segunda-feira, 3 de novembro de 2014

As influências literárias em O Rei de Amarelo e o seu legado

O Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers, teve sua primeira tradução para o português publicada este ano pela editora Intrínseca. Ele surge como uma “nova-velha” obra: foi publicado em 1895, influenciou diversos autores posteriores, como nós veremos a seguir, mas recebeu influência de outras obras e correntes literárias no próprio século XIX em que foi escrito. E está sendo redescoberto agora.

Chambers trouxe à tona nesta coletânea de contos um gênero literário que, posteriormente, passou-se a nomear weird fiction, um terror cósmico. Nos contos interligados do autor encontramos uma mistura de enredo futurista com a atmosfera decadentista do final do século XIX. Os quatro primeiros contos têm em comum, no enredo, uma peça de teatro que enlouquece aqueles que a lêem, e ela se chama também O rei de amarelo.

Ler a obra de Chambers é quase o mesmo trabalho que o de um detetive, mas decifrar o discurso presente no livro dentro da chamada Mitologia amarela é um desafio distante de ser concluído. Por isso, a ideia desta lista ainda não é identificar somente o que seria essa Mitologia Amarela – que, mais tarde, surgiu como o chamado Mito de Hastur, Carcosa ou de Cthulhu, o conjunto de deuses “antigos” e lendas criadas por Lovecraft – mas mostrar quais foram as influências que Chambers pode ter recebido e quais ele originou. Além disso, a ideia é trazer obras que não são muito populares e ir recriando o cenário amarelo.

Durante a leitura da obra, o que ocorre é que podemos entender o conteúdo da peça O rei de amarelo como transgressora: ela inaugura uma nova realidade na vida do personagem, na qual vemos que a existência humana é mais complexa e frágil do que o cenário social poderia indicar. Nem por isso a peça será uma benfeitora na vida do personagem. Ela transgride suas certezas e noções da vida mundana para mostrar a ele que a vida não é constituída por fases a ser superadas ou meras reputações. Ela pode ser mais turbulenta porque se mistura a inúmeras vidas e passados, são realidades paralelas. Assim, é quase um sonho ininterrupto, com humanos passando por desesperos que são uma constante. Por isso, creio que a própria mente humana pode ser a Carcosa do Rei, constituída por fatos e sonhos. E o terror existe ao se constatar que estariam encarcerados numa vida que já carrega o sonho e a realidade sem divisões.

Assim, foi por meio das indicações das notas de rodapé feitas por Carlos Orsi na tradução para o português que passei a procurar as obras citadas por ele para entender o que seria Carcosa, Hastur, o rei, o verdadeiro terror que encontramos na narrativa. E acabei encontrando contos e livros que revelam quase uma tradição ao mencionar esses nomes. É o que você verá a seguir,  com os comentários da minha leitura das obras. É só clicar em “próximo” no topo da página.

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