sábado, 16 de julho de 2016

O longa “Menino 23″ revela histórias de meninos negros, vítimas do nazismo no Brasil, em 1930


A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil: os números, que são um alerta, são do relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens. De acordo com o documento, todo ano, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados.

O assunto e a discussão infelizmente são antigos e a partir da próxima quinta-feira (7), mais um capítulo dessa história de violência é contado e disponibilizado para a população. Trata-se da estreia do documentário Menino 23 – Infâncias perdidas no Brasil, de Belisário Franca, sobre meninos órfãos e negros, vítimas de um projeto criminoso de eugenia no início da década de 30.

O documentário é baseado na tese de doutorado do historiador Sidney Aguilar, Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do Trabalho e Violência à Infância Desamparada no Brasil (1930-1945), sobre 50 meninos negros que viviam em um orfanato no Rio de Janeiro e, em 1930, foram levados para uma fazenda no interior de São Paulo e submetidos a trabalho escravo. “As primeiras lembranças de contato com o preconceito latente, porém velado, no Brasil jamais abandonaram minha trajetória como cidadão e como cineasta. Durante esta trajetória de mais de 20 anos de investigação encontrei muitas respostas. Mas o comportamento das elites em relação à infância pobre e o racismo impregnado em nosso cotidiano de forma tão natural quanto nociva ainda estavam na extensa lista de pesquisa. Durante a produção de mais uma série que se dedicava a estudar a história do Brasil, tive contato com o trabalho do historiador Sidney Aguilar”, conta o diretor.

Na ocasião, os meninos escolhidos eram sempre negros e os mais fortes, para  trabalhar na fazenda. Lá, eles eram identificados por números. “Que sociedade era essa que aceitava tais ideologias e tais práticas como sendo não só comuns,como louváveis”, questiona Aguilar, que decidiu iniciar a pesquisa quando soube, em sala de aula, de uma fazenda em que havia tijolos marcados com a suástica nazista.

O filme revela pela primeira vez as histórias e memórias de Aloísio Silva, o “menino 23″, e de Argemiro Santos, e da família de José Alves de Almeida (o “menino dois”), durante o período. “Aquele ato de pegar 50 crianças e levar para o interior de São Paulo, ficarem 10 anos trabalhando em regime escravo. Era uma coisa, aceita por aquela sociedade, aparentemente banal”, aponta o diretor.
Recentemente exibido no Festival Cine Ceará, onde foi realizada a pré-estreia, o longa venceu os prêmios de  Melhor Roteiro e Melhor Montagem. Na apresentação no Cine São Luiz, foi ovacionada pelo público. Para acessar a tese de Aguillar Filho, que serviu de base para o longa, clique aqui.

Assista ao trailer:

Nenhum comentário: