40 ANOS - TEMPO DE REFLEXÃO
A Mostra Internacional de Cinema tem o privilégio de comemorar o seu 40º aniversário com a arte do grande diretor italiano Marco Bellocchio. Dono de uma das mais importantes e emblemáticas filmografias dos últimos 50 anos, Bellocchio será celebrado com uma seleção de seus filmes mais representativos e com o Prêmio Leon Cakoff pelo conjunto de sua obra. Seu cinema político e humano estará presente também com seus recentes trabalhos: o curta-metragem Pagliacci e Belos Sonhos, filme de abertura desta edição da Mostra.
Para o pôster da 40ª Mostra, Bellochio uniu vários elementos de Bom Dia, Noite (2003), que aborda o sequestro de Aldo Moro pelo grupo extremista Brigada Vermelha. Forças políticas num episódio em que a radicalização, de um lado no ato em si e do outro na recusa do diálogo, levou à morte do antigo primeiro-ministro italiano. Mas a arte também pode nos trazer a convulsão política e social da atualidade. Situações diversas que serão refletidas na programação da Mostra com filmes que abordam grandes questões contemporâneas: o refúgio, a guerra, os conflitos políticos.
Homenageado com o Prêmio Humanidade, o grande cineasta polonês Andrzej Wajda também tem a política e a história como marcas de seu trabalho. Por meio da retrospectiva dedicada a ele, podemos conhecer as transformações políticas e históricas da Polônia.
A retrospectiva Wajda faz parte do Foco Polônia. Um amplo panorama que traz à tona o instigante novo cinema polonês e também uma homenagem ao grande Krzysztof Kieślowski. Dele, serão apresentados os documentários do início de sua carreira e a obra-prima O Decálogo (1988). Os dez filmes feitos para a televisão polonesa foram exibidos pela primeira vez no Brasil na 13ª Mostra, e com enorme repercussão, foram tratados como a revelação daquele ano.
No nosso aniversário de 40 anos, nos permitimos fazer algumas intersecções com a nossa própria história. Aproveitamos a projeção dePaterson para revisitar os primeiros longas de Jim Jarmusch apresentados na Mostra. Como homenagem a esse cineasta tão caro ao nosso público, integram a programação deste ano, além do “poema” Paterson, os filmes Férias Permanentes (1980), Estranhos no Paraíso(1984) e Daunbailó (1986).
Pela ocasião do último filme de Paul Verhoeven, Elle, reapresentamos O Quarto Homem (1983), sucesso estrondoso da 8ª Mostra. A ousadia, o talento e a complexidade de Paul Verhoeven podem ser vistas nesses dois trabalhos que possuem muitos anos de distância.
Da diretora independente americana Bette Gordon, estará presente seu novo longa-metragem, O Afogamento, e o seu primeiro filme,Variety (1984), uma revelação da 9ª Mostra. Desde os anos 1970, Gordon é reconhecida pelo seu papel na representação feminina no cinema abordando temas considerados tabus.
Com a exibição de seu mais recente trabalho, a série The Young Pope, o italiano Paolo Sorrentino também estará presente com seu longa-metragem de estreia, Um Homem a Mais, que fez parte da 25ª Mostra.
Com a exibição de seu mais recente trabalho, a série The Young Pope, o italiano Paolo Sorrentino também estará presente com seu longa-metragem de estreia, Um Homem a Mais, que fez parte da 25ª Mostra.
Todos os anos, a Mostra revela novos diretores e reúne uma ampla seleção de novos filmes de realizadores renomados. Mas o resgate da memória do cinema está sempre presente. Então, a celebração aos cem anos de Paulo Emilio não poderia ficar de fora da nossa programação. No Vão-Livre do Masp, serão apresentados títulos caros ao criador da Cinemateca Brasileira, clássicos da história do cinema e de sua fortuna crítica.
Em conjunto com o Bergmancenter, a Mostra traz ao Itaú Cultural a exposição Por Trás da Máscara - 50 Anos de Persona e exibirá a versão em 2K de Persona (1966), obra essencial do cineasta Ingmar Bergman.
Operação França (1971), grande sucesso dos anos 1970, filme emblemático de sua época, segue admirado e faz 45 anos em 2016. Aproveitando esta data comemorativa, a Mostra reverencia o diretor William Friedkin com o Prêmio Leon Cakoff e a apresentação de seus mais aclamados trabalhos, como O Exorcista (1973) e O Comboio do Medo (1977). O diretor também fará uma aula magna aberta ao público.
Antonio Pitanga, ator símbolo do cinema brasileiro, também será homenageado pela Mostra com o Prêmio Leon Cakoff e estará presente com Pitanga, documentário dirigido por Beto Brant e por sua filha, Camila Pitanga, que reconta sua trajetória por meio do encontro com pessoas que marcaram a sua vida.
Lembramos ainda queridos nomes que nos deixaram neste ano. Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1976), ganhador da primeira Mostra, será exibido em tributo a Hector Babenco.
Improvável Encontro e O Clique Único de Assis Horta serão apresentados em memória ao crítico José Carlos Avellar, idealizador do projeto dos filmes para o Instituto Moreira Salles.
A Mostra ainda relembra o mestre Abbas Kiarostami com a presença de seu último filme, Me Leve pra Casa, e do documentário 76 Minutos e 15 Segundos com Kiarostami, de Seifollah Samadian.
A tradicional sessão ao ar livre no Auditório Ibirapuera desta vez exibe A General, de Buster Keaton e Clyde Bruckman, em sua versão restaurada. A apresentação desse clássico do cinema mudo encerrará a 40ª Mostra e terá, novamente, o acompanhamento musical da Orquestra Heliópolis. Será a estreia mundial da nova trilha composta pelo maestro Robert Israel, que virá a São Paulo especialmente para reger a orquestra.
Assim encerraremos a 40ª Mostra com alegria e esperança. Agradecendo ao cinema que, mesmo em tempos de informação fragmentada, nos permite ver, escutar e refletir sobre uma outra história.
Agradecemos aos nossos patrocinadores que possibilitaram a realização de uma Mostra à altura dos seus 40 anos, e que, como sempre, dialoga com diversas culturas e opiniões.
Desejamos a todos uma boa Mostra e que ela traga vozes que nos façam pensar.
Renata de Almeida
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