terça-feira, 14 de abril de 2015

Resenha de Filme: O Ano Mais Violento



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A cidade é Nova Iorque. O ano é 1981, considerado um dos mais violentos da história. O personagem principal é Abel Morales (Oscar Isaac), um comerciante de combustível de moral questionável. Seu promissor negócio estaria indo “de vento em popa” se não estivesse sofrendo sistemáticos ataques aos caminhões que transportam sua carga. Além do prejuízo praticamente diário, Abel precisa lidar tanto com a quitação eminente de uma dívida milionária capaz de decidir seu futuro quanto com a impaciência de sua impulsiva esposa, Anna (Jessica Chastain).

Adicione a esse cenário, gângsteres e um paladino da justiça, e temos O Ano Mais Violento, filme mais recente de J. C. Chandor, o mesmo diretor de Até o Fim (2013) e Margin Call – O Dias Antes do Fim (2011). Se o nosso protagonista transita pela cidade desejando resolver seus problemas o quanto antes, talvez encontrar o ladrão de gasolina e domar sua esposa seja mesmo o menor deles. Abel é desses personagens que pensam um passo a frente, apesar de parecer estar sempre um passo atrás de seus adversários. Ou seja, O Ano Mais Violento faz mistério enquanto pinta em ritmo cadenciado um panorama deveras pessimista.

Nesse sentido, o trabalho de Chandor se assemelha ao do seu compatriota James Gray. Ambos parecem interessados nos tipos escusos que habitam, e, invariavelmente, alimentam a maior metrópole do planeta. A Nova Iorque é registrada com cores desbotadas e trilha sonora soturna. Uma encenação onde a melancolia dá seu expediente eternamente. Onde as pessoas parecem chafurdadas em competições cotidianas e incapazes de fugir do que o destino as reserva. Onde os personagens carregam um enorme peso sobre os ombros. E essa mesma culpa impulsiona a grande maioria das ações.

E no trato de Abel com seus funcionários, se encontra um misto de alguém em vias de se resignar com a liturgia do próprio cargo. Abel sabe que está a um passo de erigir um império. De fazer da cidade a sua vista particular. E lidar com a própria consciência é algo que não pode se permitir. O ator Oscar Isaac traz marcado nos olhos essa dubiedade. Uma tristeza velada ao transpor limites que impôs tempos atrás. De perceber como a hipocrisia rege sua vida. E sua esposa Anna, filha de um antigo gangster respeitado outrora, faz o papel de agente desestabilizador-mor.

O criminoso latino – alguém naturalmente retratado no cinema como explosivo – se torna um sujeito comedido e racional. A femme fatale não faz apenas o jogo de sedução: ganha voz ativa capaz de ditar o jogo. A justiça é elegante e nada brutal. Se O Ano Mais Violento incide sobre a consciência de seus personagens como tema principal, internalizando gradativamente suas problemáticas num aparente processo de auto expiação de qualquer culpa moral – como, por exemplo, transformar em joguete um motorista de caminhão -, cresce justamente quando se faz notar como eficiente e admirável releitura do gênero policial.


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