domingo, 16 de outubro de 2016

Redemoinho

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Redemoinho chamou a minha atenção pelo nomes diretamente envolvidos no projeto e pela promessa de ser um filme com poucos eventos a apresentar e muito a se apreciar. A presença na disputa de longa de ficção do Festival do Rio 2016 também me motivou a conferir a produção, em uma sessão, que contou com um debate, juntos aos realizadores, ao seu término. O longa é muito interessante e prende a atenção desde o primeiro minuto, pois não entrega seus fatos de primeira, mas deixa no ar uma sensação de que logo alguma coisa de muito ruim vai acontecer.

>> Essa crítica foi escrita para a cobertura do Festival do Rio 2016 e clicando aqui, você confere mais textos!

A trama de Redemoinho apresenta dois amigos de infância, Luzimar e Gildo, que não se viam há bastante tempo. Criados juntos e companheiros de futebol, em Cataguases, interior de Minas Gerais, a vida reservou aos dois destinos muito diferentes. Gildo,com grandes ambições para sua vida, se mudou para São Paulo em busca de um emprego melhor, enquanto Luzimar continuou em sua pequena cidade e conseguiu um emprego em uma fábrica de tecelagem, que ali se instalou. Quando um reencontro em pela noite de natal ocorreu, a alegria tomou conta da dupla, mas fatos do passado, que marcaram suas adolescências, logo seriam revividos e memórias dolorosas criariam um clima de tensão e turbulência entre eles.

As atuações são muito fortes em Redemoinho e a dupla principal formada por Irandhir Santos (TatuagemTropa de Elite 2) e Julio Andrade não decepciona. Os dois personagens são muito bem construídos, seja por sua impulsividade ou passividade e a carga dramática para os momentos de revelação proporcionam grandes cenas. Irandhir é, junto de Wagner Moura (ElysiumNarcos), o ator mais completo que temos no Brasil e Julio está crescendo muito. Só no Festival do Rio o ator emplacou três produções, sendo esta uma delas e as outras Elis eSob Pressão. Não duvidem ganhar mais destaque nos próximos anos, qualidade para tal ele já demonstrou. O elenco feminino, apesar de menos tempo em tela, também está muito bem e com nuances de tristeza constante e sensação de abandono, Cassia Kiss (Chico Xavier) eDira Paes (E Aí… Comeu?) conquistam o espectador. São mulheres sofridas, que batalharam para serem alguém e não conseguem desfrutar da companhia de quem ama, sejam filhos, maridos ou qualquer outra coisa.

Walter Carvalho (Febre do RatoHeleno) entrega um trabalho magnífico de fotografia, sendo este o aspecto técnico mais perceptível do projeto. Ele aproveita todas as possibilidades naturais proporcionados pelo cidade, promovendo cenas memoráveis e lindíssimas, que ressaltam aos olhos do espectador e faz crescer a ansiedade pelo desfecho. Por falar em desfecho, esse é o ponto negativo do filme de José Luiz Villamarim, que impressionou a televisão com Amores RoubadosRebu e Justiça, resolvendo assim lançar um longa metragem. As conclusões dos tópicos apresentados não conseguem atingir a expectativa que o filme promoveu ao de longo de sua projeção, sendo algumas vezes muito simplistas e não indo a fundo para impactar 100% quem está assistindo. Soou como algo mecânico.

Apesar disso, temos aqui mais um belo exemplar do cinema brasileiro, um filme, com potencial para ter sido memorável, mas ainda assim, urgente, necessário, muito bonita e acima da média. Que nosso Redemoinho continue promovendo ventos que nos permitam apreciar mais filmes desse nível por aqui.

Nota do CD:
3.5 out of 5 stars


Sinopse:
Luzimar e Gildo são dois grandes amigos de infância que se reencontram depois muitos anos afastados. Eles cresceram juntos em Cataguases, interior de Minas Gerais. Luzimar nunca saiu de sua cidade e trabalha numa fábrica de tecelagem. Gildo se mudou para São Paulo, onde acredita ter se tornado um homem mais bem sucedido. Na noite de Natal, Luzimar e Gildo se confrontam com o passado e, num intenso e turbulento mergulho na memória, partem para um perigoso acerto de contas.


