quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O Homem Nas Trevas

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Impossível não começar esta resenha com uma reclamação em relação ao marketing de O Homem Nas Trevas. O título brasileiro para Don’t Breathe (Não Respire, em português) e o cartaz, que vocês podem ver acima, faz com que o espectador, que não teve acesso a notícias, não viu os trailers e não se empenhou em saber um pouco mais sobre a produção, tenha a, clara, sensação de que se trata de mais um filme de terror sobre a luta contra uma entidade demoníaca do mal. Fiz questão de, pessoalmente, perguntar, a alguns conhecidos, se assistiriam a um filme com este nome e com esta imagem o representando. Aqueles, que não gostam de produções do gênero, foram claros ao dizer: “Não gosto de filmes de terror, que aborde espíritos”. Ninguém é obrigado a gostar, eu mesmo tenho problemas com eles, mas o que aconteceu? Possíveis espectadores deixariam de ver uma produção inovadora, angustiante e interessante, sem nenhuma presença de espíritos ou assombrações. O Homem Nas Trevas é, na verdade, uma película que mais parece uma disputa de gato e rato em um labirinto particular.

Não que O Homem Nas Trevas não seja um filme do gênero de terror, mas, sem dúvidas, que se trata de algo diferente e muito bem desenvolvido. O diretor, Fede Alvarez, conhecido pelo belo trabalho no remake de A Morte do Demônio, demonstra toda sua técnica ao permitir, com longas tomadas, que o espectador tenha total conhecimento da casa em que os personagens estão presos. É com muita facilidade, que, quem assiste, passa a antever os possíveis problemas ou, até mesmo, pensa em soluções para que todos possam escapar. A direção, inventiva, ainda permeia um pouco sobre o estilo de found footage, quando a escuridão toma conta do porão e passamos a enxergar através do aparelhos celulares dos protagonistas.

O roteiro ainda consegue uma façanha interessante ao fazer com que o espectador torça por um trio de bandidos, que estão tentando roubar a casa de um cego. Esse, por sinal, chega a ser a maior barreira a ser quebrada, mas ao mesmo tempo um problema para o filme, que em seu ato final, propõe uma reviravolta que busca, de fato, a formatação do cego como o vilão. As cenas propostas, por essa reviravolta, são angustiantes e provocaram muitas reações do público, mas ao meu ver poderiam ser evitadas. Acredito que o filme estava atingindo mais sucesso, quando não tomava partido de nenhum do lados. Além disso, é lógico que para ser capaz de imersar totalmente em O Homem Nas Trevas, é preciso deixar de lado alguns pensamentos claros, como: “Porque não resolveram isso antes? Porque não fizeram isso antes? Esse cachorro parece sim estar possuído e é mais inteligente do que muitos no filme”.

Stephen Lang (Avatar) interpreta o cego de maneira memorável. Apesar de sua deficiência e pertubação mental, nunca é possível ter pena dele. O conhecimento completo de sua casa, o treinamento militar e a postura adotada na atuação, provocam mais medo do que qualquer outra coisa. Jane Levy, que já havia trabalhado com o diretor em A Morte do Demônio, continua mostrando sua habilidade de fazer muito, com pouca coisa. Sua personagem é a mais trabalhada, mas não ganha tempo suficiente para cativar o espectador, cabendo a atriz essa missão, conquistada com louvor. Os outros atores Dylan Minnette (Os Suspeitos) e Daniel Zovatto (Corrente do Mal) estão bem em cena, mas ficam prejudicados por praticamente não existirem para o roteiro. Um é o namorado bad boy da protagonista feminina e o outro ajuda nos roubos através da empresa de seu pai. Não são apresentadas as motivações de ambos.

O Homem Nas Trevas só demonstra que Sam Raimi (Oz: Mágico e Poderoso) acertou em cheio quando apostou em Fede Alvarez. Não acho que seja um filme unânime, vejo defeitos, mas considero um divertimento muito acima da média.

Nota do CD:
3.5 out of 5 stars


Sinopse: Três adolescentes planejam roubos muito bem planejados, mas quando invadem a casa de um cego o jogo muda. O que era para ser o último crime do grupo, torna-se uma luta pela própria vida.

Ficha Técnica:
Gênero: Terror
Direção: Fede Alvarez
Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues Mendez
Elenco: Brak Little, Christian Zagia, Daniel Zovatto, Dylan Minnette, Jane Levy, Jane May Graves, Jon Donahue, Katia Bokor, Sergej Onopko, Stephen Lang
Produção: J.R. Young, Joseph Drake, Nathan Kahane, Sam Raimi
Fotografia: Pedro Luque
Montador: Gardner Gould
Trilha Sonora: Roque Baños
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 08/09/2016 (Brasil)
Distribuidora: Sony
Estúdio: Ghost House Pictures / Good Universe / Sony Pictures Entertainment (SPE)


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