segunda-feira, 9 de março de 2015

Waking Up in News America




Vista poucas vezes em exibição e fora do alcance do público há quase duas décadas, a instalação Waking Up in News America, do artista norte-americano Robert Heinecken (1931-2006), agora volta a rodar o mundo e ocupa uma sala inteira do MIS. Reconhecido mundialmente pelo seu trabalho experimental e inovador, o artista concebeu a obra em 1986 e, assim como seu legado, mesmo no contexto do século XXI, levanta questionamentos ainda contemporâneos sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa, em especial, a televisão.

A instalação investiga duas das grandes preocupações de Heinecken: os meios de comunicação e os efeitos da televisão enquanto veículo de massa. Waking Up in News America é uma sala, sugestivamente doméstica, em que absolutamente todas as superfícies – paredes, piso, teto e todos os objetos que compõem o ambiente ‒ são cobertos por imagens captadas da TV. O visitante pode caminhar livremente pelo espaço e experimentar a imersão pelo mundo de imagens proposta pelo artista.Pioneiro em explorar a saturação de imagens a que as pessoas são submetidas diariamente, Heinecken se apropriou de imagens captadas de modo bastante artesanal da própria televisão para gerar o invólucro que recobre a sala. Longe das tecnologias de hoje, ele pressionava papel de Cibachrome (tipo de papel fotográfico) na tela da TV e ligava e desligava o aparelho seguidamente para sensibilizar o papel. As imagens geradas são versões embaçadas das sequências de movimentos de apresentadoras de TV e fazem alusão direta ao movimento dadaísta de permitir que o material encontre por si sua forma final.Waking Up in News America, com imagens de apresentadoras principalmente loiras de olhos azuis, é uma peça por excelência dos anos 80 e uma declaração sobre a intromissão da televisão, suas fantasias e consumismo, tudo impulsionado pelo poder da mídia de unir linguagem e imagem. A instalação deve ser destruída após cada exibição, o que torna cada mostra um pouco diferente. Os objetos “escultóricos” nesta mostra são os mesmos usados na instalação de 2013, fabricados com a supervisão de Luke Batten, que, além de ter trabalhado diretamente com Heinecken na instalação de 1999, também consultou Ernesto Scott, que instalou pela 1ª vez a WakingUp in News America na UCLA em 1986. São ainda os mesmos objetos mostrados na Bienal de Gwangju 2014, Burning Down the House, com curadoria de Jessica Morgan. A viagem desta obra de Robert Heinecken, pela Califórnia, Coreia (Bienal de Seul) e agora Brasil, busca fazer jus ao legado do artista que faleceu em 2006, relativamente negligenciado nos últimos anos, e reviver sua obra. Em 2014, o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York organizou uma grande retrospectiva de seu trabalho, atualmente em cartaz no Hammer Museum (Los Angeles), e foi comparado a gigantes da arte conceitual, como John Baldessari, Cindy Sherman e Richard Prince. Apenas em 2014, obras do artista passaram ainda por Nova York, Los Angeles, Seattle e Cleveland, nos Estados Unidos, Gwangju (Coreia do Sul), Berlim (Alemanha), Bruxelas (Bélgica) e Freibourg (Suíça). 

Sobre o artista
Robert Heinecken nasceu em 1931 em Denver e cresceu em Riverside, Califórnia. Apesar de produzir um trabalho essencialmente fotográfico, foram poucas as vezes nas quais ele de fato tomou uma câmera nas mãos. Grande parte de seu trabalho foi gerada a partir de imagens preexistentes, como revistas, colagens, videogramas e fotogramas, o que fez com que ele se autodenominasse um “parafotógrafo”.  
 
Em 1962, ele fundou a disciplina de fotografia na UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) onde ensinou até 1991. Em 1964, ajudou a fundar a Sociedade para a Educação Fotográfica, uma organização de professores de nível universitário. Ele também ensinou na Escola do Instituto de Arte de Chicago, onde sua segunda esposa, Joyce Neimanas, estava na faculdade. Eles dividiram seu tempo entre as duas cidades por vários anos antes de se mudarem para o Novo México em 2004.
 
Atuando como designer gráfico e gravurista, Heinecken esteve por muito tempo interessado no modo como a percepção individual é moldada pelo noticiário, pornografia e propaganda, e lançou mão das imagens de TV e impressas por toda sua carreira. No fim dos anos 70, depois de uma série de eventos em sua vida, incluindo um incêndio que destruiu seu estúdio em 1976, Heinecken seguiu por um novo caminho e injetou sua própria subjetividade como objeto a trabalhar, propositalmente apagando as linhas que separavam quem ele era e quem ele tinha assumido ser por conta das mensagens midiáticas que lhe circundavam e formavam a vida visual norte-americana.  
 
Durante sua vida ele foi mostrado principalmente em galerias de fotografia tradicionais, mas duas galerias de arte contemporânea de Los Angeles começaram a expor seu trabalho após a sua morte em 2006: Marc Selwyn Fine Art e Cherry and Martin. Curadores como Eva Respini do MoMA de NY colocam o seu trabalho em uma linha de arte conceitual comparada ao de gigantes como Cindy Sherman, John Baldessari e Richard Prince.
 
De março a junho de 2014 uma retrospectiva da obra de Robert Heinecken foi apresentada no MoMA de NY e, em seguida, no Hammer Museum, de Los Angeles. Diversas outras mostras, individuais ou coletivas, do artista tomaram conta de museus no mundo todo
Curadoria: Danniel Rangel     Produção: Mega Cultural     Patrocínio: SKY

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