sábado, 13 de fevereiro de 2016

Com diálogos simples, cineasta coloca os próprios pais para atuar em filme que fala sobre a crise de relacionamentos longos


Um casal que vive há 35 anos juntos, na cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Bastante desgastado pelo tempo, o relacionamento dos dois se encontra em crise. Maria José, mesmo com problemas de saúde, resolve fazer uma viagem para Aparecida do Norte, como forma de pensar se o divórcio é mesmo a solução.  Essa é a história de Ela Volta na Quinta, primeiro longa do diretor André Novais, que chega aos cinemas de São Paulo, Rio e Belo Horizonte na quinta (25.02).

Produzido pela produtora Filmes de Plástico (que conta no currículo com Contagem, de Gabriel Martins e Maurilio Martins, ganhador do prêmio de Melhor Direção em Brasília; Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides, de Gabriel Martins, selecionado para diversos festivais de cinema do Brasil e do mundo, como Janela Internacional de Cinema do Recife, Clermont-FerrandRotterdam e outros; e Fantasmas e Pouco Mais de um Mês, ambos de André), o longa estreou mundialmente no 25º FID Marseille, em julho de 2014, recebeu os prêmios de melhor ator e atriz coadjuvante pelas atuações de Renato Novais e Élida Silpe no 46º Festival de Brasília. Também recebeu os prêmios de melhor filme no X Panorama Coisa de Cinema de Salvador e melhor filme na VII Semana dos Realizadores do Rio de Janeiro.

Com um orçamento de curta-metragem (R$ 87 mil), Ela Volta na Quinta segue a mesma linha utilizada nos curtas-metragens anteriores de André, em que a direção é centrada em planos e diálogos simples, inspirados no cotidiano dos familiares do próprio diretor. O elenco do longa de ficção é composto pela mãe, pai e irmão de André, além do próprio diretor. Para ilustrar o enredo, a tradicional cena de qualquer família que faz refeições na mesa da cozinha, o cachorro no quintal, o momento de assistir ao jornal na noite na TV da sala, a conversa entre os filhos do casal sobre a situação dos pais, a conversa entre mãe e filho sobre futuro profissional. Na trilha sonora, de Jair Naves a Roberto Carlos.

Portal Tela Brasil conversou com o diretor André Novais sobre o processo de criação de Ela Volta na Quinta além de refletir sobre o atual cenário do cinema nacional.

Como surgiu a ideia para a criação de Ela Volta na Quinta?
Surgiu de observações de casais de idosos de periferia que possuem relacionamentos longos e duradouros e que nem sempre estão bem dentro desses relacionamentos.

Embora seja uma produção ficcional,  o espectador tem a sensação que o longa é um documentário e que ele está, a todo momento, observando as cenas. Você teve alguma referência para conduzir  o Ela Volta na Quinta dessa maneira?
Acho que tem a coisa da maneira das atuações da minha família. Como eles estão bem à vontade e os diálogos se aproximam da maneira como eles falam normalmente na vida real acaba que passa na atuação uma certa naturalidade. A maneira de filmá-los também passa isso. Geralmente são planos que estão mais próximos deles, que tentam dar tempo ao tempo deles. As influências são várias. Tem muita coisa do cinema brasileiro contemporâneo. Gosto muito dos filmes dos meus próprios amigos, mas também o filme tem influências de Abbas Kiarostami e Charles Burnett.

O casal protagonista é vivido pelos seus próprios pais, seus familiares e você também atuam no filme.  Qual foi a reação dos seus pais ao serem convidados a participar do filme?
Meus pais já tinham participado de um curta metragem que eu tinha dirigido, que era mais documental, mas que acabou que nem ficou pronto. Eles já tinham essa experiência com a câmera e sabiam das coisas que a nossa produtora, Filmes de Plástico, já tinha feito. E nos nossos filmes já atuaram muitos dos nossos amigos e parentes, e não acaba que não foi uma surpresa tão grande pra eles quando foram chamados, por que era algo que já acontecia no nosso meio, de certa forma.

Como foi o processo de produção?
Foi uma produção tranquila em partes. Pela falta de verba e também pela vontade de manter a equipe reduzida para não assustar meus pais que iriam atuar, acabou que tivemos que acumular algumas funções e isso foi muito cansativo para alguns membros da equipe. Mas no geral foi um set mais pra tranquilo. Foram 15 diárias e 2 folgas.

É comum que pessoas da sua família e convívio social atuem nas produções da Filmes de Plástico. Conte como teve essa ideia.
Isso se deu de uma forma bem natural. Em outros filmes da Filmes de Plástico nós já tínhamos colocado amigos e parentes para participarem e essa escolha foi só um resultado de algo que já estava sendo feito dentro da produtora. A ideia do filme impulsionou também a coisa de chamá-los também.

De alguns anos para cá, é notável que  o cinema brasileiro está ganhando mais espaço. Acredita que ainda há algo a melhorar?
Uma das coisas a ser melhorada são os recursos para a produção. A história do cinema brasileiro mostra que o cinema do Brasil passa sempre por altos e baixos numa espécie de ciclo, onde se tem incentivos suficientes para o avanço da produção e depois algo acontece que isso acaba e a engrenagem pára por um tempo. Estamos num momento que a engrenagem está girando e que não podemos parar novamente.

Quais suas referências no cinema brasileiro e mundial?
São muitas. Difícil falar alguns, mas falando só de alguns posso citar Andrea Tonacci, Leon Hirszman, Carlos Alberto Prates Correia.

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