sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Resenha do Filme: Relatos Selvagens

 

Filmes que apresentam diversas histórias, como se fossem um livro de contos, não são tão comuns no mundo do cinema. Geralmente nos deparamos com os longas-metragens de narrativa única. Contar essas histórias utilizando-se da raiva, da selvageria e da violência dos seres humanos faz com que assistir a película argentina “Relatos Selvagens” se torne um exercício de catarse coletiva.

Ao longo do filme nos deparamos com seis relatos onde não há personagens e histórias que se cruzem – apenas o revelar da verdadeira face do ser humano. Em suas curtas narrativas nos encontramos com os inimigos de um sujeito, reunidos, em um avião; a vingança no restaurante; a briga entre dois indivíduos pela estrada; um pai tentando livrar o filho; um engenheiro cansado da burocracia e uma festa de casamento bem conturbada.

O filme é regrado ao humor negro e a sátira social, além de uma sensação de libertação por parte do público. Os personagens são assassinos, corruptos, passionais, vingativos e justiceiros, mas nenhum deles passa pelo julgamento do certo ou errado. A boa construção do roteiro é notada em cada história. Logo no início, mesmo antes dos créditos, nos é apresentado um grupo de pessoas em um voo onde todos têm um único conhecido em comum. O fato instiga a curiosidade do espectador, com surpresa e clímax ideal.

O bom roteiro é mérito do próprio diretor, Damián Szifron, que escreve e dirige o filme. Szifron pertence à nova safra de cineastas argentinos, tendo em seu currículo dois longas, “Tempo de Valentes” e “O fundo do Mar”. Seus maiores trabalhos estão na televisão argentina, na direção e no roteiro de séries como “Irmãos e detetives” e “Simuladores”, essa última, chegou a passar no Brasil.

Outro aspecto interessante no roteiro que o diretor nos apresenta é dar vida a personagens que nos satisfazem, já que realizar determinados desejos não cabe em uma sociedade. Bom exemplo está na história estrelada pelo astro argentino Ricardo Darín (“O segredo dos seus olhos”) que se vê enquadrado por um sistema ao qual é obrigado a seguir, o Departamento de Multas de Trânsito. Ele sempre esbarra na burocracia e/ou nos atendentes “robôs” dos guichês que de nada adiantam para resolver seu problema, o levando a tomar medidas extremas para se vingar da máquina de fazer dinheiro com multas.

Nessa mesma história, vemos sua mulher a certa altura falar para ele, cansada de seus atrasos,: “A sociedade não vai mudar, e nem você”. Mais adiante, um senhor na fila das multas o adverte, “ou você paga, ou seu coração arrebenta”. Tal conformismo é notório em nossa sociedade atual, que em sua maioria aceita o que lhe vem pronto, por qual seja o motivo.

Assim como Darín, outros personagens estão sempre sendo enquadrados pelas situações: Os inimigos de Gabriel Pasternak pelo avião e suas poltronas; A vítima que encontra com seu algoz pela cozinha e sua cozinheira; Os motoristas da estrada por seus carros; O pai tentando livrar a cara do filho, pela extorsão e, por fim, a noiva pela traição.

O longa foi muito festejado no Festival de Cannes desse ano, fez sucesso na Mostra Internacional de São Paulo e entre o público argentino. A película é o representante da Argentina que vai tentar uma vaga entre os cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2015. O filme foi produzido pelos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar, sim o diretor espanhol de sucessos como “Fale com Ela” e “Tudo sobre minha mãe”, através de sua produtora “El Deseo”.

Outro nome de destaque fica por conta da trilha sonora assinada por Gustavo Santaolalla, colaborador de diretores como Alejandro Gonzales Iñaritu (Amores Brutos), Walter Sales (Diários de Motocicleta) e Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain) . O músico tem dois Oscar em sua bagagem.

O elenco também passeia pelos destaques argentinos. Além de Darín, nomes como Erica Rivas, Darío Grandinetti, Oscar Martínez e Diego Gentille são conhecidos do público que costuma acompanhar as produções dos hermanos.
Em sua completa produção, “Relatos Selvagens”, prima pelo capricho pelo qual retrata suas histórias e na forma que vai aliviando o espectador ao longo que se passa. Os relatos podem até ser selvagens, mas selvagens mesmo são os humanos que os cometem.

Nota do CD:
5 out of 5 stars

Nota dos Leitores:

FICHA TÉCNICA:
Título no Brasil: Relatos Selvagens
Título Original: Relatos Salvajes
Ano de Lançamento: 2014
Gênero: Comédia, drama
País de Origem: Argentina
Duração: 122 minutos
Direção: Damián Szifron
Estreia no Brasil: 23/10/2014
Estúdio/Distribuidora: El Deseo S.A/ Warner Bros.
Idade Indicativa: 16 anos
Elenco: Ricardo Darín, Darío Grandinetti, Diego Gentile, Diego Velázquez, Erica Rivas, Julieta Zylberberg, Leonardo Sbaraglia, Liliana Ackerman, María Marull, María Onetto, Mónica Villa, Nancy Dupláa, Oscar Martínez, Osmar Núñez, Ricardo Truppel, Rita Cortese
Roteiro: Damián Szifron
Produção: Agustín Almodóvar, Esther García, Hugo Sigman, Matías Mosteirín, Pedro Almodóvar

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