quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

‘Estrelas Além do Tempo’: barreiras sendo derrubadas, além do tempo


Na década de 1960, auge da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, um grupo de mulheres negras quebra inúmeras barreiras dentro da NASA e se torna essencial para o sucesso dos Estados Unidos na corrida espacial que era travada com a União Soviética.
Mulheres. Negras. Em um ambiente majoritariamente masculino como é, ainda hoje, o universo da engenharia/física/matemática. Nos anos 60.
O último parágrafo foi repetitivo, eu sei, mas é que acho que valia a pena destacar com bastante ênfase esse contexto, que justifica, por si só, o entusiasmo que provoca a história contada em “Hidden Figures”. Quando o filme acabou, vi a sala de cinema explodir em palmas — algo que eu não presenciava há tempos.
O filme é sobre a história real de três mulheres geniais: Katherine G. Johnson (interpretada brilhantemente por Taraji P. Henson, que, injustamente, não foi indicada ao Oscar), Dorothy Vaughan (a sempre ótima Octavia Spencer, que levou o Oscar por “Histórias Cruzadas” e foi indicada de novo agora) e Mary Jackson (papel da cantora Janelle Monáe*).
Pergunta: se elas eram tão geniais e foram tão importantes na história do homem do espaço, por que nunca ouvimos seus nomes antes? Todos nós, superleigos, crescemos ouvindo falar de Yuri Gagarin, John Glenn, Alan Shepard, Neil Armstrong e até da cadelinha Laika. Mas nada de Katherines, Dorothys e Marys em nossos repertórios.
É simples: elas eram mulheres. E negras.
Esse filme já é incrível e tem grande mérito por tirar de debaixo do tapete a história dessas mulheres e das outras que formavam o time de “computadores humanos” da Nasa. Faz isso por meio de interpretações que já elogiei (e que incluem ainda outros bons atores, como Kirsten Dunst, Kevin Costner, Mahershala Ali e o eterno Sheldon Jim Parsons). Mas também por meio de um roteiro bem traçado, que tem seus lances de humor e romantismo, que tornam a história muito mais leve e ágil, mesmo passando por conceitos difíceis da ciência e com todas aquelas equações que mais parecem grego. (O roteiro também foi indicado ao Oscar.)
Ah, e ainda tem aquela trilha sonora! Que maravilha! Ruth Brown, Ray Charles, Miles Davis e outros monstros, em canções cheias de blues e soul.
Por tudo isso, “Estrelas Além do Tempo” (vamos combinar que a tradução do nome ficou breguíssima), que também concorre a melhor filme do ano, merece ser visto e estudado, ainda que reservando a devida crítica para a perspectiva temos-que-torcer-pelos-Estados-Unidos-uhuuuuu!. Na minha opinião, essa questão geopolítica perde peso diante das outras barreiras que vão sendo desmontadas na telona. Dos banheiros “para negras” às escolas “só para brancas”, passando pelas promoções que nunca chegam, pelas secretárias racistas e pelos tribunais e protestos. A luta estava sendo travada em várias frentes e foi só por isso que a segregação racial pôde ser, finalmente, tardiamente e legalmente, derrubada na terra de Obama.
Assista ao trailer do filme:

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