Recomeçar é complicado e difícil, mas com música tudo fica mais harmonioso e cheio de vida. Assim, os personagens de “Mesmo se nada der certo”
(Begin Again) vão se encontrar por meio de uma canção e um bar,
compartilhando as perdas e o ponto de vista de cada um. Nesse
longa-metragem, a música é o elemento que une/separa as pessoas, e é a
principal ferramenta de comunicação entre os personagens.
A inglesa Gretta (Keira Knightley) perde o namorado Dave (Adam Levine) para a indústria musical e não vê mais sentido em sua estadia em Nova York. Dan (Mark Ruffalo – Truque Mestre)
é um produtor musical confuso, desleixado e que não se encaixa no novo
modo de fazer música e acaba de perder o emprego. Além de tudo, Dan está
divorciado e tem dificuldade em assumir seu papel de pai.
Se os personagens têm em comum a perda, é nela que eles se encontram
como parceiros musicais, e, ao longo do filme, suas identidades e
caminho. No projeto inusitado de gravar um CD, sem estúdio, pelas ruas
de Nova York, captando os sons urbanos, Gretta e Dan encontram sentido
em suas vidas. Ela sem pretensões de ganhar dinheiro e fazer parte do
mainstream musical, e ele com o prazer de produzir algo que sinta
paixão.
Nessa busca pelos locais onde serão realizadas as gravações, a dupla
vai se aproximando e conhecendo a história de cada um. O diretor explora
bem o clima de descoberta e amizade que vai crescendo entre Dan e
Gretta criando cenas interessantes como aquela em que os dois dividem
gostos musicais através do mesmo fone de ouvido ligado a um smarthphone,
e percorrem pelas ruas de Nova York.
Outro destaque na trama fica por conta da forte ligação musical entre
o casal Dave e Gretta. Os dois são parceiros nas composições e criam
músicas o tempo todo. E, é assim, que o casal se comunica da melhor
forma. Uma canção é o presente dado por Gretta a Dave; outra música é
como ele se expressa ao mostrar que o namoro chegou ao fim, e,
finalmente, com uma canção, ela fala que deu a volta por cima. A música
funciona onde as palavras faltam.
Não é por acaso que a música é o elemento chave do filme. O diretor John Carney,
de origem irlandesa, também já fez parte de uma banda chamada “The
Frames”, daí vem toda sua intimidade com o tema. Ele está provando ser
um especialista em filmes em que a música ocupa papel de destaque. Seu
longa anterior “Apenas Uma Vez” (Once) ganhou o mundo e disputou
festivais importantes como o Sundance e o Oscar, nesse último, levou a
estatueta como melhor canção original, em 2008.
Mas não só de música o diretor entende, ele também demonstra ser
talentoso, basta ver a sequência do bar – onde o ponto de vista de Dan e
Gretta é mostrado separadamente. Na visão de Dan, quando escuta pela
primeira vez Gretta cantar, sua imaginação cria os complementos
perfeitos para que a canção deixe de ser voz e violão, para se
transformar gradativamente em uma composição completa.
Mesmo com alguns clichês no roteiro, como o problema entre pai e
filha adolescente e o rock star que deixa o sucesso subir a cabeça, não
atrapalham a dinâmica e o resultado final do filme. Alguns outros temas
são levantados, mais timidamente, pelo roteiro, como a atual
distribuição de músicas, como as gravadoras têm buscado caminhos
alternativos para lançamentos de novos artistas e o poder das novas
plataformas nessa divulgação.
Como Nova York é o pano de fundo do filme, é lá, onde as diferenças, a
sonoridade, e o novo e o velho, se encontram. Acreditar naquilo que
gosta é importante para o caminho desses personagens. Seja permanecer no
anonimato, ganhar o grande público ou até mesmo reencontrar seu papel
na vida das pessoas.
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