terça-feira, 20 de dezembro de 2016

[Resenha/Crítica]: Animais Noturnos

animais
Um filme que funciona (bem) com cenas isoladas. Mais nada.
Mulheres gordas, dançando, são expostas em um trabalho de arte da protagonista, impactante e “quase” sem sentindo, até seria legal se houvesse um link mais tarde sobre essa façanha. A protagonista leva um susto ao ver um vídeo no celular de outra pessoa – um susto que não diz a que veio. Jake Gyllenhaal (Os Suspeitos), em momento de desespero, literalmente se desespera, não era pra tanto, ou era? Melhor não. Um filme dentro do filme, que tem mais tempo que o próprio filme. Pra quê? A resposta é simples, senão não existiria o filme. O que Amy Adams faz em A Chegada nem dá pra comparar com o que ela faz em Animais Noturnos, ela está linda, lânguida e deprê, como pede a sinopse do filme, mas perde em brilho e carisma. Por tudo isso e mais algumas “gracinhas” do roteiro, Animais Noturnos não é um grande filme, mas que tem porte de “grandioso” e, com grandes chances de ganhar alguns prêmios por sua produção, que é quase impecável. Animais Noturnos funciona com ótimas cenas isoladas, mas um filme não é feito só com cenas destacadas, é preciso bem mais.
Tom Ford tinha uma carreira consolidada no mundo da moda. Estilista e revitalizador da famosa marca Gucci. Em 2009, dirigiu O Direito de Amar. Em seu primeiro filme, ele conta, com delicadeza, a história de um homem, nos anos 60, que perde o seu companheiro, juntos há dezesseis anos. O filme é todo banhado em poesia e melancolia, com a perda do ser amado e com visual impactante, mesclando flashbacks com as dores do momento atual. Agora, Tom chega com seu segundo filme, Animais Noturnos, mas sem a mesma magnitude do primeiro. Ou melhor, se perde contando uma história que não nos importamos e, se não houvesse essa história, seria um curta de quinze minutos.
animais2Animais Noturnos conta a história de Susan, uma mulher com semblante triste e pesaroso, casada com um homem que a trai. Um dia recebe um livro de seu ex-marido, Edward, com quem foi casada na juventude. O livro é dedicado à Susan e relata a viagem de um casal e sua filha, que são obrigados a parar o carro no meio da estrada e que são violentados covardemente. Aqui começamos o problema de Animais Noturnos, pois a história do livro toma a maior parte do filme, sendo que aquilo que vemos é a “ficção” do livro que Susan está lendo. E o formato do filme vai sendo revelado. Veremos a vida atual (em frangalhos) de Susan, flashbacks (malditos) de momentos do passado, com Edward e a famigerada história de vingança do livro. É muita coisa que não faz ligação, que não se conecta, ou se conecta forçadamente, em demasia, como o personagem do livro, que toma banho e a personagem “da vida real” também – um tanto cafona. E ainda me pergunto por que Jake Gyllenhaal intercala nos papéis de marido no livro e nos flashbacks, enquanto a esposa de Amy Adams (A Chegada) foi trocada por Isla Fisher (O Grande Gatsby). Pra quê? Não existem respostas. Animais Noturnos, em seus primeiros minutos, é perfeitamente bem trabalhado, com ares de alguma propaganda famosa, podendo ser da Gucci, que Tom Ford conhece bem, mas a junção dessas histórias não é agradável de acompanhar, não há grande interesse. Em alguns momentos passamos por cenas sofríveis por conta dos diálogos que chegam perto do risível – e não era pra rir.
animais3O elenco tenta trabalhar com o que tem em mãos. Amy Adams, apaticamente bela e desprovida de qualquer vigor, está o contrário de sua personagem no magistral A Chegada, onde cada aparição é cheia de simbolismo, exalando emoção. Jake Gyllenhaal está alguns tons acima do seu normal (um dos seus piores), mas vejo mais como um problema de direção e que foi prontamente atendida – salvemos Jake. E ainda me pergunto por que seu personagem fica frente a frente com o policial e os seus algozes. Pra quê? Não temos respostas.  Michael Shannon (O Homem de Aço) é o que está melhor em cena, engolindo quem está ao seu redor, mas é outro personagem que não tem muito a render, infelizmente. Aliás, a história do livro é uma m… Deixa pra lá. E temos uma ótima presença de Laura Linney (Sully-O Herói do Rio Hudson), 52 anos, como mãe de Amy Adams, 42 anos. A gente faz de conta que acredita. Michael Sheen (Tron-O Legado), em apenas uma cena, faz um gay, casado com uma mulher rica e dispara “acredite em mim, nosso mundo é muito menos doloroso do que o mundo real”, não precisou de mais nada. Ótimo!
Animais Noturnos, em alguns momentos, tem presença visualmente forte e bela, tentando dizer algo com aprofundamento, mas tudo se dilui rapidamente, sem grandes expectativas. E com sua segunda incursão na direção de um filme, Tom Ford revela a vingança de amores mal resolvidos, mas que não consegue juntar todos os pontos em um denominador comum. Se fossem dois filmes – melhor construídos, seriam mais prazerosos em ser degustados. Mas, repito, ele funciona com ótimas cenas isoladas, mas só isso não basta.
Nota do CD:
★★☆☆☆
Sinopse:Animais Noturnos conta a história de Susan, uma mulher com semblante triste e pesaroso, casada com um homem que a trai. Um dia recebe um livro de seu ex-marido, Edward, com quem foi casada na juventude. O livro é dedicado à Susan e relata a viagem de um casal e sua filha, que são obrigados a parar o carro no meio da estrada e que são violentados covardemente.
Trailer do Filme:
Ficha Técnica:
Gênero: Drama
Direção: Tom Ford
Roteiro: Tom Ford
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Amy Adams, Andrea Riseborough, Armie Hammer, Beth Ditto, Ellie Bamber, Evie Pree, Franco Vega, Graham Beckel, Imogen Waterhouse, India Menuez, Isla Fisher, Jake Gyllenhaal, Karl Glusman, Laura Linney, Michael Shannon, Michael Sheen, Neil Jackson, Robert Aramayo, Zawe Ashton
Produção: Robert Salerno, Tom Ford
Fotografia: Seamus McGarvey
Montador: Joan Sobel
Trilha Sonora: Abel Korzeniowski
Duração: 115 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 29/12/2016 (Brasil)
Distribuidora: Universal
Estúdio: Focus Features / Universal Pictures

Um comentário:

Tips en finanzas disse...

Nocturnal Animals tem acertos impressionantes para um diretor/roteirista que saiu do mundo da moda, especialmente por editar tão bem duas narrativas distintas; ao mesmo tempo que peca por tentar forçar essa conexão sentimental entre elas, que também sofrem de uma diferença notável de qualidade quando colocadas frente a frente. É bem provável que esta obra descole algumas indicações nos próximos meses. Pela atuação incrível de Amy Adams e ainda melhor que em Arrival, pelo grande personagem de Michael Shannon, pela direção de Tom Ford e talvez pelo roteiro incomum. Difícil dizer quais serão as vitórias, mas Adams certamente faz por merecer pelo menos a indicação.