Se o fotógrafo Sebastião Salgado está certo quando diz que “as pessoas são o sal da terra”, o projeto Cinema e Sal é a representação prática do desejo de colocar o ser humano no centro da narrativa. Mais do que isso, colocar a criança no centro da narrativa. Afinal, se ensinamos as crianças a linguagem da escrita e da fala, por que não capacitá-la a se comunicar por imagens? A cineasta baiana Lara Belov, diretora geral do projeto, nasceu perto do mar e certo dia teve um insight: “o cinema é salgado”. Juntou-se então a outras duas mulheres cineastas, Cecília Amado e Jamille Fortunato, para colocar o Cinema e Sal em prática, com poucos equipamentos em mãos e um turbilhão de ideias na cabeça. O projeto foi contemplado pelo Edital Setorial de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e financiado pelo Fundo de Cultural e Secretaria da Fazenda. O Cinema e Sal abrange a região do arquipélago de Cairu, nas comunidades de Monte Alegre, Cairu e Garapuá,na Bahia, e tem o objetivo de aliar educação e audiovisual para capacitar crianças e jovens com idades entre 10 e 14 anos, a serem a um só tempo as protagonistas e narradores de sua própria história. Os alunos participam de oficinas para produção de curtas, oficinas de formação de público, exibição de filmes, debates e da criação de um portal que hospedará os curtas feitos pelas crianças e outros materiais sugeridos por usuários. Os conteúdos produzidos foram exibidos em mostras ao ar livre abertas à população. Ao fim do projeto, será criado um portal para abrigar o material produzido pelas crianças. “O que o Cinema e Sal propõe é que, através do estímulo e capacitação, essas histórias possam ser contadas desde dentro da comunidade. O projeto é também uma ferramenta de luta contra a lacuna existente na educação infantil lúdica, voltada ao estímulo à imaginação e criatividade. Uma ação sociocultural, que valoriza a identidade e fortalece os vínculos da comunidade”, explica Lara no blog do projeto. Para Lara, é importante estimular nas pessoas, principalmente em lugares turísticos como as ilhas Cairu, o olhar para o cotidiano real, que vai muito além da experiência turística de quem passa uma semana no local. O Cinema e Sal é exemplo vivo de como o cinema pode funcionar como uma eficiente ferramenta de autorrepresentação sociocultural, e tem levado a história dessas comunidades tradicionais baianas aos mais diversos cantos do Brasil e do mundo. Prova disso é o reconhecimento internacional do conteúdo: os filmes “Bom dia pé de coco!” e “Ciranda”, filmados pelas crianças de Cairu e Monte Alegre, ganharama as telonas e foram selecionados para a competição oficial do Nueva Mirada, maior festival de cinema infantil da Argentina. As crias do projeto vão circular também por festivais nacionais de cinema. “Terra dos peixes”, realizado pelas crianças de Garapuá, vai passar em competiçao no FICI (Festival Internacional de Cinema Infantil) e será exibido em Salvador, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo, Aracaju e Natal, entre setembro e novembro. “O mar, a mata e a humanidade”, realizado por crianças de Monte Alegre e Boipeba, vai estar na competitiva do Cachoeira DOC, em Cachoeira-BA, em setembro. Para quem estiver se perguntando se dali sairá uma futura safra de cineastas estimulados pelo projeto, o Cinema e Sal demonstra que o futuro importa menos do que os benefícios reais e imediatos que o projeto proporciona na vida das crianças envolvidas. Em entrevista recente à revista Capitolina, Lara revelou que a proposta principal criar uma relação com o audiovisual. “Acho que o desejo é justamente contribuir para que o audiovisual, que já é algo cotidiano de maneira passiva, seja cotidiano de maneira ativa, seja um direito do ser humano, não um privilégio ou objeto de vaidade. O projeto vai doar uma câmera GoPro e uma coleção de curtas baianos do cineclube Mario Gusmão doado pela Dima para cada ilha, um pequeno estímulo pra que as crianças possam continuar filmando”, explica. Para conhecer de perto as histórias do Cinema e Sal, acesse a página do projeto no Facebook e acompanhe as produções. |
terça-feira, 18 de agosto de 2015
“Cinema e Sal” leva audiovisual para crianças de comunidades tradicionais de arquipélago da Bahia
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