Trailer do Filme:
Ainda não disponível



Ficha Técnica:
Direção: JOSÉ LUIZ VILLAMARIM
Roteiro: GEORGE MOURA
Produtora:BANANEIRA FILMES
Produção: VANIA CATANI
Fotografia: WALTER CARVALHO
Montagem: QUITO RIBEIRO

Elenco: IRANDHIR SANTOS, JULIO ANDRADE, CÁSSIA KIS MAGRO, DIRA PAES, CAMILLA AMADO, DÉMICK LOPES, CYRIA COENTRO, INÊS PEIXOTO

O Festival do Rio está falando sobre muitas historinhas, pessoinhas, que invadem a tela com seus não-acontecimentos, suas não-ações. Isso obviamente não tem nada de novo: o hiper realismo vem há muitos anos invadindo cinematografias do mundo todo, a nossa, inclusive, igualmente há muitos anos. Em tese, nada acontece; no fim das contas, um mundo se desdobrou. O cinema italiano bebeu, a França idem, os EUA cada vez mais e por aqui estamos cada vez mais submersos nessa contextualização do nada, um tipo de cinema que me interessa muito.

Foi surpresa pra muita gente que a estreia do diretor televisivo José Luiz Villamarim se desse nessas conjunturas, ainda mais porque ele está vindo de um universo oposto, ainda que de gente muito humana. Produtos como ‘Justiça’ (de Manuela Dias), ‘Amores Roubados’, ‘O Rebu’ (ambos de George Moura) e tantos outros colocaram o diretor Villamarim e Moura na linha de frente global, e eles partiram para o cinema com sua elogiada visão cinematográfica da TV. Não fizeram por menos e arrastaram junto seu fiel colaborador, o genial Walter Carvalho, para a luz. Vindos todos de trabalhos dramaticamente explosivos, a opção por uma narrativa seca provocou muita curiosidade desde sempre, e essa curiosidade se transforma em parcial decepção ao acompanhar o longa pronto.

Na tela, acompanhamos o reencontro de Luzimar e Gildo, amigos de infância, na véspera de Natal. O primeiro nunca saiu de Cataguases e vive de forma mansa a restrita vida interiorana; o segundo mudou-se para São Paulo há muitos anos e, na visita de fim de ano à mãe, esbarra com o amigo, a quem aos poucos vai revelando sua vida na capital. Ao redor deles vive a esposa e a irmã de Luzimar e a mãe de Gildo, e, gradativamente, passado, presente e futuro de todos eles entram em conflito.

Na superfície há pouco ou nada a embarreirar um trabalho tão programado para ser excelente. A fotografia de Carvalho se mostra absurdamente incrível, Villamarim tem um real talento em ebulição dentro de si e conseguiu construir um belo início de transição para voos ainda mais audaciosos, no elenco transitam Irandhir Santos, Julio Andrade, Dira Paes, Cassia Kiss e Cyria Coentro que são talentosos até sob escombros… E ainda assim ‘Redemoinho’ fica no “quase”. Talvez a tal ‘programação para ser excelente’ tenha sido ostensiva demais, óbvia demais. De fato há um grande filme dentro de ‘Redemoinho’, com grandes cenas, grandes interpretações (principalmente as três mulheres, superiores à dupla masculina), mas talvez a ânsia de confeccionar um produto tão micro tenha esgarçado os pontos finais. Alguns diálogos expositivos, outros forçados, levaram a estreia de Villamarim no cinema a compor um painel ligeiramente fake de uma realidade tão próxima.

No fim das contas, sobram belas imagens, sobram talentos envolvidos, mas infelizmente sobra também uma vontade tão genuinamente forte de ser um filme miúdo que essa pequeneza fica evidente e arranha o resultado final, deixando de ser miúdo pelas suas prováveis “intenções”. Mas fica a ansiedade de já ver o próximo trabalho de Villamarim, mais orgânico e menos programado.

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