segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Em dias decisivos para a política brasileira, saiba quais são as recentes produções nacionais sobre o tema


O Brasil vive dias decisivos na política com a votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado. Este e outros tópicos políticos, como as próximas municipais, além da reflexão sobre a religião no meio, são temas das conversas nos ambientes de trabalho, no trânsito, durante as refeições e, claro, também no mundo da arte. Recentemente, a cineasta Anna Muylaert anunciou que está trabalhando no roteiro de documentário sobre o período de afastamento de Dilma. O tema também é o mote principal do próximo longa-metragem da cineasta Petra Costa, que iniciou as gravações durante as manifestações de 13 de março deste ano.

Algumas das recentes produções com essa temática são exibidos no 27º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, que será realizado até o dia 04 de setembro, em São Paulo. É o caso do curta Impeachment, do capixaba Diego de Jesus, que apresenta personagens conhecidos – como Michel Temer, Aécio Neves, José Genoíno e José Dirceu – na ocasião do pedido de impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso. No filme, Diego compila – e remixa – discursos de deputados na votação da abertura do processo de afastamento de FHC, em 1999. Outra obra que faz pare da programação é Rascunho da Bíblia, de Marcia Deretti e Marcio Junior, animação goiana que aborda a presença de evangélicos na política do país. Para outros detalhes, acesse o site do evento aqui.

Por email, os realizadores conversaram com o Tela Brasil sobre cinema e política. Confira abaixo!

IMPEACHMENT
Duração: 16′
Ano: 2016

Como surgiu a ideia de fazer esse curta-metragem?
Eu já tinha a vontade de realizar um filme que abordasse a política e os políticos brasileiros, e em dezembro, me deparei com um vídeo que resumia essa sessão de 1999 que uso como base do filme. Fiquei impressionado com as semelhanças com nosso período atual: os personagens eram os mesmos e os argumentos também!

Como foi o processo de produção? Quantas pessoas fizeram parte da equipe?
Depois de ver esse resumo, procuramos uma forma de ter acesso a todo o material da sessão, é claro. Com ele em mãos, rapidamente iniciei o processo de montagem e concepção do filme. O processo foi bem natural e fluiu facilmente. Eu já vinha observando e estudando essa linguagem mais típica de internet, comum aos vídeos poops (tipo de mashup em vídeo, criado editando fontes de mídia pré-existentes para efeitos de humor) e pretendia utilizá-la em algum filme. A ironia, típica desta forma de montagem, veio a calhar com o discurso que gostaria de trabalhar no Impeachment. Além de mim, participaram do filme a minha produtora, Maria Grijo Simonetti, e dois editores de som, a Joceles Bicalho e o Marcus Neves.

Quais foram os maiores desafios ao realizá-lo?
Foram dois desafios. O primeiro é falar de político como “profissão”, do trabalho, que é difícil de falar por eles não gostarem de ser criticados e fazem parte da elite econômica do país. O outro foi realizar a montagem baseada nesses chamados “vídeos poops”, que são típicos de outra mídia e poderia ter algum preconceito nos espaços de exibição de cinema, o que me parece não ocorreu.

Você se inspirou em outras obras ou realizadores/cineastas?
O filme Surplus (2002) de Eric Gandini, evidentemente me inspirou na montagem do filme. Mas acho que esses “vídeos poops”, que são produzidos por anônimos e divulgados em canais no YouTube, me influenciaram ainda mais.

Você pretende fazer outros registros com o tema da política?
A política é um tema muito caro a mim. Já havia trabalhado com ele em outros curtas menores, ainda na universidade, e pretendo utilizá-lo em filmes futuros. Venho pensando em abordar assuntos mais locais do Espírito Santo, minha cidade natal.

RASCUNHO DA BÍBLIA
Duração: 2’
Ano: 2015

Como surgiu a ideia de fazer esse curta-metragem?
“Rascunho da Bíblia” começou a tomar forma anos atrás, quando encontrei um Novo Testamento todo surrado em um hotel, e passei continuamente desenhar sobre ele. Me interessa a ideia de fluxo de consciência, e as animações foram nascendo ali, enquanto eram produzidas, sem roteiro prévio. Num dado momento, a Márcia Deretti começou a trabalhar sobre este material, editando-o e adicionando slides pintados à mão, além de encontrar o som para o filme, num processo realmente experimental.

Como foi o processo de produção? Quantas pessoas fizeram parte da equipe?
O filme foi integralmente produzido por mim e pela Márcia (assinamos nossos trabalhos em conjunto como MMarte), sem nenhum recurso público. Dois estagiários da Escola Goiana de Desenho Animado (projeto que coordenamos em Goiânia), Letícia Tannus e Guilherme Rossini, nos ajudaram com a digitalização da Bíblia.

Quais foram os maiores desafios ao realizá-lo?
A maior dificuldade é, invariavelmente, produzir um filme relevante sem nenhum recurso financeiro. Não se trata de uma recusa aos mecanismos de incentivo. Pelo contrário, penso que sejam obrigatórios, estratégicos e fundamentais ao crescimento do audiovisual brasileiro. Mas achamos muito interessante o desafio de tentar superar limites orçamentários e produzir de forma totalmente independente.

Você se inspirou em outras obras ou realizadores/cineastas?
O “Rascunho da Bíblia” é fruto de um processo de experimentação. Como disse antes, o filme foi tomando forma à medida em que era produzido. Desse modo, sem uma ideia pré-determinada, ficamos mais impermeáveis às influências externas. De qualquer forma, o espírito corsário do saudoso Carlos Reichenbach sempre esteve presente.

Você pretende fazer outros registros com o tema da política?
Penso que todo filme é político – alguns de forma mais intencional e explícita que outros. Logo, esse é um tema que não temos condições de evitar.

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