quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Degustando com os olhos: Conheça o Slow Food, movimento gastronômico que também vem inspirando o cinema. Documentário “Comer o quê?” examina essas práticas


Comer com calma, saboreando o gosto do alimento. Frutas e verduras frescas, de preferência da estação. Evite comidas industrializadas, é muito mais saudável cozinhar em casa. E, melhor de tudo, divida a mesa com pessoas queridas. Essas são as premissas do slow food, movimento gastronômico que surgiu como um contraponto à cultura das refeições rápidas e processadas.

O conceito promove a sustentabilidade ao resgatar velhos hábitos alimentares. Como a prática conhecida como “quilômetro zero” que propõe o consumo de alimentos que não tenham percorrido grandes distâncias até o consumidor final. O uso de produtos regionais, além de fazer parte da tradição culinária, ajuda a proteger da extinção esses ingredientes, como explica Alex Atala, em depoimento ao documentário Comer o quê? (2016).

“Há mais ou menos dez anos bateu na minha porta um pequeno produtor de arroz e me apresentou uma variedade de arroz preto. Ele tava desesperado, não conseguia vender o produto por ser diferente. A gente fez uma parceria e já estamos produzindo outras variedades. O mais legal ver é que atualmente na região do Vale do Paraíba, antes tomada pela plantação do arroz agulhinha, se inclina para produção do arroz especial. Ou seja, comer melhor, comer gostoso, está fazendo bem pra muita gente”, conta o chef de cozinha paulista.

Dirigido por Leonardo Brant, o longa vasculha os hábitos alimentares dos brasileiros contando com uma série de personalidades ligadas ao mundo de alimentação, como Bela Gil, Marcos Palmeiras e Márcio Atalla.

“A alimentação define a nossa estrutura econômica, dita o modelo de sustentabilidade, contorna a nossa cultura. E percebi o quanto a gente negligencia algo tão relevante e vital, não só individualmente, quanto para o coletivo. O documentário reúne todas essas inquietações, mas apresenta alternativas. São muitos os movimentos que auxiliam a percepção e a construção de uma vida mais saudável a partir da alimentação. As hortas urbanas, que no filme são apresentadas pela Cláudia Visoni, são um exemplo disso. A comida orgânica, mostrada a partir do trabalho do Rodrigo Junqueira, também. Evitamos trazer dietas e defender algum tipo de alimentação específica. Buscamos apresentar a relação que a comida tem com a cultura e a cidadania, municiando o público de informação e visão crítica”, defende o diretor.

O audiovisual é uma importante ferramenta na divulgação desse novo modelo de alimentação. Como é o caso do Slow Filme – Festival de Cinema, Alimentação e Cultura Local.  A sétima edição da mostra foi realizada entre os dias 15 e 18 de setembro, na cidade de Pirenópolis, em Goiás. A programação reuniu 24 títulos do Brasil e exterior que têm em comum a preocupação em registrar as tradições e práticas culinárias.

“Esses filmes reafirmam a importância de aprender com os antigos a respeitar as estações do ano e sua oferta de alimentos, a enxergar a produção regional como fonte generosa de ingredientes para a gastronomia e a valorizar o conhecimento adquirido como aprendizado para tornar melhor o planeta nos dias atuais”, afirma a organização do evento.

COLHENDO BOAS IDEIAS

Da colheita de açaí no Pará aos produtores de queijo no sertão do Sergipe, o cardápio dos filmes inspirados pelo slow food é rico e variado. Confira:

Ouro Negro da Floresta (2010, 52 minutos)
O documentário de Delvair Montagner mostra como as mudanças econômicas afetaram o cotidiano de um grupo de pequenos agricultores no Pará. O filme registra toda a escala produtiva do açaí: do plantio, ao manejo, da coleta ao transporte, desta que é a principal fonte de renda da localidade.

Guardiãs Do Queijo Coalho Do Sertão (2013, 14min)
O curta apresenta o modo de vida de mulheres sertanejas dos municípios de Monte Alegre de Sergipe, Porto da Folha e Nossa Senhora da Glória. O foco é na produção artesanal do queijo coalho e sua relevância para a comunidade e a economia local.

A Galinha que Burlou o Sistema (2011, 15 minutos)
Dirigido por Quico Meirelles, a ficção mostra uma galinha que se encontra numa granja industrial e toma consciência, numa espécie de iluminação, de toda a engrenagem que sua vida integra.

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