quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

[Resenha/Crítica]: The Lobster

260x365_1432565322Uma pesquisa realizada em 2013, pelo IBGE, divulgada amplamente nos principais jornais do Brasil, revelou que os jovens, principalmente os homens, estão saindo cada vez mais tarde de casa. É a chamada geração canguru, em uma alusão ao fato das fêmeas desta espécie animal carregarem seus filhotes em uma bolsa localizada junto à barriga. Na sociedade em que vivemos, hoje, isto não é nenhum problema. Trata-se apenas de uma mudança de comportamento em relação às gerações de nossos pais e avós. No entanto, imagine, agora, se, em um futuro nem tão distante assim, for decretada uma lei que obrigue as pessoas a se casarem depois de uma determinada idade. Ou ainda: que não permita que ninguém fique desquitado ou viúvo por muito tempo. Imaginou? Calma, pois ainda tem mais. Como qualquer lei, o seu descumprimento é passível de uma punição e esta seria a transformação do infrator em um animal de sua escolha. Surreal, não é mesmo? Não para o cineasta grego Yorgos Lanthimos, o cérebro genial por trás de The Lobster (em tradução literal – A Lagosta), um dos filmes mais criativos dos últimos tempos.
Primeira produção internacional do realizador, totalmente falada em inglês, vencedora do Prêmio Especial do Júri – Produção Independente – no Festival de Cannes de 2015, esta comédia romântica, repleta de humor negro, conta a história de David (Colin Farrell – True Detective), um arquiteto que ficou recentemente viúvo. Expirado o tempo limite que tinha para permanecer sozinho, ele viaja para o hotel aonde todos os solitários são enviados em busca de sua alma gêmea. Chegando lá, ao fazer o check-in, é obrigado a responder a pergunta inevitável: em que animal gostaria de ser transformado, caso falhe na missão de encontrar uma nova parceira? A resposta é imediata: uma lagosta. Os motivos são vários. Por viver mais de 100 anos, ter sangue azul e permanecer fértil até o fim da vida. Se em 45 dias ele não encontrar um amor de verdade, este será seu destino. A única chance de prorrogar este prazo sem encontrar alguém, é participando de uma misteriosa caçada em uma floresta nos arredores do estabelecimento turístico. Neste ambiente convidativo e hostil, simultaneamente, David conhecerá figuras esquisitas e sua vida tomará um rumo inesperado.
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De um jeito completamente diferente de tudo o que já foi filmado, este longa fala de amor, de como é difícil viver com alguém, mesmo quando temos certeza que gostamos desta pessoa, e do medo que a maioria tem, ainda que não admita, de morrer sozinho. A verdade é que o cineasta só conseguiu criar esta história por causa da época em que vivemos. Quando os casamentos eram acertados em arranjos familiares, celebrados em função de interesses sociais ou políticos, amor era uma palavra sem sentido. As pessoas simplesmente casavam e ficavam juntas até o fim da vida.
O maior trunfo de The Lobster é o seu fabuloso roteiro. Este é um filme que depende, essencialmente, de sua história. Toda a parte técnica, aqui, é complementar. Logo, para que este futuro distópico fizesse sentido e despertasse no público a vontade de acompanhar sua trama até o fim, não poderia haver furos. Pode ser que algumas pessoas levem um tempo para entenderem tudo, mas as peças estão lá. Cada detalhe foi muito bem pensado. E como seria difícil acreditar em distopia sem rebeldia, na total submissão dos homens às leis, este aspecto também foi contemplado no texto final. Em termos de originalidade, esta obra de Lanthimos pode ser comparada, sem nenhum demérito ou receio de parecer pretensioso, a “Fahrenheit 451” (1966), de François Truffaut, e “Quero Ser John Malkovich” (1999), de Spike Jonze.
E se a história não for suficiente para convencer os adeptos de filmes, digamos, mais convencionais, é só pensar o seguinte: seu protagonista, Colin Farrell, está em franco renascimento profissional. Quem viu a segunda temporada de “True Detective” sabe disto. Aqui, ele dá mais um show de interpretação. E ele não está sozinho. O elenco internacional reunido pelo diretor conta com Rachel Weisz (A Luz Entre Oceanos)Léa Seydoux (Azul é a Cor Mais Quente)John C. Reilly (O Deus da Carnificina) e Angeliki Papoulia (colaboradora frequente do grego), todos muito bem em seus papéis. E há, também, uma fotografia esplêndida que fará o espectador mais reticente querer viajar, o quanto antes, para aquele hotel e responder àquela pergunta incômoda de qualquer maneira: Eu quero ser um camundongo, por favor.
Nota do CD:
★★★★☆
Sinopse:
Em um futuro próximo, uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é preso e enviado a um hotel, onde terá 45 dias para encontrar um(a) parceiro(a). Caso não encontrem ninguém, eles são transformados em um animal de sua preferência e soltos no meio da floresta. Neste contexto, um homem se apaixona em plena floresta – algo proibido, de acordo com o sistema.
Trailer do Filme:


Ficha Técnica:
Gênero: Romance
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Efthymis Filippou, Yorgos Lanthimos
Elenco: Angeliki Papoulia, Anthony Moriarty, Ariane Labed, Ashley Jensen, Ben Whishaw, Colin Farrell, Degnan Geraghty, EmmaEdel O’Shea, Ewen MacIntosh, Heidi Ellen Love, Jacqueline Abrahams, Jessica Barden, John C. Reilly, Léa Seydoux, Michael Smiley, Nancy Onu, Olivia Colman, Rachel Weisz, Roger Ashton-Griffiths, Rosanna Hoult, Seána Kerslake, Stephen Ryan
Produção: Ceci Dempsey, Ed Guiney, Lee Magiday, Yorgos Lanthimos
Fotografia: Thimios Bakatakis

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