quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

SANGUE DA PANTERA (1942) - LANÇAMENTO OBRAS PRIMAS DO CINEMA


Val Lewton - pouco dinheiro e muita criatividade

Val Lewton foi uma espécie de "plano b". A Universal reinava com seus monstros (Drácula, Frankenstein e banda), suas continuações e crossovers. Esgotaram o gênero num reinado absoluto de uns 30 anos. Inclusive hoje, tentam sem sucesso obter novamente aquele domínio, mas as adaptações são fantasiosas demais, necessitando de impor ritmos mais frenéticos para tentar retorno financeiro. Recentemente, ingressaram à linhagem Tom Cruise (No vindouro "A Múmia") e Johnny Depp como Homem invisível (até agora, confirmado, mas sabem como é Hollywood...)
Mas voltando a Lewton

Naquele cenário, somente filmes B eram feitos, que se hoje são cults, na época não faziam dinheiro. E não poderia ser diferente com a RKO, que estavam mal das pernas nos anos 40. Com isto buscavam boas ideias, mas executados de forma rápida e barata. E Lewton entrou como solução. Para o primeiro filme, escalou Tourneur, um diretor bem mais ou menos até então (à partir daí fez uma obra prima atrás da outra), portanto, barato de contratar. Veio com isto O sangue da Pantera, e com o sucesso, pavimentou o caminho para "A morta viva" e "Homem leopardo", tornando Tourneur (não resisti à aliteração) conhecido e com oportunidades melhores. E com estes três filmes, Val Lewton conseguiu um estilo próprio, bem diferente dos monstros da Universal, cujo objetivo era concorrer. Estilo este que se destacava a sutileza e a sugestão.

A história segue um sérvia chamada Irena Dubrovna,que conhece o americano Oliver Reed ( não é o ator, claro!!) em um zoológico, começam um relacionamento e se casam. Mas paralelo a isto tem problemas porque Irena  acredita ser descendente de uma raça diferente de mulheres. Ela acredita possuir o sangue de pantera (tem constantemente alucinações com grandes felinos e durante a noite ouve uivos). Quando mergulha em sentimentos fortes como: ciúme, raiva e lascívia, libera a "pantera" assassina que tem dentro de si. E ao mesmo tempo em que se interessa pelas suas histórias, um psiquiatra tenta seduzi-la. 

Lewton e sua produção são creditados por inventar ou popularizar a técnica de filme de terror chamada "Lewton Bus", em português "Ônibus do Lewton". O termo deriva da cena em que Irena está seguindo Alice. O público espera que Irena se transforme em uma pantera a qualquer momento e ataque. No ponto mais tenso, quando a câmera focaliza o rosto confuso e aterrorizado de Alice, o silêncio é quebrado por aquilo que soa como um rosnar de pantera, mas é apenas um ônibus encostando. Esta técnica tem sido usada muitas vezes até hoje. Qualquer cena em que a tensão é dissipada por um simples momento de sobressalto, um "boo!", é um 'Lewton Bus'.

O filme joga com as verdades: será mesmo a personagem vítima de uma maldição fantástica e aterrorizante? Um tipo de vampiro felino...Ou ela tem um distúrbio psicológico forte, com possibilidade de ser curada? Gradativamente, estes elementos são jogados no telespectador de forma sutil, porém com novos joguetes com finalidade de complicar a solução final, como Oliver que se apaixona por uma colega de trabalho ou o doutor, que se apaixona pela fera e se aproveita de sua "fragilidade" para conseguir consumar sua paixão. Situações que destroçam sua sanidade, tornando mais ambiguo o rumo da trama. O que é um grande mérito o filme.

Para quem não assistiu, fica o texto sem spoilers, para não estragar a surpresa. Mas é interessante ressaltar que o final foi uma imposição do estúdio, que aliás veio a ser uma sina de Jaqcues, já que (de novo não resisti à aliteração) em Noite do demônio, o estúdio obrigou-o a colocar aquela horrenda cena com o demônio. Todos deveriam ter terminado como proposto: dúbio, sutil e sugestivo.

DeWitt Bodeen escreveu o roteiro de "Sangue de Pantera" baseado no conto de Lewton "The Bagheeta" publicado em 1930. O filme teve uma sequência em 1944, chamada A Maldição do Sangue de Pantera, e um remake em 1982, com o nome de "A marca da pantera".

Extras: Além de uma entrevista com o diretor de Sangue da Pantera, de quase meia hora, há o importante documentário: Val Lewton: The Man in the Shadows, de quase 1h e 30 min, apresentado por Martin Scorsese, que nada mais é que um tributo ao mestre das sombras e da sugestão. Há também uma entrevista com o  diretor de fotografia e Trailer da obra.
Imperdível. Quem venham os outros...

Informações Técnicas:

Título: Sangue de PanteraTítulo Original: Cat People
País de Produção: Estados Unidos
Ano de Produção: 1942
Gênero: Terror, Thriller
Direção: Jacques Tourneur
Elenco: Simone Simon, Tom Conway, Kent Smith, Jane Randolph, Jack Holt, Henrietta Burnside, Alec Craig, Eddie Dew.
Idioma: Inglês
Legendas: Português - Inglês
Duração Aproximada: 72 minutos.
Região: Aberto para todas as zonas (Livre)
Áudio: Dolby Digital 1.0
Vídeo: 1.33:1
Cor: Preto e Branco

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