segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Vingar-se vale a pena?
Quando nos fazem mal, prejudicam-nos, fazem-nos chorar, perder algo que gostamos, o primeiro sentimento que nos brota é o desejo da vingança. Mesmo que em alguns este sentimento venha de relance, ele vem. É fato. A vingança não tem nada a ver com autodefesa. Defendermo-nos do mal alheio, com todas as possibilidades que temos, é mais do que um direito. É necessário, para que não nos tornemos resignados e vivamos insatisfeitos com o que nos ameaça e agride. Vingança tem sim a ver com planejar a derrocada de quem nos feriu, financeira, física ou espiritualmente. E geralmente arquitetamos um plano nos mínimos detalhes. Há quem chame a vingança de "ação do gênio forte". Uma atitude de quem não leva desaforo para casa. Por este prisma, é até vista como sinal de personalidade determinada e decidida. Elogiável, diriam. Porque se temos nosso orgulho ferido, devemos devolver o insulto com a mesma intensidade, para não sermos tachados pela sociedade de covardes, fracos e bobos. Este pensamento, porém, é fruto de uma sociedade aonde há homens que buscam se impor pela força, e não pela inteligência. Toma-se como ponto de honra a necessidade de se retribuir o mal com o mal. Crê-se que se somos confrontados, devemos mostrar que podemos fazer pior do que nos foi feito. Como que a comprovar nossa capacidade de maldade, tipo: mexeu comigo, agora verá a fera que sou! O resultado é que a cada dia aumenta a violência em todos os setores. Não percebemos, mas contribuímos para que isso se propague. A vontade de ver a justiça sendo feita muitas vezes nos torna injustos. Insuflados pelo rancor, tornamo-nos iguais ou piores do que quem nos fez o mal. Espelhos que refletem o ódio e o atraso alheio.
Se analisarmos nosso cotidiano, veremos que tanto em nossa casa, no trânsito, no trabalho e até no lazer nos melindramos por qualquer discordância de ponto de vista. Também não deixamos que a opinião que emitimos seja contrariada; que nossos desejos, às vezes absurdos e egoístas, sejam ignorados. Ai daquele que se opuser às nossas vontades e crenças. Vingamo-nos, tocando feridas, armando situações, sendo até cruéis! Mesmo que seja só em pensamento, passamos a desejar que aquela pessoa passe por poucas e boas. Sentimos uma estranha satisfação quando alguém que não gostamos ou nos desentendemos sofre dificuldade. É como que uma vitória pessoal! Sorrimos, mesmo que escondidos, com o mal alheio. E esquecemos o ditado: "Dizem que a vingança é doce; mas à abelha, custa-lhe a vida...". O ditado é pródigo, pois a abelha deixa seu ferrão ao picar seu agressor, e sua vida se esvai. Retribuir o mal com a mesma moeda não nos faz bem. É ilusória esta crença. A vingança além de não limpar a mancha do insulto, aumenta a dor da mágoa, do ódio, do ressentimento. Torna-nos amargos. E vindo ou não a derrocada alheia, sem percebermos, nosso ferrão direcionado ao opositor vai nos minando emocionalmente... Conseguir entender que a vingança nada mais é do que a incapacidade em suportar injúrias, desprezos ou falta de educação alheia é iniciar um processo de renovação íntima. Passar a não nos preocupar tanto com o que nos fizerem, mas sim, com a maneira que sobreporemos a falta de sensibilidade e educação de quem nos atacou. Seremos mais fortes, teremos mais paz, contribuiremos para a diminuição do rancor que destrói vidas. Não há doce sabor na vingança, mas sim o amargor da perturbação e falta de paz, que nos acompanhará, levando a desequilíbrios e dores profundas. Fuja disso!
"Ainda quando não se deva desculpar, perdoar sempre se pode"(José Saramago).
CARLOS ALEX FETT
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