quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Resenha do Filme: Mesmo Que Nada Der Certo




Recomeçar é complicado e difícil, mas com música tudo fica mais harmonioso e cheio de vida. Assim, os personagens de “Mesmo se nada der certo” (Begin Again) vão se encontrar por meio de uma canção e um bar, compartilhando as perdas e o ponto de vista de cada um. Nesse longa-metragem, a música é o elemento que une/separa as pessoas, e é a principal ferramenta de comunicação entre os personagens.

A inglesa Gretta (Keira Knightley) perde o namorado Dave (Adam Levine) para a indústria musical e não vê mais sentido em sua estadia em Nova York. Dan (Mark Ruffalo –  Truque Mestre) é um produtor musical confuso, desleixado e que não se encaixa no novo modo de fazer música e acaba de perder o emprego. Além de tudo, Dan está divorciado e tem dificuldade em assumir seu papel de pai.

Se os personagens têm em comum a perda, é nela que eles se encontram como parceiros musicais, e, ao longo do filme, suas identidades e caminho. No projeto inusitado de gravar um CD, sem estúdio, pelas ruas de Nova York, captando os sons urbanos, Gretta e Dan encontram sentido em suas vidas. Ela sem pretensões de ganhar dinheiro e fazer parte do mainstream musical, e ele com o prazer de produzir algo que sinta paixão.
Nessa busca pelos locais onde serão realizadas as gravações, a dupla vai se aproximando e conhecendo a história de cada um. O diretor explora bem o clima de descoberta e amizade que vai crescendo entre Dan e Gretta criando cenas interessantes como aquela em que os dois dividem gostos musicais através do mesmo fone de ouvido ligado a um smarthphone, e percorrem pelas ruas de Nova York.

Outro destaque na trama fica por conta da forte ligação musical entre o casal Dave e Gretta. Os dois são parceiros nas composições e criam músicas o tempo todo. E, é assim, que o casal se comunica da melhor forma. Uma canção é o presente dado por Gretta a Dave; outra música é como ele se expressa ao mostrar que o namoro chegou ao fim, e, finalmente, com uma canção, ela fala que deu a volta por cima. A música funciona onde as palavras faltam.

Não é por acaso que a música é o elemento chave do filme. O diretor John Carney, de origem irlandesa, também já fez parte de uma banda chamada “The Frames”, daí vem toda sua intimidade com o tema. Ele está provando ser um especialista em filmes em que a música ocupa papel de destaque. Seu longa anterior “Apenas Uma Vez” (Once) ganhou o mundo e disputou festivais importantes como o Sundance e o Oscar, nesse último, levou a estatueta como melhor canção original, em 2008.

Mas não só de música o diretor entende, ele também demonstra ser talentoso, basta ver a sequência do bar – onde o ponto de vista de Dan e Gretta é mostrado separadamente. Na visão de Dan, quando escuta pela primeira vez Gretta cantar, sua imaginação cria os complementos perfeitos para que a canção deixe de ser voz e violão, para se transformar gradativamente em uma composição completa.

Mesmo com alguns clichês no roteiro, como o problema entre pai e filha adolescente e o rock star que deixa o sucesso subir a cabeça, não atrapalham a dinâmica e o resultado final do filme. Alguns outros temas são levantados, mais timidamente, pelo roteiro, como a atual distribuição de músicas, como as gravadoras têm buscado caminhos alternativos para lançamentos de novos artistas e o poder das novas plataformas nessa divulgação.

Como Nova York é o pano de fundo do filme, é lá, onde as diferenças, a sonoridade, e o novo e o velho, se encontram. Acreditar naquilo que gosta é importante para o caminho desses personagens. Seja permanecer no anonimato, ganhar o grande público ou até mesmo reencontrar seu papel na vida das pessoas.

Cinara Patrícia 

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