quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Passeando pelo Cinema Brasileiro: 1900 a 1910

Afonso SegretoA história do nosso cinema. Esse é o tema da coluna que se inicia. Isso mesmo, do nosso cinema, que faz parte da nossa cultura com o nosso povo. Brasileiro tem dificuldade em aceitar o que é nosso por direito, como a nossa produção cinematográfica, por exemplo. Mas é necessário que saibamos a história da construção, evolução, dificuldade, êxitos, do cinema brasileiro, para que então, possamos valorizar e prestigiar o nosso.
Paulo Emílio Salles Gomes, historiador e crítico de cinema, nome conhecido na história do cinema brasileiro, bem define todo esse apreço que devemos ter pelo cinema do Brasil em três célebres frases:
“A indústria cinematográfica no Brasil, se não for amada, não revelará sua mensagem, e se nós não amarmos a nossa indústria ninguém o fará por nós”;
“Prefiro os subdesenvolvidos filmes do nosso cinema aos melhores filmes do cinema estrangeiro”;
 ”O Brasil se interessa pouco pelo seu próprio passado. Essa atitude saudável exprime a vontade de escapar a uma maldição de atraso e miséria que o brasileiro evita lembrar. Contudo, é este o país que o brasileiro deve amar com a fé e a esperança porque este é o seu país tão precisado desse amor”.
E é com essa admiração pela nossa produção, mesmo com seus altos e baixos, com seus pontos negativos (como grande parte das produções estrangeiras possuem) que discorrerei nos próximos meses sobre a História do Cinema Brasileiro, dividida por década, para melhor compreensão.
1900 (para ser específico: 1898) a 1910
A questão que não quer calar é: porque esse ano específico? Pois bem, explico: o que muito de nós não sabe é que foi nesse ano que nasceu o cinema do Brasil, alguns anos depois da primeira exibição de cinema, na França, em 28 de dezembro de 1985, do filme L’Arrivée d’un Train à La Ciotat, dos  irmãos Lumière.
Entre as correntes que existem de quando efetivamente foi o primeiro filme brasileiro, a que é mais sustentada pelos estudiosos do tema é que a primeira filmagem brasileira foi feita pelo italiano Afonso Segreto e retrata a chegada dele à baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bordo do navio Brésil, em 19 de junho de 1898. A única questão é que não se sabe quando foi exibida essa filmagem, ou mesmo se foi exibida, uma vez que a película nunca foi encontrada.
A primeira fase do cinema brasileiro foi a chamada Bela Época, que durou de 1907 a 1911. Seus filmes eram artesanais, com duração curta, pois havia falta de recursos para produzir longa metragem. Eram produzidos e dirigidos por europeus, em sua maioria. O tema predominante era sobre assuntos naturais, como crimes.
Um caso marcante foi o Crime da Mala, que aconteceu em setembro de 1908 em São Paulo – um comerciante assassinou seu sócio e colocou seu corpo em uma mala, foi para Santos e o embarcou em um navio, onde foi descoberto o crime. O fato resultou no filme O crime da mala (1908), de Antônio Tibiriçá.
Considerada uma das melhores fases do cinema brasileiro, o destaque fica com a instalação de salas de exibição no Rio de Janeiro, logo após a regularização da energia elétrica, até então, inexistente no Brasil, com a construção da usina de Ribeirão das Lajes. As salas de exibição estavam na Avenida Central do Rio de Janeiro e atraia muito o público. Em São Paulo, a maioria das exibições acontecia em teatros, como o Teatro Sant’Ana.
Foi nessa fase também que houve a possibilidade de o triângulo cinematográfico (produção, exibição e distribuição) ser totalmente brasileiro. Ou seja, nessa fase, era possível fazer tudo com recursos brasileiros, pois ainda não tinha influência de Hollywood. Mas eles não tinham visão de indústria cinematográfica, o que abriu caminho para a indústria hollywoodiana chegar nos solos brasileiros com toda sua força, no final dessa década.
Outro motivo que também culminou no fim da Bela Época foi o conservadorismo da Igreja Católica, que interferia na exibição dos filmes, censurando muitas cenas. Para eles, o cinema corrompia a mente das pessoas. Foi um dos primeiros casos de censura de filmes no país.
Os filmes que se destacaram nessa época foi Os estranguladores (1906), do italiano Francisco Marzullo ePaz e Amor (1910), de William Auler. O primeiro filme foi exibido 800 vezes em dois meses e o segundo, mais de 900 vezes.
Principais filmes: Os capadócios da Cidade Nova (1908), A mala sinistra (1908), A viúva alegre (1909), ambos de Antônio Leal; A gueixa (1909) e Sonho de valsa (1909), de William Auler

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