segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A Mulher Que Se Foi

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Vencedor do Leão de Ouro, no festival de Veneza deste ano, A Mulher Que Se Foi, é uma obra que exige dedicação do espectador, que deverá se concentrar por quase quatro horas de projeção. A duração de 228 minutos, é tão longa, que os realizadores do Festival do Rio, resolveram fazer uma pausa durante o filme para que pudêssemos esticar as pernas e beber uma água. A decisão, ao menos para mim, foi fundamental, pois a narrativa é realmente lenta, mas a beleza retratada no longa e seu desfecho é recompensador para quem permanecer até o último minuto.

A Mulher Que Se Foi foi roteirizado e dirigido por Lav Diaz, que é conhecido por seus filmes longos. A trama apresenta Horácia, uma mulher que foi presa injustamente e que cumpria 30 anos de pena, quando a verdadeira culpada, que, posteriormente, também foi presa, por conta de outro crime e virou sua amiga no cárcere, resolveu confessar a autoria. Em um primeiro momento, Horácia, tentou encontrar sua família, que durante esse tempo nunca lhe fez uma visita. Assim, ela descobriu que seu marido estava morto, sua filha casada e seu filho desaparecido. Desolada por ter deixado de viver junto as pessoas que amava e consciente que sua tragédia fora arquiteta por seu ex-namorado, ela resolveu então iniciar uma jornada em busca de vingança.

A proposta de A Mulher Que Se Foi é que o espectador acompanhe de perto cada uma das etapas dessa jornada, elaborando com calma os passos da protagonista e introduzindo novos personagens, que, também, são desenvolvidos com tranquilidade para que suas ações sejam todas justificáveis no futuro. As cenas são longas, demonstram que, por mais que tenha um foco em seus atos, Horácia ainda não sabe exatamente o que precisa fazer para obter êxito em seu plano. As cenas são dispostas praticamente sem trilha sonora e o silêncio algumas vezes fala mais do que qualquer outra coisa. Ela sofre, ela se demonstra forte, mas sofre. As pessoas que conhece, ela acolhe, sempre foi assim… Foi assim na prisão, quando ensinava os outros a ler ou cuidava deles. Horácia não é uma pessoa ruim, Horácia perdeu o sentido pela vida, sofre pelo passado e não encontrou outro motivo para viver.

Lav Diaz faz questão de apresentar as cenas como se elas tivessem de verdade ocorrendo. Sua montagem é lenta e denota uma realidade absurda. Se é para vermos alguém se contorcer de dor, é para vermos realmente, nem que fiquemos quase 2 ou 3 minutos conferindo a pessoa agonizar.  A fotografia em preto e branco é linda, remete também a um senso de realidade, principalmente por conta da iluminação empregada nas cenas, através de postes de ruas, por exemplo, e sem grandes tecnologias. Essas são decisões interessantes, que fazem de A Mulher Que Se Foi diferente e especial, mas que, também, o torna um filme que exige desafios, o que termina por afastar o grande público. 1 hora a menos não faria mal a trama, não que isto seja um grande problema, mas é algo que faria a produção crescer, ainda mais.
Nota do CD:
4 out of 5 stars
Sinopse: Horacia passou os últimos 30 anos numa penitenciária feminina. Ex-professora de escola primária, ela leva uma vida tranquila ajudando suas companheiras a praticarem a leitura e a escrita. Quando outra detenta confessa ter cometido o crime original, Horacia é libertada e parte em busca de sua família então distante. Enquanto procura pelo filho desaparecido, Junior, Horacia descobre novamente sua terra natal – as Filipinas do final dos anos 1990 –, apenas para concluir que seus habitantes vivem aterrorizados pela corrupção e sequestros desenfreados. Sua personalidade generosa fica contaminada por sentimentos de vingança.

Trailer:

Ficha Técnica:
Título original: Ang Babaeng Humayo
Direção: Lav Diaz
Distribuição: Zeta Filmes
Data de estreia: 06/04/17
País: Filipinas
Ano de produção: 2016
Duração: 228 minutos
Elenco: Charo Santos-Concio, John Lloyd Cruz

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