sábado, 8 de outubro de 2016

Mãe Só Há Uma – Crítica 2

Mãe só há uma poster

Anna Muylaert, a melhor contadora de ficção com cara de realidade.
Pierre está com dezessete anos, ele mora com a mãe Aracy e sua irmã, toca numa banda, beija meninos e meninas. Um dia descobre que sua mãe não é biológica e precisa conhecer sua nova família e mostrar quem ele é.

A diretora Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta?), no ano passado, nos brindou com o magistral Que Horas Ela Volta?, agora retorna com força total em Mãe Só Há Uma. A diretora continua olhando de longe e nos trazendo para perto das coisas que estão ao nosso redor e insistimos em não ver. Ela está se especializando nos contos familiares atuais, contos que podem estar nas nossas casas ou na do vizinho e que precisamos entender, perceber e abraçar, pois é tão fácil compreender a nossa vida e a dos outros, basta sentir “um querer bem”, é sentimento que transforma todo e qualquer pré-conceito que tenhamos.

Pierre é um garoto que está começando a descobrir quem ele é, mas é obrigado a mudar de ares, de movimento, de família…ele precisa continuar a sua percepção de mundo, mas de um mundo sem amarras e sem julgamentos. Ele não vai desistir. Em alguns momentos podem pensar que ele quer chamar a atenção, mas não, ele quer ser o que é. E isso todo mundo quer, nem todos têm a sua coragem.

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O novato Naomi Nero vive Pierre de um jeito ousado e simples nos gestos, um ator de olhar penetrante, adequado e convincente ao papel.Daniela Nefussi faz o papel das duas mães, como o título diz, mãe só há uma, e Nefussi é esplendorosa nas duas em uma, na fragilidade, no amor, no leve desespero. Uma atriz para ficar de olho. Matheus Nachtergaele (Serra Pelada, Febre do Rato) é Mateus, o pai biológico de Pierre, que na ânsia de amar o que foi perdido está em ocasião de euforia e descoberta, precisa amar de verdade. O garoto Daniel Botelho é o irmão mais novo de Pierre, entregando vários ótimos momentos em cena. Trabalha feito gente grande.

O cinema de Anna Muylaert é cinema de inserção, nos inserimos naquele ambiente e aquele ambiente fica na gente e não sai mais. Em Mãe Só Há Uma, ela não entrega tudo de mão beijada, a maioria da ação fica nas entrelinhas, muitas coisas não são ditas e nem explicadas, cabe a cada um ter a percepção dos acontecimentos. Já em outras é de pura emoção e explosão de todos os sentimentos misturados. Com a cena do boliche ficando entre as melhores do cinema brasileiro.

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Nesse momento em que tanto se fala o que é família, o filme tem urgência em gritar, família é amor, não importando quem e como são os seus membros e, principalmente, o individual. Pierre ou cada um de nós podemos ser gay, heterossexual, assexuado, gordo, magro, o que quisermos, ou o que for melhor para cada um. E isso não se discute. O respeito vem em primeiro lugar.

Mãe Só Há Uma é filme com muitas amarras nas ações e nenhuma amarra na sua condução. Toda cena é imprescindível, com final lindo e terno. A continuação se faz presente. Acreditemos na humanidade.

Nota do CD:
5 out of 5 stars

Sinopse:A vida do adolescente Pierre vira de cabeça pra baixo quando ele recebe uma denúncia e é obrigado a fazer um teste de DNA. Após o resultado, ele descobre que sua mãe não é sua verdadeira mãe e é obrigado a trocar de família, de nome, de casa, de escola… e de gênero?

FICHA TÉCNICA
Título Original: Mãe Só Há Uma
Ano de Lançamento: 2016
Gênero: drama
País de Origem: Brasil
Duração: 83 minutos
Direção: Anna Muylaert
Estreia no Brasil: 21/07/2016
Estúdio/Distribuidora: Vitrine Filmes
Elenco: Naomi Nero, Daniela Nefussi, Mateus Nachtergaele, Daniel Botelho, Lais Dias, Luciana Paes, Helena Albergaria, Luciano Bortoluzzi, Renan Tenca

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