segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Garota Sombria Caminha Pela Noite

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O iraniano Garota Sombria Caminha pela Noite (2014), dirigido por Ana Lily Amirpour, não tem o menor interesse em datar, situar ou até mesmo relativizar sua história. Se a trama remete a um recorte de tempo contemporâneo, a ideia principal é mais abrangente e atemporal. E com o Irã atualmente vivendo forte tensão no que diz respeito à igualdade entre os sexos, uma alegoria feminista como essa soa tal como um baita libelo de abaixo ao sexismo.

O filme oscila em dois momentos, mas no primeiro quer mesmo é se debruçar sobre conceitos sociais arraigados e problematizar. A Garota Sombria do título é uma vampira sem nome interpretada com a estranheza necessária por Sheila Vand. Enquanto não está vagando pelas noites, se tranca em casa para escutar seus discos e ler coisas consideradas impróprias para o seu sexo. A título de curiosidade, parece ser costume na sociedade iraniana as mulheres se esconderem para terem um momento apenas delas.

Beber sangue é o gatilho para lutar contra todo o machismo enraizado. Persegue homens opressores durante a noite e aterroriza meninos para que não cresçam como seus pais. Um espectador conservador ao assistir Garota Sombria Caminha pela Noite dirá que está diante de um filme que prega a misandria. Ledo engano. É quando entra o segundo momento. Apesar de relutante, nossa Garota Sombria não demora a encontrar alguém que faça tudo valer a pena. Ou melhor contextualizado, ser tudo que valha a pena na vida de alguém. Afinal, se valorizar nunca é demais.

Se Garota Sombria Caminha pela Noite tropeça em alguns clichês do gênero ao encenar o romance proibido, cresce demais quando faz desse mesmo romantismo tão “lugar comum” algo verdadeiramente terno. A diretora embala cenas encantadoras – como a do reencontro no carro em que citam uma música de Lionel Richie – com um romantismo que nos remete aos momentos mais tenros de nossas vidas amorosas. Em que perguntar o nome da outra pessoa era pânico.

O maior terror do filme de Ana Lily Amirpour não é o pai viciado em heroína do namorado da protagonista ou o traficante violento. Com o machismo nossa anti-heroína lida da melhor/pior maneira possível (empilhando corpos), mas com o amor…

Releitura de viés crítico. Romântico e descolado. Garota Sombria Caminha pela Noite poderia mesmo ser considerado um pequeno clássico instantâneo. Faz lembrar um pouco Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch, e seu mantra de que apenas os amantes verdadeiros sobrevivem no final. Curiosamente não somente esse trabalho do diretor norte-americano, mas também o seu faroeste Homem Morto (1995) se fazem de fonte de inspiração tanto para roteiro quanto para estética – o preto e branco brilha e salta aos olhos.

Ou seja, a diretora estreante em longa-metragem tem apreço pelos mesmos tipos errantes e enigmáticos que povoam lugares similares em estranheza à filmografia do cultuadoJarmusch. No entanto, Garota Sombria Caminha pela Noite está muito longe de ser mero pastiche. Sua militância é mais do que válida e o seu romance mais do que belo.

Nota do CD:
4 out of 5 stars


Sinopse: Bad City é uma cidade iraniana abandonada e sem leis, onde vivem diversos traficantes e prostitutas. Enquanto Arash (Arash Marandi) luta para sobreviver e para afastar o próprio pai do vício em drogas, a Garota (Sheila Vand) parambula pelas noites, com um segredo: ela é uma vampira, e mata seres solitários para saciar a sede de sangue. Quando os dois se encontram, as suas vidas se transformam.

Ficha Técnica:
Título original:
A Girl Walks Home Alone at Night
Distribuição:
Imovision
Data de estreia:
qui, 17/12/15
País:
Estados Unidos
Irã
Gênero:
horror
Ano de produção:
2014
Duração:
99 minutos
Classificação:
16 anos
Direção:
Ana Lily Amirpour
Roteiro:
Ana Lily Amirpour
Elenco:
Sheila Vand
Arash Marandi
Dominic Rains

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