Mais do que nunca, no centro da temporada final da série está Don Draper (Jon Hamm, cada vez mais fantástico). No fim da temporada anterior Don foi “colocado em licença” pela firma de publicidade que ele ajudou a salvar alguns anos antes. Tudo porque, num determinado momento, ele resolveu falar a verdade – algo meio raro para o personagem – sobre a sua origem e sobre sua infância difícil. Foi uma cena que remetia ao final da primeira temporada, quando Don fez seu inesquecível discurso sobre nostalgia na apresentação de uma campanha publicitária. Naquela ocasião, tudo deu certo para ele e para a firma. O produto remetia a um carrossel, mas um carrossel é conhecido por dar voltas… Afinal, a sétima temporada começa deixando claro que dizer a verdade não deu muito certo para Don. Com ele distante, a Sterling Cooper & Partners se reorganizou e, pelo visto no primeiro episódio, a firma não parece sentir muita falta dele e opera sob uma nova dinâmica: Jim Cutler (Harry Hamlin) se torna o chefe das operações do dia-a-dia e Lou Avery (Allan Havey) é o novo chefe do criativo, o antigo trabalho de Don. Peggy Olson (Elisabeth Moss) agora se ressente de que a firma se contenta com o “bom”, ao invés de buscar o “ótimo”. Ela aprendeu bastante algumas lições de Don, porém agora que tem certo poder, se vê mais isolada e triste do que nunca. No entanto, mesmo longe do trabalho Don ainda se mantém inteirado dos acontecimentos do escritório graças a alguns subterfúgios… E ele esconde dos seus familiares o seu “afastamento”: nem sua esposa Megan (Jessica Paré), cada vez mais distante dele por trabalhar como atriz na Califórnia; nem sua filha Sally (Kiernan Shipka) desconfiam. No entanto, ambas descobrem no decorrer dos episódios. Ou seja, Don se encontra exilado num lugar frio, literalmente. Os momentos finais do primeiro episódio, Time Zones, o deixam na sacada do seu apartamento em Nova York, enquadrado através de grades e tremendo pelo frio noturno. A porta que dá para a sacada simplesmente não fecha, e por um momento, quando o vemos caminhando na direção dela, vem a suspeita de que ele possa se jogar de lá, tornando realidade a sequência de créditos de abertura da série – uma animação que mostra um homem caindo. A temporada inteira é dominada por essa sensação, a de que o mundo está deixando essas pessoas para trás de maneira cada vez mais rápida. É um processo profundamente humano: o tempo passa – e um dos temas mais importantes de Mad Men é a passagem do tempo – e sentimos de maneira intensa de que os “novos tempos” não são para nós. À medida que envelhecemos, nos sentiremos distanciados da modernidade, da tecnologia e dos costumes. Nos anos 1960 esse processo foi até mais intenso, pois as mudanças na sociedade – outro tema que Mad Men retratou de maneira irretocável – foram rápidas e revolucionárias. Porém, é possível tentar se adaptar aos novos tempos, e é precisamente esta a trajetória de Don nesta temporada. Este é um personagem que já teve uma segunda chance: quando Dick Whitman se tornou Don Draper, foi a oportunidade dele para deixar para trás uma existência triste e se reinventar. Agora, o vemos tendo que lutar por uma “terceira” chance – será a última? – quando ele decide se reaproximar da firma para tentar voltar ao trabalho. Claro, o retorno dele leva a muitos conflitos dentro da firma – o mais importante deles é justamente com Peggy. A outrora discípula de Don, a esta altura da série, já se tornou uma mulher independente, dona de um cargo importante e capaz de fazer seu trabalho sem a ajuda de um “superior”. A dinâmica entre eles se inverte agora, pois Don é colocado para trabalhar como subordinado dela. Aliás, nestes episódios vemos como Don foi superado por quase todas as mulheres da sua vida: sua ex-esposa Betty (January Jones) diz numa cena que pensa nele agora apenas como um “ex-namorado ruim”, e sua atual esposa vê a distancia geográfica entre eles se tornar um distanciamento também emocional. Mas não é apenas o protagonista que sofre os efeitos de ter sido deixado para trás. Conforme a década se aproxima do fim, os roteiristas da série introduzem ainda com mais força o tema da mudança: Um enorme computador passa a ocupar um grande espaço dentro da forma, e Roger Sterling (John Slattery), que com o passar dos anos tornou-se apenas uma casca de ser humano, se vê forçado a confrontar uma situação delicada com a filha, que se torna hippie. Aí um estranho contraste se forma entre Roger e Don, já que este acabou se aproximando da sua filha após ela conhecer a verdade sobre seu pai no final do ano anterior. Sally chega a dizer ao pai que o ama, num dos momentos mais tocantes da temporada, tornado ainda mais comovente pela forma completamente discreta como é mostrado. Mesmo abordando com tanto interesse o tema da mudança, os roteiristas de Mad Men não esquecem de que algumas pessoas não realmente mudam. Pete (Vincent Kartheiser) continua um idiota, Betty continua uma pessoa distante e uma mãe não muito boa. Ted Chaough (Kevin Rahm) continua um dos personagens mais “gente boa” da série, mas isso não lhe rende benefício algum, isolado na Califórnia – sua “tentativa de suicídio” rende algumas risadas no episódio final. O tempo parece deixar algumas pessoas para trás porque elas se recusaram a se adaptar a ele, é o que parece indicar a visão de Matthew Weiner. Ao mesmo tempo em que nos espantamos com as mudanças e buscamos nos adaptar a elas, às vezes até desesperadamente, sob o risco de nos tornarmos obsoletos, há a necessidade de querer que as coisas permaneçam como estão, pelo menos por mais algum tempo. Sem nostalgias bobas ou idealizações, os episódios finais desta “mini-temporada”, de certa forma, buscam um breve retorno à dinâmica que presenciávamos no primeiro ano. Com o tempo, Peggy, Don e Pete voltam a trabalhar juntos, fazendo aquilo que sabiam de melhor, mas agora modificados por anos de experiências boas e ruins. Era bom vê-los na agência no começo da série, e continua bom vê-los agora, mas tudo um dia acaba. A decisão de cortar na metade essa temporada final de Mad Men e exibir os últimos episódios apenas em 2015 não faz muito sentido do ponto de vista narrativo, mas o retorno de Don Draper e sua terceira/última chance na agência serve para nos reconectarmos com ele e com aqueles personagens que acompanhamos por tantos anos. Talvez já prevendo a saudade que sentirá destes personagens, Matthew Wiener faz, por um breve momento, com que seja recapturada a atmosfera do começo, provavelmente porque ele mesmo sentirá falta quando acabar, assim como nós. Afinal, o tempo passa e algumas coisas se perdem, mas isso não se significa que elas não possam ser reencontradas, mesmo que por poucos instantes. |
segunda-feira, 9 de março de 2015
Resenha de seriado: Mad Men – 7a. Temporada Parte 1
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