sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Diálogos envolventes e inteligentes em uma atmosfera de suspense: assim é o cinema de Tarantino

Quem nunca desejou comer um super hambúrguer em uma das mesas-carro da emblemática cena de Pulp Fiction – Tempo de Violência?,  estrelado por Uma Thurman  e John Travolta –  bem menos mocinho do que nos  tempos da brilhantina –, os dois protagonizam uma das cenas mais suculentas e “dançantes” do cinema e sem perder o tom bem Tarantino de ser: com longos e envolventes diálogos e fotografia marcante.

O longa é também um dos preferidos do crítico paulistano Marcelo Lyra, que a partir da próxima semana ministra o workshop A Obra de Quentin Tarantino, no SESC Ipiranga. As aulas vão de 4 a 28 de fevereiro, e serão realizadas sempre as quartas e sábados, das 19h às 21h30. As inscrições estão abertas enquanto houver vagas. Acesse o site do SESC e saiba como participar.

Marcelo Lyra é um grande estudioso e fã da obra de Tarantino e já ministrou vários cursos sobre a filmografia do diretor. “É importante falar da forma como ele navega pela ação, pelo suspense e intercala isso com o humor”, explica. No curso, Lyra vai passar por todos os filmes de Tarantino, pontuando situações, características e técnicas utilizadas em diversos momentos e cenas.

Conhecido principalmente por seus roteiros não-lineares, diálogos fortes contrapostos com momentos de suspense e o uso da violência,  o cinema de Tarantino foi responsável por dar uma vida nova ao padrão de filmes norte-americanos. Para o suspense, Tarantino se inspirou e se deixou influenciar bastante por Hitchcock, que foi determinante na maneira de ele construir o suspense da narrativa. “A técnica de construção de suspense é toda do Hitchcock. Ele só retrabalha o uso de diálogos e faz isso de forma genial: ele coloca conversas paralelas à cena de suspense que se desenrola”, explica e complementa: “Ele cria o choque entre dialogo e imagem. Enquanto a imagem mostra suspense, o diálogo tira dessa tensão“. Para exemplificar, Lyra lembra do início deBastardos Inglórios, em que o diálogo prende sua atenção enquanto a imagem mostra os judeus presos. “Há uma tensão muito forte ali, mas o diálogo é incrível e te envolve”, relembra, empolgado.

Outra diferença marcante destacada por Lyra é a direção de atores. Enquanto Hitchcock escolhia os atores pelo que eles eram e não dava qualquer tipo de orientação, Tarantino se envolve com a cena. “Tive oportunidade de conversar com Maria de Medeiros, atriz de alguns filmes do diretor, como Pulp Fiction, e ela contou que o Tarantino praticamente fazia a cena, mostrava como ele queria, até entonação da voz ele mostrava, era muito detalhista”, conta.

O crítico destaca também influências do Blaxploitation (gênero de cinema que mostrava os guetos negros dos EUA nos anos 70), do Spaghett Western (faroeste italiano), dos filmes japoneses da Máfia Yakuza, entre várias outras influências que foram determinantes também para o ponto mais marcante dos filmes: a violência e a presença constante de pessoas apontando armas umas para as outras.

Para Lyra, o sucesso de Tarantino e o fascínio que seus filmes causam sobre tantos cinéfilos se deve principalmente a capacidade do diretor de se deixar influenciar por tantos gêneros. “Acho incrível essa habilidade que ele tem de misturar elementos da cultura pop com o cinema trabalhado tecnicamente e de forma impecável”, revela. Com tantos pontos de tantos gêneros, Tarantino consegue falar para um público mais abrangente.

E se você ainda não conhece nenhum filme do diretor, Lyra até se confunde ao escolher um para indicar. “Pulp Fiction reúne todas essas características que comentei, por isso é o escolhido. Mas não posso deixar de fora Cães de Aluguel, Kill Bill e Bastardos Inglórios.

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