quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Sergei Eisenstein, muito mais do que um cineasta

Além de cineasta, Sergei Eisenstein foi um grande teórico e pensador do cinema. Ele foi o primeiro cineasta a refletir sobre a importância da montagem na definição de uma obra cinematográfica e participou ativamente da Revolução de 1917 e da consolidação do cinema como meio de expressão artística, fazendo parte do movimento de arte de vanguarda russa. Conhecido por seus filmes mudos A Greve (1924), o clássico O Encouraçado Potemkin (1925) e Outubro (1927), além do épico Ivan, o Terrível(1944/45), entre outros, sua obra influenciou os primeiros cineastas devido ao seu uso inovador de escritos sobre montagem.
De 12 de maio a 9 de junho será realizada no Museu da Imagem e do Som de São Paulo a oficina Eisenstein – A forma e o sentido do Filme, ministrada pela fotógrafa e cineasta Bella Tozini. O objetivo do curso é discutir como a edição de um filme se originou e como esses conceitos são pensados e aplicados hoje, na montagem e na construção de uma obra fílmica. Bella é fotógrafa e cineasta, graduada em cinema pela FAAP com especialização em direção cinematográfica na Escola de Cinema de Lodz na Polônia. Ela estuda cinema há mais de 15 anos, com foco no cinema polonês pós-guerra. Segundo Bella “após o final da Segunda Grande Guerra, a Polônia foi ocupada pelos soviéticos e teve forte influência do cinema de Eisenstein”, conta.
O cineasta viveu em um momento de grandes revoluções políticas e sociais, além de ter vivenciado relevantes mudanças culturais e de mentalidade. A ordem social emergente se considerava política, revolucionária e científica, ideais que foram alicerces para a construção da arte e da técnica de Eisenstein. Segundo Bella Tozini, Eisenstein desenvolveu uma linguagem narrativa presente não só no cinema, mas também na televisão, nos quadrinhos  e em clipes musicais. “Ele foi pioneiro nas técnicas de edição e reflexões de como as imagens podem ser organizadas para servir não apenas à narrativa de um filme, mas também ao seu ritmo, ao seu tom e aos seus temas”, explica.
A utilização da montagem no cinema só começou a ser considerada também um processo de significação quando a sétima arte deixou de ser vista e trabalhada com um mero “teatro filmado”. Foi no início do século XX que o cineasta norte-americano D. W. Griffith percebeu e experimentou a possibilidade de se alterar ângulos e câmeras, para dar mais ritmo ao cinema, processo que Eisenstein chamou de montagem métrica e no qual se inspirou fortemente.
Eisenstein desenvolveu estudos teóricos aprofundados sobre o assunto e foi influenciado também por vários teóricos e profissionais, não só do cinema, como Vsevolod Meyerhold, importante figura do teatro russo no início do século XX, que foi determinante na maneira de Eisenstein preparar e orientar os atores não só nas peças teatrais que produzia, mas também no cinema. Aquilo que o cineasta classificou como “tipagem” foi uma característica exigida aos atores e predominantes nos filmes, e defende que o espectador possa reconhecer os personagens apenas observando o rosto dos atores. Dos diversos ensaios que escreveu, Bella Tozini considera duas coletâneas obrigatórias para quem quer conhecer e se aprofundar na obra de Eisenstein: O sentido do filme (1942) e A forma do filme (1949).  Estes textos são reflexões de suas experiências na realização de seus primeiros filmes e aplicação da sua Teoria da Montagem, suas imagens e textos continuam influenciando o modo de fazer e pensar o cinema em todo mundo”, recomenda.
O Encouraçado Potemkin é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos e uma obra-prima do cinema. Além desse clássico do cinema mundial, Bella Tozini indica para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de entrar em contato com a filmografia do cineasta, o primeiro longa A Greve, uma produção de 1924, “que ressalta em sua montagem um jogo de oposições de imagens que mostram o conflito de classes”.

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