Há apenas um momento no filme Rio, Eu Te Amo no qual o espectador realmente se sente emocionado. É na cena em que o personagem do ator Wagner Moura sai voando de asa-delta e a câmera o acompanha. Por alguns minutos, a beleza da paisagem do Rio de Janeiro vista do alto faz cair o queixo do espectador. Já o resto do filme só inspira bocejos.
Rio, Eu Te Amo é a filial carioca da franquia Cities of Love, na qual cineastas e atores de destaque se reúnem para filmar pequenas histórias ambientadas na cidade escolhida. Ele segue Paris, Te Amo (2006) e Nova York, Eu Te Amo (2008). Geralmente, nesses projetos compostos por várias histórias o resultado é desigual, mas em Rio isso não acontece. Se há um traço comum por todo o filme, é uniformidade das histórias, no sentido de que nenhuma delas se destaca ou apresenta grande qualidade. Além disso, a proposta é clara: fazer o espectador se encantar com a cidade e as pessoas que vivem nela. Então, o filme não economiza na beleza natural do Rio e até lança mão de um estereótipo ou outro.
Algumas das histórias não passam de meras curiosidades, como aquelas dirigidas pelo italiano Paolo Sorrentino, de A Grande Beleza (2013), e pelo sul-coreano Sang-Soo Im. A de Sorrentino é estranha e apresenta uma visão meio cínica sobre a morte, ao enfocar um casal americano (Basil Hoffman e a divertida Emily Mortimer) chegando à cidade maravilhosa. O marido se finge de morto no avião, depois se detém por alguns minutos vendo um inseto se afogando numa piscina, e no final, a morte vira uma pequena piada. Já no conto dirigido por Im, Tonico Pereira vive uma espécie de vampiro – sem brincadeira – experimentando o sangue carioca. Para tornar tudo ainda mais bizarro, essa história literalmente acaba em samba…
Já outros segmentos contem situações interessantes, mas elas ainda parecem estar em estágio embrionário e não têm tempo de se desenvolver. Como a história dirigida de forma meio preguiçosa pelo brasileiro Andrucha Waddington, que traz Fernanda Montenegro como uma moradora de rua e Eduardo Streblitch como seu neto. A do mexicano Guillermo Arriaga também é uma ideia intrigante – a do boxeador sem um dos braços que recebe uma proposta – mas é dirigida com mão pesada e não ultrapassa o nível do exercício, algo decepcionante para um cineasta experiente como ele.
Já o restante das histórias é dominado pela banalidade e pela superficialidade. Duas são sobre o clássico tema da “discussão da relação”: Carlos Saldanha dirige Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer como um casal de bailarinos envolvidos num entediante dilema, e o ator e diretor americano John Turturro faz uma espécie de mini Antes da Meia-Noite (2013) ao lado da francesa Vanessa Paradis enquanto ambos discutem sobre seu relacionamento numa bela paisagem carioca. E por algum motivo essa história também vira um pequeno musical, com Paradis cantando em francês – ela canta bem, pelo menos.
Entre superficialidades e clichês, ressurgem alguns velhos estereótipos: Montenegro é a mendiga que é mais feliz vivendo na rua do que o seu neto mauricinho, o garoto Cauã Antunes diverte como seu jeito curioso e meio malandro na história dirigida pela libanesa Nadine Labaki, e um astro de cinema (Ryan Kwanten) encontra o amor no Rio, porque o Rio é apaixonante e coisa e tal… Essa história chama um pouco mais de atenção porque o diretor Stephen Elliott, dePriscila, A Rainha do Deserto (1994), inclui nela a oportunidade de mostrar de perto outro dos grandes cartões-postais da cidade, o Pão-de-Açúcar, e porque sua resolução é meio inesperada.
Outro brasileiro, o diretor Fernando Meirelles, dirige o francês Vincent Cassell (um ator que praticamente já pode se considerar com dupla nacionalidade) num conto eminentemente audiovisual. Já Wagner Moura e seu amigo, o diretor José Padilha, cria aquele voo de asa-delta e o ator trava um engraçado diálogo com o Cristo Redentor. É Moura quem também dá vida à melhor piada do filme, que ocorre quando o seu personagem encontra o ator Harvey Keitel e lhe pergunta se o veterano de Hollywood esteve em Os Bons Companheiros (1990)…
A presença de Keitel no filme, relaxada e à vontade, revela a essência do projeto. Rio, Eu Te Amo é um filme feito para fazer com que pessoas do cinema tirem umas férias em algum lugar bonito. Deve ter sido muito agradável e divertido de fazer, mas falta-lhe um pouco mais de inspiração para torna-lo realmente marcante para o espectador. As férias no Rio devem ter sido tão boas que ninguém quis trabalhar de verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário