sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Boyhood – o melhor filme de 2014



Sempre digo que não é bom criar expectativas com nada. Isso acaba engrandecendo a ideia de algo e o resultado final, mesmo sendo bom, pode acabar não agradando. Mas com Boyhood foi impossível não ficar ansioso com a estreia.
O projeto de Richard Linklater era muito ambicioso: filmar um filme por doze anos seguidos e com o mesmo elenco. Isso acabaria trazendo uma identidade ao filme, cujo roteiro envelheceria e avançaria de acordo com o envelhecimento dos próprios atores! Uma ideia genial, mas que também causou certo estremecimento. Coisa parecida já foi feita, mais recentemente no mediano Todos os Dias. E nunca deu muito certo. Afinal, filmar por um período tão longo poderia contar com uma série de problemas: desinteresse dos atores quando crescidos, morte de alguém, desistências, problemas com produção, etc. Mas nada aconteceu eBoyhood chegou aos cinemas perfeito.
A história é sobre todos nós. Sobre mim, você. Sobre todo mundo que teve uma boa infância e adolescência ou, até, para quem tem um filho passando por essas fases. Fases essas de descobrimento, tristeza e alegria, saber e ignorância. O filme, para isso, acompanha a vida de Mason (Ellar Coltrane), que começa o filme com apenas seis anos. Junto com ele, conhecemos sua irmã (Lorelei Linklater), a mãe (Patricia Arquette) e o pai (Ethan Hawke), que não mora com a família.
E aí já estão os dois primeiros acertos. A história acerta por não focar em nenhum momento ou complicação em específico, tornando-se um espelho da vida de qualquer um. Eu mesmo identifiquei-me com várias cenas ali retratadas. É um roteiro extremamente acertado – e forte candidato ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Já com isso, fica muito difícil não ganhar o espectador. Prova disso é quando o filme termina. A sensação é de que vi alguém – muito próximo – crescer e se desenvolver. E o final do filme deixa um vazio. Dava vontade de ir atrás do diretor e falar que eu queria ver o resto! Saber como a vida de Mason ia continuar. Era a magia do cinema. O melhor dela.
O outro acerto é em relação ao elenco. Apesar de Lorelei, filha de Linklater, ficar extremamente sem graça, todos outros atores compensam. Coltrane rouba a cena e acaba se fundindo com o personagem em tela. E Hawke e Arquette dão uma aula de interpretação. Acredito, aliás, que ambos têm grandes chances de uma indicação ao Oscar.
A fotografia do filme também é um espetáculo à parte. Muito bem elaborada e impactante, consegue criar um visual próprio ao filme de Linklater e causa até certa comoção em determinadas cenas. Outro fator que dá ainda mais pontos ao longa é a fantástica trilha sonora: uma seleção impecável de clássicos que pontuaram os doze anos de gravação. Ela, aliada a referências a cultura pop, conduz a trama e situa o espectador sobre o momento em que passa aquela cena ou as passagens seguintes. Nada muito didática. Pura intuição e imersão.
Agora, caro leitor, você deve estar se perguntando: ok, mas Boyhood é mesmo o melhor filme de 2014? Claro que isso é minha concepção. E muitos podem dizer que é muito cedo para tanto. Mas, a meu ver, Boyhood é o melhor filme que assisti na minha vida. Por todos os aspectos técnicos mencionados – atuações, roteiro, fotografia, trilha – mas, principalmente, por algo falado lá no começo: é um filme sobre todos.
Se alguém entrasse no meio da sessão do filme, poderia até achar que é um documentário. E é esse o ponto mais alto do filme e o grande acerto de Linklater. O filme – que funciona como uma cápsula do tempo sobre a vida de muita gente – acaba por se tornar um documentário sobre o envelhecimento. Sobre a difícil passagem da infância para a adolescência. E sobre o abismo que é a passagem deste último para a tão complexa e misteriosa vida adulta.
E mesmo tendo ainda tantos lançamentos com potencial pela frente, como O Hobbit e Êxodo,Boyhood se consolidou como o filme de 2014. Ganhou nota 100 no Metacritic, que reúne avaliações de críticos pelo mundo todo. Nota igual a clássicos como O Poderoso Chefão, O Mágico de Oz e Lawrence da Arábia. E acima de tudo, foi melhor que Interestelar, Garota Exemplar, Guardiões da Galáxia, X-Men, Planeta dos Macacos, Relatos Selvagense dezenas de outros longas que poderiam concorrer a este posto. E isso porque Boyhood é um filme feito por nós, para nós e sobre nós. Um filme para entrar para a história e, quem sabe, também entrar para a história de milhares de pessoas.
NOTA: 10

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