quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Direitos humanos e a questão indígena no cinema

Os direitos dos povos indígenas são foco sempre pertinente quando o assunto é cidadania. Assim como diversas linguagens artísticas, o cinema também volta o olhar para o tema e é capaz de criar distâncias, proximidades e gerar reflexões profundas sobre cada um de nós, a partir das representações que oferece. Alguns curtas com essa temática podem ser vistos no 27º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, realizado entre esta quarta (24.08) e 04 de setembro, na capital paulista.

A produção registra a campanha de candidatura do cacique Ládio Veron, que lança candidatura a deputado federal nas Eleições 2014, sob ameaças do Agronegócio. Contra É o caso de Índios no Poder, do realizador Rodrigo Arajeju, que resgata a trajetória de Mario Juruna, primeiro – e até agora único – indígena eleito deputado federal no Brasil. Sem representante no Congresso Nacional desde a redemocratização, as Nações Indígenas sofrem golpes da Bancada Ruralista aos seus direitos constitucionais. a PEC 215 (que propõe a demarcação de terras indígenas do Executivo para o Legislativo, proíbe a ampliação de terras já delimitadas e garante indenização a fazendeiros), seu slogan de campanha é “Terra, Vida, Justiça e Demarcação”.

Outra obra audiovisual selecionada para o evento e que fala sobre cidadania e cultura indígena é Mitã Odjau Ramo – Quando a Criança Nasce, do realizador Ricardo Sá. O curta mostra duas mulheres que decidem romper com uma tradição para dar à luz a seus bebês em um hospital perto da aldeia. O filme foi feito nas Aldeias Guarani do ES que ficam próximas à vila de Santa Cruz, que exerce muita influência no modo de vida dos índios ao aproximá-los dos hábitos da sociedade não-indígena, urbana. Para outros detalhes sobre o 27º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, acesse o site do evento.

Mais questão indígena na telona

O cinema nacional brasileiro aborda a temática indígena há anos. Entre as produções recentes, destaque para a A Nação que não esperou por Deus, da cineasta Lucia Murat,  lançado em 2015.  O longa foi filmado em 2013/2014 na aldeia dos índios Kadiwéu, no Mato Grosso do Sul, mesmo cenário para Brava Gente Brasileira, em 1999. O novo longa mostra as transformações que os Kadiwéu passaram durantes esses 15 anos: a chegada da luz elétrica, a televisão, as novelas e entretenimento. Foram criadas cinco igrejas evangélicas, sendo todas elas lideradas por pastores índios. A Nação que não esperou por Deus também mostra que os Kadiwéu voltaram a defender a demarcação de terras, retomando áreas no poder dos pecuaristas da região. Na época da estreia do longa, o Tela Brasil conversou com a diretora.

A grande novidade no contexto mais contemporâneo da produção de imagens sobre o índio é a emergência de trabalhos de realizadores indígenas. É o caso do diretor Leo Mura que, no curta Ser ou Não Ser, aborda uma espécie de negação da etnia como forma de sobrevivência. A produção ganhou o 5º Concurso de Roteiro do Amazonas Film Festival, em 2010. Em  Wayná: Lágrimas  de Veneno. Já Zezinho Yube, da comunidade huni kui, no Acre, traz no currículo diversas obras, entre elas, Kene Yuxi, As voltas do Kene, que já ganhou menção honrosa do no Forumdocbh, importante mostra mineira dedicada ao cinema documental.

Ainda sob a perspectiva do protagonismo, o Vídeo nas Aldeias (VNA) é um projeto precursor na área de produção audiovisual indígena no Brasil. Foi criado em 1986 por Vincent Carelli, com o propósito de apoiar as lutas dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais, por meio do audiovisual. A trajetória do Vídeo nas Aldeias permitiu criar um importante acervo de imagens sobre os povos indígenas no Brasil e produzir uma coleção de mais de 70 filmes, a maioria deles premiados nacional e internacionalmente, transformando-se em uma referência nesta área.

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