quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O retrato de um Brasil por meio da costura: nas arpilleras e na tela do cinema

O último levantamento realizado pela Comissão Mundial de Barragens, em 2000, mostra que mais de um milhão de pessoas já foram afetadas por barragens no Brasil. No centro da questão, estão as mulheres, as maiores afetadas pelo problema. Nas regiões que recebem as obras de usinas hidrelétricas, é registrado aumento nos casos de assédio sexual, tráfico de mulheres, prostituição e estupro.

Segundo o relatório da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA), após o início da construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Porto Velho (RO), teve um aumento de 208% nos casos de estupros, em apenas dois anos.

Em processo pré-produção, depois de arrecadar fundos via financiamento coletivo, o documentário “Arpilleras: bordando a resistência”, com direção de Adriane Canan e encabeçado pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), costura a história de cinco mulheres atingidas por barragens em diferentes regiões brasileiras. Os relatos vão para a tela atrelados à técnica das arpilleras, um movimento iniciado no Chile como forma de denúncia de violação de Direitos Humanos.

A costura - A arte vem de Isla Negra, no Chile. Ganhou dimensão política durante a ditadura militar no país (1973 a 1990), quando as mulheres do subúrbio de Santiago se apropriaram da ferramenta e se posicionaram contra a repressão de Augusto Pinochet.  Com as roupas dos parentes desaparecidos, as mulheres denunciavam as diversas violações de direitos humanos.

No Brasil, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) resgata, desde 2013, a técnica de bordado chilena, para elaborar um relato das violações de direitos humanos em áreas atingidas por grandes projetos de barragens.

Foram mais de cem oficinas em dez Estados brasileiros, com aproximadamente novecentas mulheres atingidas por barragens, e muitos relatos sobre as diversas formas de violência sofridas.

“Dentro das violações de direitos humanos que acontecem nas construções de barragens, as mulheres são as que mais sofrem. As arpilleras entraram como um instrumento de denúncia destas violações, trabalhando o subjetivo das mulheres e também seu protagonismo na luta dos atingidos. O papel feminino fundamental. O bordado, as arpilleras, aparecem aqui como forma de denúncia. A partir da experiência com todas as oficinas, o grupo de comunicação do MAB discutiu a necessidade de mostrar esta experiência para o máximo de pessoas, socializar. Então surgiu a ideia do documentário. E aí pensamos em produzí-lo de forma coletiva, inclusive no financiamento”, afirma Adriane Canan.

Mulheres de cinco Estados brasileiros vão contar suas histórias e costurar uma grande arpillera coletiva de Norte a Sul do país, evidenciando o impacto das barragens em suas vidas.

Assista ao teaser e acompanhe os passos do filme no Facebook do projeto.

Exposição no Memorial da América Latina – E para quem quiser ver o trabalho das arpilleristas antes mesmo dele estar nos cinemas, o Memorial da América Latina expõe, a partir de 25 de setembro, peças desenvolvidas pelas mulheres atingidas por barragens, além de obras realizadas em outros países, envolvendo outras temáticas, mas sempre relacionadas às violações de direitos das mulheres.

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