sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Interestelar: a aposta mais arriscada de Nolan



Interestelar tinha tudo para ser o melhor filme de ficção científica da história e entrar para aquelas seletas listas de melhores filmes de todos os tempos. Christopher Nolan na direção, Hans Zimmer com a trilha sonora e, no elenco, uma constelação: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Michael Caine, Matt Damon, Casey Affleck, Topher Grace. E, principalmente, uma ideia genial.
Tentarei ser o mais breve possível quanto a essa ideia genial que citei. Isso por que não acho que seja interessante saber muito sobre o filme antes de assistir. Assim, apesar de não ter spoilers na crítica, recomendo que leia depois. Enfim, a base das quase três horas de filme é que o mundo entrou em uma espécie de colapso e está faltando tudo: água, suprimentos, profissionais para cultivar alimentos. E é aí que entra a família de Cooper (McConaughey), um fazendeiro que vive com sua filha (Mackenzie Foy), seu filho (Timothee Chalamet) e o sogro (John Lithgow). A partir daí, uma série de eventos faz com que Cooper a participe de uma expedição espacial que o levará para outra galáxia.
O filme pode ser dividido em três atos: o drama familiar inicial, a tal viagem e, finalmente, as consequências e resultados. Como ambos os atos são extremamente diferentes qualitativamente, os analisarei separadamente e, lá no final, concluirei o filme como um todo.
O primeiro ato é apenas bom. Foi o primeiro momento em que comecei a sentir certo desapontamento. Apesar de Mackenzie Foy ser uma atriz extraordinária e conseguir criar uma personagem ótima para Murphy, a filha de Cooper, essa parte do filme não se sustenta. Com um ar “spielbergiano”, o drama familiar acaba se mostrando fraco e Nolan não consegue exprimir sua marca. O roteiro não consegue criar o vínculo necessário. Outro momento, em que Cooper começa a entrar em sua jornada interestelar, é mal aproveitado e aleatório. Porém, o que mais incomodou foram as atuações sem graça de Lithgow e, principalmente, Michael Caine. Atores ótimos delimitados em personagens sem grandes aproveitamentos na trama. Enfim, o começo não convence.
O segundo ato, porém, resgata todo o fôlego perdido no começo do filme. É o melhor momento do longa e deixa o espectador boquiaberto em inúmeras passagens. Aqui, destaque para as cenas de computação gráfica e, principalmente, para o trabalho impecável de Hans Zimmer com a trilha sonora. Autor das músicas de filmes como Rain Man, Gladiador, Sherlock Holmes e a trilogia nova de Batman, o compositor dá uma verdadeira aula. Consegue mesclar silêncio e momentos de som ensurdecedor.
Além disso, essa parte do filme tem um roteiro consistente. Com muitos termos científicos, ele consegue ser explicativo na medida certa. Apesar de muitos reclamarem de excesso de explicação, o filme não seria acessível a todos caso não houvesse tais momentos esclarecedores. É um roteiro bem feito, construído e pensado. A direção de Nolan também é precisa, apesar de problemas nos enquadramentos nas cenas espaciais. Ao contrário do que é visto em Gravidade, por exemplo, Nolan não consegue aproveitar o ambiente e acaba exagerando em close-up. Mas esse erro não compromete o resultado final do ato.
Porém, toda a glória fica com as atuações. Apesar de Anne Hathaway estar sobrando em cena, McConaughey brilha em sua interpretação. Arrisco dizer que é uma atuação superior ao visto em Clube de Compras Dallas. Ele e Jessica Chastain, apesar de pouco aproveitada, conseguem momentos belíssimos de emoção pura. Impossível não se emocionar em algumas cenas.
O grande problema, porém, está no terceiro e último ato, que é terrível. Alguns personagens simplesmente aparecem na história e/ou não tem importância de fato, criando arcos desnecessários; ou não têm origem e necessidade apresentadas. Matt Damon e Topher Grace ficam sem material para trabalhar. E Damon se mostra como uma perda de tempo gigantesca, que poderia ser aproveitada em outros personagens pouco trabalhados, como o próprio Topher Grace ou até mesmo Casey Affleck, que aparece com sentimentos pouco explicados.
Além disso, Nolan perde completamente a mão na direção. Cenas forçadas e, assim como no primeiro ato, o filme parece ser de outro diretor. As explicações científicas também, muito bem pontuadas o filme inteiro, somem. E a explicação para todo o filme é interessante, mas fraca e um tanto quanto implausível. Além disso, a conclusão é estendida demais. Poderia ter terminado em certo ponto e o terceiro ato seria bem mais satisfatório.
Agora, analisando o filme como um todo: saí do cinema e, ao ser perguntado se era bom, respondi que não sabia. E essa resposta aconteceu porque o filme não é ruim, apesar de todos os problemas aqui citados. O terceiro ato é compensado pelo segundo. Personagens mal aproveitados de Hathaway, Affleck e Caine são compensados pelas ótimas atuações de Mackenzie Foy, McConaughey, Chastain e pela ótima dupla de robôs que acompanha a tripulação da nave espacial. E as falhas no roteiro podem passar despercebidas pelo ótimo argumento central da trama.
Interestelar deve ser a pior obra de Nolan, mas ainda assim é superior a muitos blockbusters que vemos por aí. Além disso, é uma ótima experiência cinematográfica pelos ótimos efeitos, trilha sonora e atuações. Não é um dos melhores filmes de ficção científica da história (2001 Contatos Imediatos de Segundo Grau são extremamente superiores), como esperado, mas vale a pena gastar quase três horas para entrar um pouco neste diferente universo criado por Nolan.
NOTA: 7,5

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