sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Cacau Rhoden conta como faz audiovisual “brincando”

Nascido em Curitiba em 1974, Cacau Rhoden decidiu cedo trabalhar no audiovisual. Foi amor à segunda vista, ele conta. “A primeira vez que fui ao cinema eu tinha 13 anos, mas não lembro o nome do filme e dormi no meio da sessão. Voltei com 15 para ver Sonhos, do Kurosawa, e saí da sala hipnotizado, com a certeza que queria aprender como se fazia cinema”.

Logo em seguida Rhoden conseguiu estágio em uma produtora por indicação de uma amiga mais velha. Começou varrendo o set e servindo café mas virou Diretor de Produção aos 21 anos. A produtora, SIR, era uma das maiores do Brasil à época e, como suas concorrentes, era mais dedicada à produção de filmes publicitários e institucionais, já que a produção cinematográfica nacional era insipiente.

Com esse histórico “mão na massa”, Rhoden nem optou por estudar. Ele chegou a ingressar no curso de Belas Artes, mas não concluiu. “Era gostoso fazer produção. Perdi a conta de quantos jobs eu fiz. Até que um dia eu comecei a achar que deveria fazer outra coisa da vida. Em 1995 cheguei a trabalhar com marketing por três meses mas não teve jeito, voltei pra produtora, só que dessa vez como Assistente de Direção ”.

Nessa época ele se envolveu em inúmeros projetos, no cinema inclusive. Em 2003 foi produzido Infinitamente Maio, um curta que mostra a história de Raul chega em casa e encontra sua mulher fazendo sexo com outro. Em 2005 dirigiu Meninos de Areia,“uma alegoria sobre duas crianças que têm um relacionamento ambíguo num universo absurdo de sonhos e pesadelos” – explica e Gotas que conta a história de uma mulher que, durante uma tempestade, espera de gota em gota a chuva parar.

Rhoden ressalta que, entretanto, era a publicidade que pagava suas contas. “Devo muito à publicidade, não só o meu sustento, mas capacitação técnica, vivência de set”. O diretor ganhou mais destaque no meio audiovisual esse ano. O documentário Tarja Branca – A revolução que faltava, foi exibido nos festivais de cinema em Los Angeles, Pequim, Algarve, Barcelona e ganhou o prêmio de melhor documentário no BrazilianFilm & TV Festival of Toronto.

O projeto nasceu a convite da produtora Maria Farinha. O documentário intercala depoimentos de diferentes especialistas que refletem a relação do homem contemporâneo com o seu espírito lúdico e fala sobre a importância do brincar no desenvolvimento da criança. O conteúdo acaba por gerar um debate com reflexões sobre a criança que existe em cada um de nós e apresenta o “brincar” como um dos atos mais ancestrais desenvolvidos pelo homem para se conhecer melhor e relacionar com o mundo.

“Ele não propõe um resgate a uma infância que foi perdida. Não é isso. Você resgata os anseios que tínhamos quando éramos novos. E lembrarmos do olhar curioso que tínhamos em relação ao mundo e ao outro. ” – explica o diretor.

O projeto é interessante não só pelo resultado final, que mereceu até prêmio internacional, mas o processo de criação também se destaca. Rhoden conta que o filme começou pequeno e foi ganhando tamanho ao longo da sua pesquisa de preparação. “Senti a necessidade de entender porque essas figuras se auto intitulam como brincantes, porque chamam as manifestações de meu brinquedo, por exemplo, “o maracatu é o meu brinquedo”, “a capoeira é o meu brinquedo”, “vamos brincar o carnaval”. Esse foi o embrião do que viria a se tornar o filme. Na verdade, durante a pesquisa a gente percebeu que nosso trabalho era revelar nossa descoberta, porque o filme já estava pronto”.

O futuro ainda está sendo desenhado em sua cabeça. “Temos material excedente para transformar o Tanja Branca em uma série de TV. Além disso estou trabalhando em outros dois ou três argumentos de séries. Mas não importa qual seja meu próximo projeto, ele será influenciado pelo Tarja Branca, porque ele me relembrou como é gostoso trabalhar e brincar ao mesmo tempo”.

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