma subtrama ousada envolvendo uma criança, com toques de "A Profecia", Corey Feldman antes de se tornar um dos Goonies. 


3 – Sexta-Feira 13 – Parte 6 (Jason Lives: Friday the 13th - Part 6 - 1986)

A esculhambação começou no anterior, ainda que tentasse ser sério, mas nessa incursão temos um Jason que homenageia a criatura do clássico da Universal Studios: "Frankenstein", sendo ressuscitado por um raio, uma cena inicial que dá o tom divertido que foi o recurso encontrado por todos os monstros da época. A metalinguagem que homenageia a franquia 007, com Jason e seu facão no cano da arma, outro momento impagável. Com roteiro e direção de Tom McLoughlin, na única produção relevante de sua carreira, o resultado é surpreendentemente bom. 


4 – Sexta-Feira 13 – Parte 3 (Friday the 13th - Part 3 - 1982)

O charme do 3D, recurso banalizado hoje, foi o grande mote dessa produção dirigida novamente por Steve Miner, a responsável pelo visual clássico do personagem. Com um irritante grupo de vítimas saído de uma caravana hippie e uma gangue de motoqueiros estereotipados, torcemos pelo silencioso e imponente assassino, o que é o objetivo da obra. O gore é prejudicado pela necessidade de favorecer o 3D, com alguns erros indisfarçáveis.


5 – Sexta-Feira 13 (Friday the 13th - 1980)

O original tem seu valor no contexto do subgênero, tentando capitalizar com o sucesso de "Halloween", mas a realidade é que a trama não se sustenta, a reviravolta final é bastante óbvia. A melhor cena é exatamente o último jump scare, de arrepiar os pelos da nuca, mas o suspense é mal trabalhado. Tem seu charme, mas o roteirista/diretor Sean S. Cunningham, que comandaria alguns anos depois o clássico do "Cinema em Casa": "Primavera na Pele", nunca foi muito competente em seu ofício. 

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