quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Geraldo Motta conta como mesclou a carreira de filósofo com a de cineasta

O diretor Geraldo Motta está em cartaz com o longa-metragem O Senhor do Labirinto, uma ficção baseada no livro Arthur Bispo do Rosário – O senhor do labirinto, de Luciana Hidalgo, que roteirizou o longa ao lado de Motta. O filme conta a história do artista plástico nascido em Sergipe, considerado louco por alguns e gênio por outros, que viveu 50 anos enclausurado na Colônia Juliano Moreira, uma instituição psiquiátrica de Jacarepaguá (RJ).

A oportunidade de transformar a história do artista em filme surgiu durante a pré-estreia do longa anterior de Motta (O Risco: Lúcio Costa e a Utopia Moderna), para a qual Luciana foi convidada. “Ela me contou do livro e comentou que muitas pessoas pediam os direitos para fazer um filme de ficção com a história, e que ela gostaria que eu assumisse isso”. Assim, começaram uma parceria e roteirizaram o livro.

O que a princípio pareceu coincidência para o diretor, vem se tornando um possível traço de sua filmografia: o gosto por histórias de vida com algum caráter biográfico. O longa O Risco é um documentário sobre a vida do arquiteto Lúcio Costa. Segundo ele, em um primeiro momento não percebeu sua natural aproximação por histórias com “substrato real”, como ele mesmo colocou. “Gosto de desconstruir o indivíduo. O discurso é absolutamente polifônico, o tempo todo quero mostrar como é difícil reduzir um ser humano e uma história a um único sentido e ponto de vista. Quero mostrar que há várias possibilidades de leitura”, explica, deixando transparecer a clara influência da filosofia também na sua forma de fazer cinema.

A ligação com o audiovisual surgiu de forma casual, segundo o próprio cineasta, nunca idealizada por ele. Antes de se tornar diretor de cinema, Motta cursou faculdade de Filosofia no Rio de Janeiro e sua grande vontade era dar aula acadêmica de filosofia. Segundo ele, durante a própria faculdade já havia tido essa oportunidade e gostou tanto que decidiu seguir este caminho. Porém, no meio dos planos de Motta apareceu Murilo Salles, com a proposta de roteirizar o livro O Silêncio da Chuva, do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza. “Tive esse contato e começamos a escrever o roteiro juntos. O longa acabou não sendo concluído, mas ele gostou tanto do meu trabalho com ele, que me chamou pra ser assistente de direção dele”, lembra Motta. Foi exatamente assim, por acaso e de uma vez, que o filósofo se tornou assistente de direção, passou por várias funções na área do cinema e amadureceu profissionalmente na área.

Apesar da certa “facilidade”, por ter sido convidado a entrar no meio, Motta precisou passar por várias funções e aprender um pouco de tudo para conseguir seguir no mercado audiovisual. Segundo ele, muitas vezes ele ia para estúdios de gravação, ficava sempre perto de montadores e editores. “Sempre quis compreender o processo como um todo e isso foi muito importante para a formação do profissional que sou hoje”, conta. A curiosidade em aprender um pouco de tudo é essencial para qualquer profissional que quer trabalhar com cinema, principalmente para quem quer ser diretor. “Eu acho que quando você compreende o processo como um todo, você passa a ter mais critério para decupar o filme. O ponto de vista do montador é muito interessante e quando você ganha esse ponto de vista o seu filme ganha muito com isso”, afirma. Para Motta, quem quer trabalhar com cinema hoje em dia precisa, mais do que antes, aprender a ser criterioso. Com as facilidades que as novas tecnologias trazem para a produção cinematográfica, hoje em dia, é muito fácil ligar a câmera e fazer imagens a esmo. A pessoa filma tudo e acha que vai ter muito material, mas esquece que ter material não significa ter muito material”, afirma e completa: “Eu venho de uma geração em que a gente trabalhava no set com película. A gente tinha que ser muito rigoroso, pela própria dinâmica e pelo custo operacional da gravação de um filme”.

Para o ano que se inicia, Motta conta que em breve outro livro vai virar filme em suas mãos. Sem dar muitos detalhes vem trabalhando com um roteiro. “Uma amiga, a Bia Dias, está concluindo um livro sobre uma experiência pessoal e já comentou comigo sobre a vontade de transformar em filme, mas tudo ainda está muito indefinido”, contou. O projeto ainda não tem data para começar, mas o cineasta adiantou que essa ano já dá os primeiros passos.

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