domingo, 13 de dezembro de 2015

Simone de Beauvoir inspira “Em três atos”, novo longa de Lucia Murat que chega aos cinemas neste fim de semana



A velhice, a doença, a morte. É sobre esses temas incômodos que se debruça o novo longa de Lucia Murat. Para refletir sobre a situação dos idosos na sociedade, Lucia percorreu os escritos e as entrevistas de Simone de Beauvoir sobre o tema. Mas a cineasta não se prendeu à verborragia da pensadora francesa. Influenciada por ter sido bailarina na adolescência, Lucia decidiu abordar a temática contrapondo de forma poética o corpo e a palavra, com imagens de dança contemporânea entrelaçadas a monólogos fortes.

O longa retrata Simone de Beauvoir em dois momentos da vida. A brilhante dama Nathália Timberg interpreta a intelectual com 80 anos sendo confrontada com questões da velhice e da morte, com falas baseadas no texto A Velhice. Andréa Beltrão dá vida à intelectual com 50 anos, enfrentando a morte de sua mãe, com inspiração no texto “Uma morte muito doce”.

O contraponto que dá suavidade ao tema são as imagens de dança contemporânea, através da performance das bailarinas Angel Vianna, de 85 anos, e Maria Alice Poppe, com coreografia de João Saldanha.

“A proposta do filme é muito mais levantar questões e apontar sensações do que dar respostas. Por isso, o que busco são as nuances e contradições observadas no corpo: a dor de ter perdido o vigor convivendo com a vida que está presente na velhice”, explica a diretora.
Mas Lucia não acredita que a morbidez do tema tenha prevalecido em sua obra. “O filme trata de questões complexas de forma lírica, poética. É uma maneira de pensar o ciclo da vida, também”, reflete.

PERCURSO

Esse é o 11º trabalho de Lucia Murat, que já dirigiu A nação que não esperou por deus (2015), A memória que me contam (2013),Uma longa viagem (2011), Maré, nossa história de amor (2007),Olhar estrangeiro (2006), Quase dois irmãos (2004), Brava gente brasileira (2000), Doces poderes (1997), Oswaldianas (1992),Que bom te ver viva (1989) e O pequeno exército louco (1984).

A diretora foi presa e torturada durante o período da ditadura militar no Brasil, e essa experiência marca forte influência em sua obra. Em Em três atos o tema político não está escancarado, mas a diretora lembra que Simone de Beauvoir foi uma grande influência nas mulheres de sua geração, e que seu pensamento coloca o feminino como protagonista de questões antigamente reservadas aos homens, como a política, por exemplo. “O Segundo Sexo foi meu livro de cabeceira e influenciou toda a minha geração”, lembra ela.

Realizado pela produtora Taiga em parceria com a TS Productions, o filme conta com o apoio francês de Milena Poylo, Gilles Sacoud e CélineLoiseau, responsáveis pela negociação com a Editora Gallimard, detentora dos direitos de Simone de Beauvoir.

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