segunda-feira, 8 de junho de 2015

"O Exterminador do Futuro", de James Cameron



O Exterminador do Futuro (The Terminator – 1984)

A franquia criada por James Cameron, a meu ver, morreu com o desfecho de “O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final”, um excelente filme de ação, uma das melhores sequências da história do cinema. Não dou a mínima para esse novo subproduto que estão lançando, “Genisys”, mais uma tentativa de espremer essa laranja para uma geração acostumada com muito barulho e pouca substância. Os dois anteriores, medonhos, provaram total ignorância dos produtores, desrespeitando a essência de filme B sci-fi do original, uma obra de horror, com um clima opressivo de pesadelo que não encontrei nos anteriores e, pelos trailers, acredito que não irei encontrar no novo. Então, sem mais delongas, irei voltar minha atenção para o original.

O roteiro é um exemplo de precisão, sem gordura extra, inteligentemente utilizando o baixo orçamento como ferramenta para construir suspense, valorizando sombras e insinuação, o monstro que parece mais ameaçador na imaginação do espectador. O ciborgue, vivido por Arnold Schwarzenegger, caminha lentamente, como os assassinos sobrenaturais dos slashers. E essa atitude incita no público, inconscientemente, a constatação aterrorizante: ele poderia correr mais rápido que qualquer humano, ele é superior, porém, ele prefere perturbar suas vítimas psicologicamente antes do ataque mortal. Quando ele persegue Sarah Connor, vivida por Linda Hamilton, quase sempre filmado de um ângulo baixo, ele se torna mitológico, aquele ser que se esconde embaixo da cama das crianças, o medo primitivo. E ela, vítima, acaba agindo como criança. O silêncio dele, recurso muito eficiente, intensifica sua presença física, aliado ao vermelho do olho robótico, uma cor que transmite fúria. É interessante como a produção escolheu um ator franzino, Michael Biehn, para viver Kyle Reese, alguém que foge completamente da imagem de herói de ação. O contraste físico entre essas duas forças em conflito é importante, outro elemento que parece ter sido ignorado no filme mais novo.

O trabalho magnífico de Stan Winston, responsável pela criação da icônica imagem do esqueleto metálico de T-800, ainda que esteja datado hoje, eu considero mais visualmente impactante que o produto da computação gráfica atual. Vale salientar também os interlúdios românticos, fotografados por Adam Greenberg em tom onírico, que transmitem a melancolia da relação do trágico casal, o senso de aniquilação à espreita, um clima comparável ao de “Blade Runner”. Antes mesmo de o público ser apresentado ao conceito do ciborgue, a fotografia monocromática em tom azul do filme já estabelece, sem auxílio de diálogos, a soberania das máquinas nas primeiras cenas. Não há qualquer tom de verde, por exemplo, somente a escuridão da noite. Quando Schwarzenegger aparece pela primeira vez, o espectador da época, ignorante sobre a trama, já tinha consciência de que estava diante de uma daquelas máquinas ameaçadoras. Cameron, em poucos minutos e com baixo orçamento, consegue dizer todo o necessário sobre o universo de seus personagens. A simples imagem do tanque passando por cima do crânio humano é mais eficiente que todas as explosões em computação gráfica dos filmes posteriores. 


* A editora "Darkside Books" está lançando a versão em romance do roteiro original, assinado pelo próprio James Cameron, em parceria com o roteirista Bill Wisher e o escritor Randall Frakes. O livro, como todos da editora, surpreende pela impecável apresentação. Além de ser imprescindível para os fãs do filme, ele fica lindo na estante.

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