quinta-feira, 2 de outubro de 2014

CRÍTICA DE FILME | O ESTOPIM





No dia 14 de julho de 2013, um domingo, pouco depois das 19h, o ajudante
de pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, foi retirado de casa por
policiais da UPP da Rocinha, em uma ação que muito se assemelhou às
prisões efetuadas durante a Ditadura Militar, nos anos 60 e 70. O objetivo,
segundo as autoridades, prestar alguns esclarecimentos. Apesar dos apelos
da esposa Elizabete, não teve jeito. Ele foi levado e o resto é história. O pai
de família, querido por todos na comunidade, nunca mais foi visto e seus
familiares, como tantos outros no passado, não puderam vivenciar o luto e
enterrá-lo.

Calcado em muitos depoimentos, alguns emotivos, outros prenhes de uma
aguda crítica à política estatal do Governo Cabral, entre eles o do músico Mc
Leonardo, O Estopim, dirigido e roteirizado por Rodrigo Mac Niven, é um
documentário que soa panfletário devido ao fato de ser lançado às vésperas
das eleições, mas extremamente pertinente por não deixar cair no
esquecimento um crime oficialmente não resolvido.

Pertinente, também, foi a decisão de utilizar as imagens das câmeras de
segurança da Rocinha e os áudios internos da polícia, todos extraídos dos
arquivos do inquérito aberto contra os policiais da UPP. Neles, é possível ter
um último vislumbre de Amarildo vivo, algemado, sendo conduzido até um
carro patrulha. Contudo, o ponto alto talvez seja a reconstituição dos
momentos finais do ajudante de pedreiro. Não faz diferença sabermos que
se trata de uma encenação, a tortura é de angustiar o mais empedernido dos
espectadores.

Com um trabalho jornalístico da melhor estirpe, Mac Niven escancara e
denuncia a farsa montada pelos policiais. A tentativa de culpar a vitima, ao
rotulá-la como traficante, não funcionou e O Estopim se encerra com um
aviso, em forma de música, dado por Mc Leonardo.

Está tudo errado
É até difícil explicar
Mas do jeito que a coisa está indo
Já passou da hora do bicho pegar
Está tudo errado
Difícil entender também
Tem gente plantando o mal
Querendo colher o bem
Desliguem os celulares e boa diversão (ou reflexão).


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